A Páscoa, conhecida como Pesach em hebraico, é um dos feriados mais significativos e amplamente observados no calendário judaico, comemorando a libertação dos israelitas da escravidão no Egito, conforme relatado no Livro do Êxodo. A celebração da Páscoa está profundamente enraizada nas tradições bíblicas, e sua observância é rica em simbolismo e ritual que foram meticulosamente preservados ao longo dos milênios. As instruções para celebrar a Páscoa são encontradas principalmente nos capítulos 12 e 13 de Êxodo, com detalhes adicionais em Levítico, Números e Deuteronômio.
As origens da Páscoa são detalhadas em Êxodo 12, onde Deus instrui Moisés e Arão sobre como os israelitas devem se preparar para sua iminente partida do Egito. O evento central da Páscoa é a "passagem" dos lares dos israelitas pelo anjo da morte, que foi enviado para matar o primogênito em cada casa egípcia. Os israelitas foram poupados porque seguiram o comando de Deus de marcar os batentes das portas com o sangue de um cordeiro sacrificial.
Um dos principais elementos da celebração bíblica da Páscoa é o sacrifício de um cordeiro. De acordo com Êxodo 12:3-6, cada família deveria selecionar um cordeiro no décimo dia do primeiro mês (Nisã) e mantê-lo até o décimo quarto dia. O cordeiro tinha que ser sem defeito, um macho do primeiro ano, simbolizando pureza e inocência. Na noite do décimo quarto dia, o cordeiro deveria ser abatido, e seu sangue aplicado aos batentes e à verga de cada casa. Este ato de fé e obediência era crucial para a proteção dos israelitas:
"E tomarão do sangue, e pô-lo-ão em ambas as ombreiras, e na verga da porta, nas casas em que o comerem." (Êxodo 12:7, ESV)
O cordeiro deveria então ser assado e comido naquela mesma noite. Todo o cordeiro tinha que ser consumido, e quaisquer sobras deveriam ser queimadas pela manhã. Esta refeição deveria ser comida apressadamente, com os participantes vestidos para viagem, simbolizando sua prontidão para deixar o Egito a qualquer momento (Êxodo 12:8-11).
Outro componente chave da refeição da Páscoa é o pão ázimo, ou matzá. Em Êxodo 12:15-20, Deus ordena aos israelitas que removam todo o fermento de suas casas e comam apenas pão ázimo por sete dias. Este pão, feito sem fermento, simboliza a pressa com que os israelitas tiveram que deixar o Egito, não tendo tempo para deixar a massa crescer. A Festa dos Pães Ázimos começa na noite da Páscoa e continua por sete dias:
"Por sete dias comereis pães ázimos. No primeiro dia tirareis o fermento das vossas casas, porque qualquer que comer pão levedado, desde o primeiro dia até ao sétimo dia, essa alma será cortada de Israel." (Êxodo 12:15, ESV)
Além do pão ázimo, os israelitas deveriam comer ervas amargas durante a refeição da Páscoa. Essas ervas, frequentemente identificadas como raiz-forte ou alface romana, simbolizam a amargura da escravidão que os israelitas suportaram no Egito (Êxodo 12:8).
Com o tempo, a celebração da Páscoa evoluiu para uma refeição cerimonial conhecida como Seder, que significa "ordem" em hebraico, refletindo a natureza estruturada do ritual. O Seder inclui a recontagem da história do Êxodo, a ingestão de alimentos simbólicos e a recitação de orações e bênçãos. Embora o Seder como é conhecido hoje seja mais detalhado do que as instruções bíblicas originais, seus elementos principais permanecem enraizados nas Escrituras.
O prato do Seder geralmente contém vários itens, cada um com seu próprio significado:
Durante o Seder, os participantes bebem quatro copos de vinho, cada um representando um aspecto diferente da redenção descrita em Êxodo 6:6-7:
Esses copos são parte integrante do Seder e são acompanhados por bênçãos e orações.
A Haggadah é o texto que guia o Seder de Páscoa. Inclui a narrativa do Êxodo, orações, hinos e comentários rabínicos. O propósito da Haggadah é cumprir o mandamento bíblico de contar a história do Êxodo aos filhos:
"E contarás a teu filho naquele dia, dizendo: É por causa do que o Senhor fez por mim, quando saí do Egito." (Êxodo 13:8, ESV)
A Haggadah garante que cada geração compreenda o significado da Páscoa e sua conexão com a libertação de seus antepassados.
As crianças desempenham um papel crucial na celebração da Páscoa. Um dos destaques do Seder é o "Ma Nishtana" ou "As Quatro Perguntas", tradicionalmente feitas pela criança mais jovem presente. Essas perguntas destacam os aspectos únicos da refeição da Páscoa e incentivam a recontagem da história do Êxodo. Esta prática enfatiza a importância da educação e da transmissão da fé e tradição para as futuras gerações.
Para os cristãos, a Páscoa tem camadas adicionais de significado, particularmente em relação à Última Ceia, que Jesus compartilhou com Seus discípulos. Esta refeição, frequentemente considerada um Seder de Páscoa, é descrita nos Evangelhos Sinópticos (Mateus 26, Marcos 14 e Lucas 22). Durante esta refeição, Jesus instituiu a prática da Comunhão, usando os elementos de pão e vinho para simbolizar Seu corpo e sangue, estabelecendo assim uma nova aliança:
"E, tomando o pão, e, havendo dado graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que por vós é dado; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue, que é derramado por vós." (Lucas 22:19-20, ESV)
O cordeiro sacrificial da Páscoa é visto pelos cristãos como uma prefiguração de Jesus, o "Cordeiro de Deus", cujo sacrifício traz libertação do pecado e da morte. O apóstolo Paulo faz esse paralelo em 1 Coríntios 5:7:
"Porque Cristo, nossa Páscoa, foi sacrificado por nós."
A Páscoa, conforme descrita na Bíblia, é uma celebração profunda da libertação e fidelidade de Deus. Seus rituais e símbolos servem como lembretes poderosos da jornada dos israelitas da escravidão para a liberdade. Para os judeus, é um momento de lembrar e celebrar sua história e identidade. Para os cristãos, também tem um significado cristológico, apontando para a redenção final através de Jesus Cristo. A observância duradoura da Páscoa ao longo dos milênios é um testemunho de sua profunda ressonância espiritual e cultural.