O Salmo 89 é um salmo profundo e profundamente teológico que mergulha nos temas da fidelidade de Deus, da aliança davídica e da aparente contradição entre as promessas de Deus e a realidade presente de sofrimento e derrota. Este salmo, atribuído a Etã, o ezraíta, é um rico tapete de louvor, lamento e petição, e oferece uma descrição abrangente da fidelidade de Deus, especialmente no contexto de Sua aliança com Davi.
O salmo começa com uma declaração do amor constante e da fidelidade de Deus. Nos versículos iniciais, o salmista proclama:
"Cantarei para sempre o amor constante do Senhor; com minha boca farei conhecida a tua fidelidade a todas as gerações. Pois eu disse: 'O amor constante será edificado para sempre; nos céus estabelecerás a tua fidelidade.'" (Salmo 89:1-2, ESV)
Esses versículos definem o tom para todo o salmo. O salmista está comprometido a cantar sobre o amor constante de Deus (hebraico: "chesed") e a tornar conhecida Sua fidelidade ("emunah") a todas as gerações. O uso da palavra "para sempre" enfatiza a natureza eterna dos atributos de Deus. A fidelidade de Deus não é uma qualidade temporária ou passageira; é um aspecto duradouro e imutável de Seu caráter.
O salmista então relembra a aliança de Deus com Davi, que é um tema central no Salmo 89. Deus fez uma promessa a Davi de que seus descendentes governariam para sempre. Esta aliança é um testemunho da fidelidade de Deus:
"Tu disseste: 'Fiz uma aliança com o meu escolhido; jurei a Davi, meu servo: Estabelecerei a tua descendência para sempre e edificarei o teu trono para todas as gerações.'" (Salmo 89:3-4, ESV)
Aqui, o salmista lembra a Deus de Suas próprias palavras, destacando a promessa divina de uma dinastia eterna. A aliança com Davi não é apenas um evento histórico; é um compromisso perpétuo que sublinha a fidelidade inabalável de Deus.
O salmista continua a exaltar os atributos de Deus, particularmente Seu poder e soberania sobre a criação. Os versículos 5-13 são um hino de louvor que celebra a majestade e o poder de Deus. Os próprios céus louvam as maravilhas e a fidelidade de Deus:
"Que os céus louvem as tuas maravilhas, ó Senhor, a tua fidelidade na assembleia dos santos! Pois quem nos céus pode ser comparado ao Senhor? Quem entre os seres celestiais é como o Senhor, um Deus grandemente temido no conselho dos santos, e terrível acima de todos os que estão ao seu redor?" (Salmo 89:5-7, ESV)
Esses versículos enfatizam que a fidelidade de Deus é reconhecida não apenas na terra, mas também nos reinos celestiais. O salmista usa perguntas retóricas para sublinhar a natureza incomparável de Deus. Ninguém nos céus ou na terra pode ser comparado a Ele. Sua fidelidade é parte de Sua essência divina, celebrada pelos anfitriões celestiais.
O salmista também reflete sobre o papel de Deus como Criador e Sustentador do universo. Os versículos 9-13 destacam o controle de Deus sobre o mundo natural, incluindo o mar e as montanhas:
"Tu dominas a fúria do mar; quando suas ondas se levantam, tu as acalmas. Tu esmagaste Raabe como um cadáver; dispersaste teus inimigos com teu braço poderoso. Os céus são teus; a terra também é tua; o mundo e tudo o que nele há, tu os fundaste." (Salmo 89:9-11, ESV)
Esses versículos ilustram o poder soberano de Deus sobre a criação, reforçando ainda mais Sua fidelidade. Se Deus pode controlar as forças caóticas da natureza, certamente pode sustentar Suas promessas de aliança.
