A história de Boaz redimindo Rute é uma bela narrativa de amor, lealdade e providência divina. Ela é encontrada no Livro de Rute, que é um dos Livros Históricos do Antigo Testamento. Esta história se desenrola durante o tempo dos juízes, um período marcado por turbulências sociais e religiosas em Israel. Em meio a este cenário, o conto de Rute e Boaz brilha como um farol de fidelidade e do plano redentor de Deus.
Rute, uma viúva moabita, vem para Belém com sua sogra, Noemi, após a morte de seu marido. Noemi, também viúva, retorna à sua terra natal em Judá após uma fome em Moabe. A lealdade de Rute a Noemi é evidente desde o início, quando ela declara famosamente: "Para onde fores, irei; onde ficares, ficarei. O teu povo será o meu povo e o teu Deus será o meu Deus" (Rute 1:16, NVI). Esta declaração prepara o palco para a integração de Rute na comunidade israelita e sua eventual redenção por Boaz.
Boaz, um homem rico e influente em Belém, é apresentado como um parente do falecido marido de Noemi, Elimeleque. O conceito de um resgatador (hebraico: go'el) é central para entender o papel de Boaz. De acordo com a lei levítica, um resgatador tinha a responsabilidade de redimir um parente em dificuldade séria, o que poderia incluir redimir terras que um parente pobre havia vendido ou casar-se com uma viúva para preservar a linhagem familiar (Levítico 25:25-28; Deuteronômio 25:5-10).
Rute encontra Boaz pela primeira vez enquanto respiga em seus campos. A respiga era uma provisão na Lei de Moisés que permitia aos pobres e estrangeiros recolher grãos deixados durante a colheita (Levítico 19:9-10). Boaz nota Rute e aprende sobre sua lealdade a Noemi. Ele mostra bondade a ela, garantindo sua segurança e fornecendo grãos extras. As ações de Boaz refletem sua retidão e adesão às leis de Deus, que enfatizam o cuidado com os vulneráveis.
Noemi reconhece Boaz como um potencial resgatador e instrui Rute a se aproximar dele. Em um movimento culturalmente significativo e um tanto ousado, Rute vai até Boaz na eira, descobre seus pés e se deita. Este ato não é de sedução, mas um pedido de proteção e redenção. Rute diz: "Estenda a sua capa sobre mim, pois você é resgatador de nossa família" (Rute 3:9, NVI). Esta frase ecoa a linguagem da relação de aliança de Deus com Israel, onde estender a capa simboliza proteção e provisão (Ezequiel 16:8).
Boaz responde positivamente ao pedido de Rute, elogiando-a por sua bondade e integridade. No entanto, ele observa que há um parente mais próximo que tem o primeiro direito de redenção. O respeito de Boaz pela lei e pelo procedimento adequado é evidente enquanto ele busca resolver a questão de maneira honrosa. No dia seguinte, Boaz se encontra com o parente mais próximo no portão da cidade, um lugar onde as transações legais eram realizadas. Ele apresenta a oportunidade de redimir a terra de Noemi e casar-se com Rute. Quando o parente mais próximo recusa, temendo que isso possa comprometer sua própria herança, Boaz intervém para cumprir o papel de resgatador.
A redenção de Rute por Boaz envolve várias ações-chave. Primeiro, ele adquire legalmente a terra que pertencia a Elimeleque, o falecido marido de Noemi. Esta ação garante que a terra permaneça dentro da família e providencia para o futuro de Noemi. Segundo, Boaz se casa com Rute, preservando assim a linhagem familiar. Ao fazer isso, ele demonstra seu compromisso com a lei de Deus e sua compaixão por Rute e Noemi.
O casamento de Boaz e Rute resulta no nascimento de um filho, Obede, que se torna o avô do Rei Davi. Este detalhe genealógico é significativo, pois coloca Rute, uma moabita, na linhagem de Jesus Cristo. A inclusão de uma estrangeira na ancestralidade do Messias destaca o plano inclusivo e redentor de Deus para toda a humanidade.
A história de Boaz e Rute é rica em significado teológico. Ela ilustra o conceito de hesed, uma palavra hebraica frequentemente traduzida como "bondade amorosa" ou "amor constante". Hesed é um tema central no Livro de Rute, demonstrado através das ações de Rute, Noemi e Boaz. A lealdade de Rute a Noemi, a bondade de Boaz para com Rute e o cuidado providencial de Deus exemplificam hesed.
Além disso, a redenção de Rute por Boaz serve como uma prefiguração do trabalho redentor de Cristo. Assim como Boaz redime Rute, Jesus Cristo redime a humanidade. A disposição de Boaz de ir além da letra da lei para mostrar misericórdia e graça espelha o amor sacrificial de Cristo. Em Efésios 1:7, Paulo escreve: "Nele temos a redenção pelo seu sangue, o perdão dos pecados, de acordo com as riquezas da graça de Deus" (NVI). Este paralelo sublinha a continuidade do plano redentor de Deus do Antigo Testamento ao Novo Testamento.
Além disso, a história de Rute e Boaz enfatiza a importância da fé e obediência. A fé de Rute no Deus de Israel e sua obediência à orientação de Noemi a levam a Boaz. A fidelidade de Boaz à lei de Deus e sua disposição de agir com retidão resultam na preservação e bênção de sua família. Sua história encoraja os crentes a confiar na providência de Deus e a agir com integridade e compaixão.
Em conclusão, a redenção de Rute por Boaz é uma narrativa multifacetada que revela a fidelidade de Deus, a importância de hesed e a prefiguração do trabalho redentor de Cristo. Ela destaca a importância da fé, obediência e o poder transformador da graça de Deus. A história de Rute e Boaz continua a inspirar e instruir os crentes, lembrando-nos do amor inclusivo e redentor de Deus por todas as pessoas.