Isaías 28:10 é um versículo que intrigou e confundiu muitos leitores da Bíblia. O versículo diz:
"Pois é: Faça isso, faça aquilo, uma regra para isso, uma regra para aquilo; um pouco aqui, um pouco ali." (NVI)
Compreender o significado deste versículo requer que nos aprofundemos no contexto mais amplo de Isaías 28 e nas circunstâncias históricas e espirituais que o cercam. Isaías, um dos principais profetas, estava se dirigindo aos líderes e ao povo de Judá durante um período de grande turbulência e julgamento iminente. Vamos explorar o versículo em seu contexto e desvendar seu significado.
Isaías 28 faz parte de uma série de profecias em que Isaías adverte o reino do norte de Israel e o reino do sul de Judá sobre seu julgamento iminente devido à sua desobediência e falta de fé em Deus. O capítulo começa com um "ai" aos líderes de Efraim (o reino do norte), que são descritos como estando bêbados e iludidos, levando seu povo ao erro (Isaías 28:1-4). A profecia então muda o foco para Judá, alertando-os para não seguir o mesmo caminho de arrogância e rebelião.
Nos versículos 7-13, Isaías se dirige aos sacerdotes e profetas de Judá, que também são retratados como estando embriagados e incapazes de cumprir seus deveres espirituais. Eles zombam da mensagem de Isaías, percebendo-a como simplista e repetitiva. Essa zombaria é capturada no versículo 10, onde os líderes ridicularizam o ensino de Isaías como mero balbucio: "Faça isso, faça aquilo, uma regra para isso, uma regra para aquilo; um pouco aqui, um pouco ali."
A frase hebraica "tsav latsav, tsav latsav, qav laqav, qav laqav" é frequentemente traduzida como "preceito sobre preceito, linha sobre linha, aqui um pouco, ali um pouco." Essa repetição imita o tom zombeteiro dos líderes, que descartam a mensagem de Isaías como infantil e excessivamente simplista. Eles estão essencialmente dizendo que os ensinamentos de Isaías são como as instruções básicas dadas às crianças, indignos de consideração séria.
A zombaria dos líderes reflete seu orgulho espiritual e cegueira. Eles estão muito autoconfiantes e complacentes para ouvir os avisos do profeta. Sua embriaguez simboliza sua corrupção moral e espiritual, que os torna incapazes de entender e aceitar a palavra de Deus. A mensagem de Isaías, embora direta, é profunda e essencial para seu bem-estar espiritual. No entanto, seus corações endurecidos e atitudes rebeldes os impedem de recebê-la.
Em resposta à sua zombaria e recusa em ouvir, Deus declara que falará com eles através de "lábios estrangeiros e línguas estranhas" (Isaías 28:11). Esta é uma referência à iminente invasão assíria, onde o povo de Judá ouvirá a língua estrangeira de seus conquistadores. A própria simplicidade e clareza da mensagem de Deus, que eles desprezaram, será substituída pela linguagem incompreensível de seus captores. Isso serve como um julgamento por sua recusa em ouvir as instruções claras e acessíveis de Deus.
Isaías 28:10 também destaca um importante princípio de crescimento espiritual: a necessidade de aprendizado consistente e incremental. Assim como as crianças aprendem através da repetição e instrução gradual, também o povo de Deus deve crescer em sua compreensão e aplicação de Sua palavra. A maturidade espiritual não é alcançada através de revelações súbitas e dramáticas, mas através da adesão constante e fiel aos ensinamentos de Deus, "preceito sobre preceito, linha sobre linha."
O apóstolo Paulo ecoa esse princípio no Novo Testamento quando escreve aos coríntios: "Dei-lhes leite, não alimento sólido, pois vocês ainda não estavam prontos para isso. De fato, vocês ainda não estão prontos" (1 Coríntios 3:2, NVI). Assim como o crescimento físico requer nutrição adequada nas fases certas, o crescimento espiritual exige uma ingestão gradual e consistente da palavra de Deus.
Isaías 28:10 serve como um chamado à humildade e obediência. A zombaria dos líderes revela sua arrogância e relutância em se submeter à autoridade de Deus. Em contraste, o verdadeiro crescimento espiritual requer um coração humilde que esteja disposto a receber e obedecer às instruções de Deus, por mais simples ou repetitivas que possam parecer.
O próprio Jesus enfatizou a importância da humildade e da fé infantil para receber o reino de Deus: "Em verdade vos digo que, se não mudarem e se tornarem como crianças, jamais entrarão no reino dos céus" (Mateus 18:3, NVI). Uma fé infantil é aquela que é aberta, confiante e disposta a aprender, reconhecendo a necessidade de "preceito sobre preceito, linha sobre linha."
Para os crentes contemporâneos, Isaías 28:10 é um lembrete da importância de se envolver regularmente com a palavra de Deus e estar aberto aos Seus ensinamentos. Em um mundo que muitas vezes valoriza a complexidade e a sofisticação, não devemos negligenciar a profunda sabedoria encontrada nas verdades simples e fundamentais das Escrituras. O estudo consistente, a oração e a obediência à palavra de Deus são essenciais para o crescimento e a maturidade espiritual.
Além disso, devemos nos guardar contra o orgulho e a complacência que podem nos levar a descartar as instruções de Deus como irrelevantes ou inferiores a nós. Como os líderes de Judá, podemos ser tentados a confiar em nosso próprio entendimento e habilidades, em vez de nos submeter humildemente à orientação de Deus. Provérbios 3:5-6 (NVI) nos exorta: "Confie no SENHOR de todo o seu coração e não se apoie em seu próprio entendimento; em todos os seus caminhos, submeta-se a ele, e ele endireitará as suas veredas."
Isaías 28:10, quando entendido em seu contexto, revela a trágica arrogância e cegueira espiritual dos líderes de Judá, que zombaram das instruções claras e essenciais de Deus. Isso destaca a necessidade de humildade, aprendizado consistente e obediência em nossa jornada espiritual. Ao abraçar a simplicidade e a profundidade da palavra de Deus, podemos crescer em nossa fé e evitar as armadilhas do orgulho e da complacência. Portanto, abordemos os ensinamentos de Deus com um coração infantil, prontos para receber e aplicar Seu "preceito sobre preceito, linha sobre linha," confiando que Ele nos conduzirá a uma compreensão mais profunda e a uma maior maturidade espiritual.