O salmista então retorna ao tema da aliança davídica, relembrando as promessas de Deus a Davi em mais detalhes. Os versículos 19-37 são um discurso direto de Deus, reafirmando Seu compromisso com Davi e seus descendentes. Deus promete estabelecer o trono de Davi para sempre e ser um pai para seus descendentes:
"Meu amor constante guardarei para ele para sempre, e minha aliança permanecerá firme para ele. Estabelecerei sua descendência para sempre e seu trono como os dias dos céus." (Salmo 89:28-29, ESV)
Esses versículos reiteram a natureza eterna da aliança de Deus com Davi. O amor constante e a fidelidade de Deus são a base dessa aliança. Mesmo que os descendentes de Davi pequem, Deus promete não quebrar Sua aliança:
"Se seus filhos abandonarem minha lei e não andarem segundo minhas regras, se violarem meus estatutos e não guardarem meus mandamentos, então punirei sua transgressão com a vara e sua iniquidade com açoites, mas não retirarei dele meu amor constante nem serei falso à minha fidelidade. Não violarei minha aliança nem alterarei a palavra que saiu dos meus lábios." (Salmo 89:30-34, ESV)
Esses versículos destacam a tensão entre a justiça de Deus e Sua fidelidade. Embora Deus discipline a desobediência, Ele não revogará Sua aliança. Sua fidelidade é inquebrável, mesmo diante do fracasso humano.
No entanto, o salmo dá uma guinada dramática nos versículos 38-45. O salmista lamenta o estado atual da dinastia davídica, que parece estar em ruínas. Ele clama a Deus, questionando por que Ele permitiu que Seu rei ungido fosse derrotado e humilhado:
"Mas agora tu rejeitaste e desprezaste; estás cheio de ira contra o teu ungido. Renunciaste a aliança com teu servo; profanaste sua coroa no pó." (Salmo 89:38-39, ESV)
Esses versículos expressam um profundo senso de abandono e confusão. O salmista sente que Deus quebrou Sua aliança, embora saiba que a fidelidade de Deus deveria ser inabalável. Este lamento reflete o contexto histórico do salmo, provavelmente escrito durante um tempo de crise nacional, como o exílio babilônico.
Apesar da aparente contradição entre as promessas de Deus e a realidade presente, o salmista não perde a esperança. Ele apela à fidelidade e ao amor constante de Deus, pedindo que Ele se lembre de Sua aliança e restaure o rei davídico:
"Até quando, Senhor? Esconder-te-ás para sempre? Até quando arderá tua ira como fogo? Lembra-te de quão breve é meu tempo! Pois que vaidade criaste todos os filhos dos homens! Que homem pode viver e nunca ver a morte? Quem pode livrar sua alma do poder do Sheol? Senhor, onde está teu amor constante de outrora, que por tua fidelidade juraste a Davi?" (Salmo 89:46-49, ESV)
Esses versículos são um apelo sincero para que Deus aja de acordo com Sua fidelidade. O salmista reconhece a brevidade da vida humana e a futilidade da existência sem a intervenção de Deus. Ele chama Deus a lembrar Seu amor constante e fidelidade, que Ele jurou a Davi.
O Salmo 89 conclui com uma doxologia, uma breve expressão de louvor a Deus:
"Bendito seja o Senhor para sempre! Amém e Amém." (Salmo 89:52, ESV)
Este versículo final é uma declaração de fé na natureza eterna de Deus, apesar da tensão não resolvida nos versículos anteriores. Serve como um lembrete de que, independentemente das circunstâncias presentes, Deus é digno de louvor e Sua fidelidade dura para sempre.
Em resumo, o Salmo 89 oferece uma descrição multifacetada da fidelidade de Deus. Começa com uma proclamação do amor constante e da fidelidade de Deus, relembra as promessas da aliança davídica e louva o poder soberano de Deus sobre a criação. O salmista então lamenta o aparente fracasso da aliança, mas apela à fidelidade e ao amor constante de Deus. Através de sua mistura de louvor, lamento e petição, o Salmo 89 oferece uma exploração profunda das complexidades da fé diante da adversidade, enquanto afirma a natureza eterna e inquebrável da fidelidade de Deus.