A questão de quais livros da Bíblia Moisés escreveu é fascinante e tem envolvido teólogos, historiadores e estudiosos por séculos. A visão tradicional, especialmente dentro do Judaísmo e do Cristianismo, sustenta que Moisés é o principal autor dos primeiros cinco livros da Bíblia, comumente referidos como o Pentateuco ou a Torá. Esses livros são Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Essa perspectiva está enraizada tanto em referências bíblicas quanto na tradição de longa data.
A atribuição desses livros a Moisés encontra sua base em várias passagens das escrituras. Por exemplo, no livro de Êxodo, está registrado que Moisés escreveu todas as palavras do Senhor (Êxodo 24:4). Em Deuteronômio, Moisés é descrito como escrevendo a lei (Deuteronômio 31:9, 24). Além disso, outros livros da Bíblia, como Josué e o Novo Testamento, referem-se a Moisés em conexão com a lei. Por exemplo, Josué 8:31 menciona o "Livro da Lei de Moisés", e o próprio Jesus se refere aos escritos de Moisés em passagens como João 5:46-47, onde Ele diz: "Porque se vocês acreditassem em Moisés, acreditariam em Mim, porque ele escreveu sobre Mim."
A visão tradicional sustenta que Moisés, sob inspiração divina, escreveu esses livros durante a jornada de 40 anos dos israelitas no deserto. Este período forneceu o contexto e o pano de fundo para grande parte da narrativa e da lei contida nesses textos. O Pentateuco não apenas narra a criação do mundo e a história inicial da humanidade, mas também detalha a formação de Israel como nação, o relacionamento de aliança de Deus com Seu povo e as leis que deveriam governar suas vidas.
Gênesis, o primeiro livro, é frequentemente visto como um prelúdio para a história de Moisés e o Êxodo. Ele cobre a criação do mundo, a história patriarcal e a descida dos israelitas ao Egito. Embora Moisés seja tradicionalmente creditado por compilar e escrever Gênesis, o próprio livro não o menciona explicitamente como seu autor. No entanto, a continuidade e os vínculos temáticos entre Gênesis e os livros subsequentes sugerem uma autoria comum.
Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio fornecem uma conexão mais direta com Moisés. Êxodo narra o nascimento de Moisés, seu chamado por Deus para liderar os israelitas para fora do Egito e a entrega da Lei no Monte Sinai. Levítico contém leis e regulamentos detalhados para adoração e santidade, muitos dos quais são apresentados como comunicações diretas de Deus a Moisés. Números continua a narrativa da jornada dos israelitas pelo deserto e inclui leis adicionais e dados de censo. Deuteronômio é principalmente uma série de discursos de Moisés, revisando a lei e a história de Israel enquanto se preparam para entrar na Terra Prometida.
Embora a tradição sustente Moisés como o autor, a erudição bíblica moderna introduziu uma visão mais complexa conhecida como a Hipótese Documentária. Esta teoria sugere que o Pentateuco é uma compilação de textos de múltiplas fontes, escritos ao longo de vários séculos. Essas fontes, frequentemente referidas como J, E, P e D, são consideradas reflexos de diferentes tradições e ênfases teológicas. Os defensores dessa visão argumentam que o Pentateuco como o temos hoje foi finalizado muito depois do tempo de Moisés, durante o período pós-exílico.
Apesar desses debates acadêmicos, a visão tradicional permanece influente em muitas comunidades religiosas. Ela enfatiza o papel central de Moisés como profeta, líder e legislador, escolhido por Deus para guiar Seu povo e registrar Suas leis e instruções. Essa perspectiva sustenta que o relacionamento único de Moisés com Deus, como descrito em passagens como Números 12:6-8, onde Deus fala com Moisés "face a face", o qualifica de forma única para ser o autor desses textos fundamentais.
A importância do Pentateuco nas tradições judaica e cristã não pode ser subestimada. Para os judeus, esses livros constituem a Torá, o núcleo de sua tradição religiosa e legal. Para os cristãos, o Pentateuco estabelece as bases para entender o plano de salvação de Deus, que se desenrola ao longo do restante da Bíblia. As leis, narrativas e temas teológicos introduzidos nesses livros ressoam ao longo das escrituras, influenciando os ensinamentos dos profetas, a literatura de sabedoria e o Novo Testamento.
Além das evidências escriturais, a crença na autoria mosaica é apoiada por séculos de tradição. Escritos judaicos e cristãos primitivos frequentemente atribuem o Pentateuco a Moisés. O Talmude, um importante texto judaico, apoia essa visão, assim como teólogos cristãos primitivos como Orígenes e Agostinho. A consistência dessa atribuição em diferentes culturas e períodos de tempo sublinha sua aceitação profundamente enraizada.
No entanto, reconhecer a possibilidade de trabalho editorial posterior ou fontes adicionais não necessariamente nega o papel de Moisés como o autor principal. É plausível considerar que Moisés escreveu o núcleo desses textos, com escribas e editores posteriores compilando, preservando e talvez expandindo seu trabalho para atender às necessidades de suas comunidades. Essa visão permite o reconhecimento tanto da autoria mosaica quanto da complexa história da transmissão do texto.
Em conclusão, embora a questão da autoria mosaica envolva considerações teológicas e acadêmicas, a visão tradicional sustenta que Moisés escreveu os primeiros cinco livros da Bíblia. Essa crença é apoiada por referências escriturais, tradição histórica e a influência duradoura desses textos na formação da fé e prática das comunidades judaicas e cristãs. Seja visto como o único autor ou como uma figura principal no desenvolvimento desses textos fundamentais, o legado de Moisés como profeta, líder e legislador é integral para entender o Pentateuco e seu lugar no cânone bíblico.