A questão de onde Moisés escreveu sobre Jesus no Antigo Testamento é fascinante, profundamente enraizada na rica tapeçaria da profecia bíblica e tipologia. Como pastor cristão não denominacional, abordo essa questão com reverência pelos textos sagrados e um desejo de iluminar as maneiras pelas quais o Pentateuco, ou Torá, prefigura a vinda de Cristo. Embora Moisés não tenha nomeado explicitamente Jesus, os escritos atribuídos a ele contêm inúmeras passagens que os cristãos acreditam apontar para o Messias e, por extensão, para Jesus Cristo.
Uma das primeiras e mais significativas profecias messiânicas é encontrada em Gênesis 3:15, frequentemente referida como o Protoevangelium, ou "primeiro evangelho". Após a queda do homem, Deus fala à serpente, dizendo:
"Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente dela; ele lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar."
Este versículo é visto como a primeira dica do evangelho, indicando um futuro descendente da mulher que derrotaria Satanás. Os cristãos interpretam isso como uma referência a Jesus Cristo, que, através de Sua morte e ressurreição, conquistaria o pecado e a morte. A imagem de esmagar a cabeça da serpente é simbólica de uma vitória decisiva, enquanto o ferimento no calcanhar sugere o sofrimento que o Messias suportaria.
Outra passagem chave é encontrada na promessa de Deus a Abraão em Gênesis 12:3:
"Abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e por meio de você todos os povos da terra serão abençoados."
Esta promessa é fundamental para entender a esperança messiânica porque indica que através da linhagem de Abraão, todas as nações receberiam uma bênção. O apóstolo Paulo, em Gálatas 3:8, conecta explicitamente essa promessa ao evangelho, afirmando que "as Escrituras previram que Deus justificaria os gentios pela fé e anunciou o evangelho antecipadamente a Abraão: 'Todas as nações serão abençoadas por meio de você.'" Os cristãos acreditam que Jesus é o cumprimento dessa promessa, trazendo salvação a todas as pessoas, tanto judeus quanto gentios.
Em Gênesis 22, encontramos a história da ligação de Isaac, conhecida em hebraico como a Akedah. Deus ordena a Abraão que sacrifique seu filho Isaac, mas no último momento, fornece um carneiro como substituto. Este evento é rico em significado tipológico. Isaac, o filho amado, carregando a madeira para seu próprio sacrifício no Monte Moriá, prefigura Jesus, o Filho amado de Deus, carregando Sua cruz para o Gólgota. O carneiro substituto aponta para a expiação substitutiva de Cristo, que morreu em nosso lugar. O escritor de Hebreus reflete sobre essa história em Hebreus 11:17-19, observando que a disposição de Abraão em sacrificar Isaac foi uma demonstração de sua fé na promessa de Deus de ressuscitar os mortos, uma promessa cumprida na ressurreição de Jesus.
A narrativa da Páscoa em Êxodo 12 é outro profundo prenúncio de Cristo. Deus instrui os israelitas a sacrificar um cordeiro sem defeito e aplicar seu sangue nos umbrais de suas casas. Quando o Senhor passar para ferir os egípcios, Ele verá o sangue e "passará por cima" dessas casas, poupando o primogênito de Israel. Este evento é comemorado anualmente no festival judaico da Páscoa.
O Novo Testamento faz uma conexão direta entre Jesus e o cordeiro pascal. João Batista identifica Jesus como "o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" (João 1:29). O apóstolo Paulo afirma explicitamente: "Pois Cristo, nosso cordeiro pascal, foi sacrificado" (1 Coríntios 5:7). Assim como o sangue do cordeiro pascal protegeu os israelitas da morte, o sangue de Cristo protege os crentes da morte eterna e do julgamento.
Em Números 21, os israelitas, murmurando contra Deus e Moisés, são punidos com uma praga de serpentes venenosas. Quando o povo se arrepende, Deus instrui Moisés a fazer uma serpente de bronze e colocá-la em um poste. Qualquer um que for mordido pode olhar para a serpente de bronze e viver. Este incidente é diretamente referenciado por Jesus em João 3:14-15:
"Assim como Moisés levantou a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todo o que nele crer tenha a vida eterna."
A serpente de bronze serve como um tipo de Cristo, levantado na cruz, proporcionando cura e salvação a todos que olham para Ele com fé.
Uma das profecias messiânicas mais explícitas atribuídas a Moisés é encontrada em Deuteronômio 18:15-19. Moisés diz aos israelitas:
"O Senhor, o seu Deus, levantará do meio de vocês, dentre os seus irmãos, um profeta como eu. Ouçam-no. Pois foi isso que vocês pediram ao Senhor, ao seu Deus, em Horebe, no dia da assembleia, quando disseram: 'Não queremos ouvir a voz do Senhor, do nosso Deus, nem ver mais este grande fogo, senão morreremos.' O Senhor me disse: 'O que eles dizem é bom. Levantarei do meio dos seus irmãos um profeta como você, e porei as minhas palavras na sua boca, e ele lhes dirá tudo o que eu lhe ordenar. Eu mesmo chamarei à conta todo aquele que não ouvir as minhas palavras, que o profeta falar em meu nome.'"
Esta profecia é entendida pelos cristãos como uma referência a Jesus, o profeta supremo que fala as palavras de Deus e revela Sua vontade perfeitamente. No Novo Testamento, Pedro e Estêvão citam essa profecia em referência a Jesus (Atos 3:22-23; Atos 7:37).
Os rituais do Dia da Expiação, descritos em Levítico 16, também prefiguram a obra de Cristo. Nesse dia, o sumo sacerdote entrava no Santo dos Santos para oferecer um sacrifício pelos pecados do povo. Dois bodes eram usados: um era sacrificado, e o outro, o bode expiatório, era enviado ao deserto, simbolicamente carregando os pecados do povo.
O escritor de Hebreus explica como esses rituais apontam para o sacrifício supremo de Jesus. Hebreus 9:11-12 afirma:
"Quando Cristo veio como sumo sacerdote dos bens que já vieram, ele atravessou o tabernáculo maior e mais perfeito, que não é feito por mãos humanas, isto é, não faz parte desta criação. Ele não entrou por meio do sangue de bodes e bezerros; mas ele entrou no Santo dos Santos uma vez por todas pelo seu próprio sangue, obtendo assim redenção eterna."
Jesus é tanto o sumo sacerdote quanto o sacrifício perfeito, cumprindo o simbolismo do Dia da Expiação ao oferecer-se para expiar os pecados da humanidade de uma vez por todas.
Em resumo, embora Moisés não tenha nomeado explicitamente Jesus, seus escritos no Pentateuco contêm inúmeras passagens que os cristãos acreditam apontar para o Messias vindouro. Desde o Protoevangelium em Gênesis 3:15 até a promessa a Abraão, a ligação de Isaac, o cordeiro pascal, a serpente de bronze, a profecia de um profeta como Moisés e os rituais do Dia da Expiação, a Torá é rica em prenúncios de Cristo. Essas passagens formam uma tapeçaria de esperança messiânica que encontra seu cumprimento final em Jesus, que os cristãos acreditam ser o Salvador e Redentor prometido. Os escritores do Novo Testamento, inspirados pelo Espírito Santo, revelam as conexões entre esses textos antigos e a vida, morte e ressurreição de Jesus, convidando os crentes a ver a continuidade e profundidade do plano redentor de Deus ao longo das Escrituras.