O Livro de Levítico, o terceiro livro do Pentateuco, é frequentemente considerado um manual de santidade. Ele fornece instruções detalhadas sobre como os israelitas deveriam viver de uma maneira que agradasse a Deus. Centrais a essas instruções são os vários tipos de ofertas que os israelitas foram ordenados a trazer ao Tabernáculo. Essas ofertas eram integrais ao seu culto e relacionamento com Deus, simbolizando expiação, ação de graças e compromisso. Nesta exploração, vamos nos aprofundar nos diferentes tipos de ofertas descritas em Levítico, entendendo seu significado e como deveriam ser realizadas.
A oferta queimada, ou "Olah" em hebraico, é a primeira oferta descrita em Levítico. Esta oferta era totalmente consumida pelo fogo no altar, simbolizando rendição completa e dedicação a Deus. O animal oferecido poderia ser um touro, uma ovelha, um bode ou um pássaro, dependendo do status econômico do ofertante. O ofertante deveria colocar sua mão sobre a cabeça do animal, simbolizando a transferência do pecado e a identificação com o sacrifício (Levítico 1:4). O animal era então abatido, e seu sangue era aspergido ao redor do altar. Este ato de aspergir sangue era significativo, pois representava a expiação pelo pecado, um tema que permeia todo o sistema sacrificial.
A oferta de cereal, ou "Minchah", era uma oferta de tributo feita de farinha fina, óleo e incenso. Ao contrário da oferta queimada, esta oferta não era para expiação, mas para ação de graças e dedicação. Parte da oferta de cereal era queimada no altar como uma porção memorial, enquanto o restante era dado aos sacerdotes para seu sustento (Levítico 2:2-3). Esta oferta poderia ser trazida em várias formas, como pão assado ou bolachas, e sempre tinha que ser temperada com sal, simbolizando a aliança entre Deus e Seu povo (Levítico 2:13). A ausência de fermento e mel na oferta de cereal destacava a pureza e sinceridade exigidas no culto.
A oferta de paz, ou "Zebach Sh'lamim", era um ato voluntário de adoração, simbolizando comunhão e comunhão com Deus. O animal oferecido poderia ser do rebanho ou do gado, e poderia ser macho ou fêmea, sem defeito. O ofertante deveria colocar sua mão sobre a cabeça do animal, abatê-lo, e então os sacerdotes aspergiriam seu sangue ao redor do altar (Levítico 3:2). Ao contrário da oferta queimada, apenas certas partes do animal, como a gordura e os rins, eram queimadas no altar. O restante da carne era compartilhado entre os sacerdotes e o ofertante, criando uma refeição comunitária que significava paz e comunhão com Deus (Levítico 3:16-17).
A oferta pelo pecado, ou "Chatat", era exigida para pecados não intencionais e transgressões específicas. Esta oferta enfatizava a gravidade do pecado e a necessidade de expiação. O tipo de animal oferecido variava dependendo do status do pecador. Por exemplo, um sacerdote ou toda a congregação tinha que oferecer um touro, enquanto um líder oferecia um bode macho, e um indivíduo poderia oferecer uma cabra ou cordeira fêmea (Levítico 4:3, 22, 27-28). O sangue da oferta pelo pecado era aplicado de diferentes maneiras: para sacerdotes e a congregação, era aspergido diante do véu do santuário e aplicado aos chifres do altar de incenso; para líderes e indivíduos, era aplicado aos chifres do altar de holocausto. O sangue restante era derramado na base do altar. Este ritual sublinhava a seriedade do pecado e a necessidade de purificação.
A oferta pela culpa, ou "Asham", era semelhante à oferta pelo pecado, mas era especificamente para casos onde era necessário fazer restituição. Esta oferta era para pecados contra as coisas sagradas de Deus ou contra outras pessoas, particularmente envolvendo engano ou fraude. O ofertante tinha que trazer um carneiro sem defeito e fazer restituição pelo erro cometido, adicionando um quinto do seu valor (Levítico 5:15-16). O sangue da oferta pela culpa era aplicado de maneira semelhante à oferta pelo pecado, e a gordura era queimada no altar. Esta oferta destacava a necessidade de reconciliação e de fazer reparações, não apenas com Deus, mas também com os outros seres humanos.
Levítico também enfatiza o papel dos sacerdotes nessas ofertas. Os sacerdotes atuavam como mediadores entre Deus e o povo, realizando os rituais e garantindo que as ofertas fossem conduzidas de acordo com as instruções de Deus. Eles eram responsáveis por aspergir o sangue, queimar as ofertas e consumir as porções que lhes eram atribuídas. O envolvimento dos sacerdotes sublinhava a santidade exigida ao se aproximar de Deus e a necessidade de seguir meticulosamente as instruções divinas.
As ofertas em Levítico carregam um profundo significado teológico. Elas apontam para a santidade de Deus, a seriedade do pecado e a necessidade de expiação. Essas ofertas não eram apenas práticas ritualísticas, mas atos profundamente simbólicos que ensinavam aos israelitas sobre a natureza de Deus e seu relacionamento com Ele. O sistema sacrificial também prefigurava o sacrifício supremo de Jesus Cristo, que, segundo o Novo Testamento, cumpriu e superou essas ofertas através de Sua morte na cruz (Hebreus 10:1-10).
Em resumo, os diferentes tipos de ofertas descritas em Levítico eram centrais para o culto e a vida religiosa dos israelitas. Cada oferta tinha seu propósito e simbolismo únicos, desde expiação e purificação até ação de graças e comunhão. Essas ofertas eram um meio para os israelitas expressarem sua devoção, buscarem perdão e manterem um relacionamento santo com Deus. Através dessas instruções detalhadas, Deus revelou Sua santidade, justiça e misericórdia, preparando o caminho para o sacrifício supremo de Jesus Cristo, que cumpriria a lei e proporcionaria um meio para a humanidade ser reconciliada com Deus.