O Salmo 116 é uma bela e sincera expressão de gratidão e amor a Deus. Faz parte do Hallel, uma série de Salmos (113-118) que são tradicionalmente recitados durante festivais judaicos, particularmente a Páscoa. O Salmo 116:12 diz: "Que darei ao Senhor por todos os seus benefícios para comigo?" (ESV). Este versículo encapsula um profundo senso de dívida e um desejo de responder à graça de Deus. Para compreender plenamente o significado do Salmo 116:12, é essencial explorar o contexto do Salmo, o versículo específico e suas implicações teológicas.
O Salmo 116 começa com um testemunho pessoal de libertação. O salmista declara amor ao Senhor porque Ele ouviu sua voz e seus pedidos de misericórdia (Salmo 116:1-2). O salmista relata um tempo de grande angústia, descrevendo-o como sendo cercado pelos "laços da morte" e encontrando-se em "angústia e tristeza" (Salmo 116:3). Em seu desespero, ele invocou o nome do Senhor, e Deus respondeu com libertação (Salmo 116:4-6). Esta libertação leva a um profundo senso de paz e descanso para a alma do salmista (Salmo 116:7).
A experiência do salmista com a salvação de Deus leva a uma reflexão sobre a natureza do caráter de Deus. Ele reconhece o Senhor como gracioso, justo e misericordioso (Salmo 116:5). Esses atributos de Deus não são conceitos teológicos abstratos, mas realidades vividas para o salmista. A intervenção de Deus em sua vida é uma demonstração tangível de Sua graça e misericórdia.
À medida que o salmo avança, o tom do salmista muda de relatar sua experiência pessoal para expressar um desejo de responder adequadamente à bondade de Deus. Isso nos leva ao Salmo 116:12, onde o salmista pergunta: "Que darei ao Senhor por todos os seus benefícios para comigo?" Esta pergunta retórica revela um coração sobrecarregado de gratidão e buscando uma maneira de retribuir a generosidade divina experimentada.
A palavra "dar" neste contexto significa devolver ou retribuir. No entanto, o salmista está ciente de que não há como retribuir plenamente a Deus por Seus benefícios. Os benefícios referidos são as inúmeras bênçãos e atos de libertação que Deus concedeu ao salmista. Esses benefícios não se limitam a bênçãos materiais, mas abrangem a salvação espiritual, proteção e a experiência da presença e favor de Deus.
A pergunta do salmista não é meramente sobre encontrar uma maneira de retribuir a Deus, mas é uma expressão de uma verdade espiritual mais profunda: o reconhecimento da insuficiência humana diante da graça divina. Este reconhecimento é um tema comum nos Salmos e em outras literaturas de sabedoria. Por exemplo, no Salmo 40:5, o salmista diz: "Muitas são, Senhor meu Deus, as maravilhas que tens operado e os teus pensamentos para conosco; não há quem se compare a ti! Eu os proclamarei e deles falarei, mas são mais do que se pode contar."
O Salmo 116:13-14 fornece uma resposta à pergunta colocada no versículo 12. O salmista diz: "Tomarei o cálice da salvação e invocarei o nome do Senhor, cumprirei os meus votos ao Senhor na presença de todo o seu povo." Esses versículos sugerem que a resposta adequada aos benefícios de Deus não é uma de retribuição em um sentido de transação, mas uma de adoração, gratidão e testemunho público.
"Tomar o cálice da salvação" é uma expressão metafórica que provavelmente se refere a um ato ritual de ação de graças. O "cálice da salvação" simboliza o reconhecimento do salmista dos atos salvadores de Deus e seu compromisso de celebrar e lembrar a libertação de Deus. Este ato de levantar o cálice é uma expressão de louvor e uma declaração pública da bondade de Deus.
Invocar o nome do Senhor é outra resposta significativa. Significa uma dependência contínua de Deus e um relacionamento contínuo com Ele. O salmista reconhece que, assim como invocou o Senhor em seu tempo de angústia, deve continuar a invocá-Lo em tempos de paz e prosperidade. Esta invocação contínua do Senhor é uma maneira de viver em um estado de dependência grata.
Cumprir votos ao Senhor na presença de todo o Seu povo indica um ato público de adoração e compromisso. No contexto do antigo Oriente Próximo, fazer e cumprir votos era uma prática comum. Os votos eram frequentemente feitos em tempos de angústia como uma promessa de oferecer algo a Deus em troca de Sua libertação. Ao cumprir esses votos publicamente, o salmista não só honra a Deus, mas também dá testemunho à comunidade da fidelidade de Deus.
Teologicamente, o Salmo 116:12 e os versículos circundantes enfatizam o conceito de graça. Graça, por definição, é favor imerecido. A pergunta do salmista e as ações subsequentes destacam que os benefícios de Deus não são ganhos, mas dados gratuitamente. A resposta adequada à graça não é uma tentativa de retribuir, mas viver de uma maneira que reflita gratidão, adoração e testemunho.
No Novo Testamento, este tema é ecoado nos escritos do Apóstolo Paulo. Em Romanos 12:1, Paulo exorta os crentes: "Rogo-vos, pois, irmãos, pela misericórdia de Deus, que apresenteis os vossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional." Aqui, Paulo enfatiza que a resposta à misericórdia de Deus é uma vida de adoração e dedicação.
Além disso, o Catecismo de Heidelberg, um conhecido documento confessional cristão, aborda a resposta à graça de Deus em sua primeira pergunta e resposta: "Qual é o seu único conforto na vida e na morte? Que não sou meu, mas pertenço, de corpo e alma, tanto na vida quanto na morte, ao meu fiel Salvador Jesus Cristo." Este catecismo reflete o mesmo sentimento do Salmo 116:12, reconhecendo que nossas vidas são uma resposta aos atos graciosos de Deus.
Em conclusão, o Salmo 116:12 captura a essência de um coração transformado pela graça de Deus. A pergunta do salmista, "Que darei ao Senhor por todos os seus benefícios para comigo?" é um profundo reconhecimento da inadequação humana diante da generosidade divina. Os versículos subsequentes nos guiam para uma resposta caracterizada por adoração, gratidão e testemunho público. Esta resposta não é sobre retribuir a Deus, mas sobre viver de uma maneira que honra e reflete Sua graça. Como leitores e crentes modernos, somos convidados a adotar esta postura de dependência grata, continuamente levantando o cálice da salvação, invocando o nome do Senhor e testemunhando Sua fidelidade em nossas vidas.