Salmo 90:12 diz: "Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio" (KJV).
Este versículo, inserido no contexto maior do Salmo 90, oferece insights profundos sobre a condição humana, a natureza do tempo e a busca pela sabedoria. Para compreender plenamente seu significado, devemos considerar o contexto mais amplo do salmo, o pano de fundo histórico e as implicações teológicas.
O Salmo 90 é atribuído a Moisés, tornando-o único entre os Salmos. É uma oração que reflete sobre a natureza eterna de Deus em contraste com a existência efêmera da humanidade. O salmo começa com uma majestosa declaração da natureza eterna de Deus: "Senhor, tu tens sido o nosso refúgio de geração em geração. Antes que os montes nascessem ou que formasses a terra e o mundo, de eternidade a eternidade tu és Deus" (Salmo 90:1-2, NVI). Isso prepara o terreno para uma meditação sobre a mortalidade humana e a brevidade da vida.
Nos versículos 3-11, Moisés contempla a natureza transitória da vida humana, reconhecendo que nossos dias são limitados e cheios de labuta e problemas. Ele escreve: "Tu reduzes o homem ao pó, dizendo: 'Retornem ao pó, seres humanos.' Mil anos aos teus olhos são como o dia de ontem que passou, como uma vigília da noite" (Salmo 90:3-4, NVI). Este contraste marcante entre a perspectiva eterna de Deus e nossa existência efêmera leva a uma reflexão sóbria sobre a condição humana.
É neste contexto que encontramos o versículo 12: "Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio." Este versículo é uma oração por instrução divina, um apelo para que Deus nos ajude a entender a brevidade de nossas vidas para que possamos viver sabiamente.
A frase "ensina-nos a contar os nossos dias" carrega a ideia de reconhecer e reconhecer o tempo limitado que temos na terra. É um chamado à atenção plena, instando-nos a estar cientes da natureza efêmera de nossa existência. Essa consciência não é para levar ao desespero, mas sim a uma apreciação mais profunda do tempo que temos e a um uso mais intencional dele.
Na segunda parte do versículo, "para que alcancemos coração sábio", vemos o propósito dessa consciência. O objetivo de contar nossos dias é cultivar a sabedoria. Em termos bíblicos, sabedoria é mais do que apenas conhecimento ou inteligência; é uma maneira de viver que se alinha com a vontade e os propósitos de Deus. Provérbios 9:10 nos diz: "O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo é entendimento" (NVI). Sabedoria, portanto, envolve um relacionamento reverente com Deus e um compromisso de viver de acordo com Seus princípios.
Ao pedir a Deus que nos ensine a contar nossos dias, estamos buscando um coração sábio que entenda a importância de alinhar nossas vidas com a perspectiva eterna de Deus. Isso envolve priorizar o que realmente importa, como relacionamentos, caráter e nosso caminhar com Deus, em detrimento das buscas transitórias e muitas vezes triviais que podem consumir nosso tempo.
Esta oração por sabedoria também é ecoada no Novo Testamento. Em Efésios 5:15-17, o apóstolo Paulo escreve: "Portanto, sejam cuidadosos em como vivem; não como insensatos, mas como sábios, aproveitando ao máximo cada oportunidade, porque os dias são maus. Portanto, não sejam insensatos, mas procurem compreender qual é a vontade do Senhor" (NVI). Paulo, como Moisés, exorta os crentes a viver sabiamente, aproveitando ao máximo seu tempo e entendendo a vontade de Deus.
Teologicamente, o Salmo 90:12 também reflete um reconhecimento humilde de nossa dependência de Deus. Reconhece que a verdadeira sabedoria vem Dele e que precisamos de Sua orientação para navegar pelas complexidades da vida. Esta humildade é um aspecto chave da sabedoria bíblica, pois reconhece nossas limitações e o entendimento infinito de Deus.
Além disso, este versículo nos convida a uma vida de intencionalidade. Em um mundo cheio de distrações e demandas intermináveis sobre nosso tempo, ele nos chama a focar no que é realmente importante. Desafia-nos a viver com propósito, a investir no que tem significado eterno e a evitar as armadilhas de uma vida vivida sem direção ou significado.
O Salmo 90:12 também fala sobre a inevitabilidade da mortalidade humana. Ao contar nossos dias, somos lembrados de que a vida é um presente precioso e finito. Essa consciência pode levar a um senso de urgência em viver nossa fé e cumprir nossos propósitos dados por Deus. Pode nos inspirar a fazer a diferença na vida dos outros, a compartilhar o amor de Cristo e a deixar um legado de fidelidade.
Na literatura cristã, esse tema é frequentemente explorado. Por exemplo, em "A Imitação de Cristo" de Tomás de Kempis, há uma ênfase na natureza transitória da vida e na importância de viver com a eternidade em mente. Kempis escreve: "Feliz é aquele que sempre tem diante dos olhos a hora de sua morte e diariamente se prepara para morrer" (Livro 1, Capítulo 23). Esta perspectiva encoraja os crentes a viver com um senso de perspectiva eterna, muito parecido com a oração do Salmo 90:12.
Em conclusão, o Salmo 90:12 é uma oração profunda que nos convida a viver com sabedoria, reconhecendo a brevidade de nossas vidas e buscando a orientação de Deus. Ele nos chama a uma vida de intencionalidade, humildade e propósito, alinhando nossos corações com a perspectiva eterna de Deus. Ao contar nossos dias, somos lembrados da preciosidade do tempo e da importância de viver de uma maneira que honre a Deus e cumpra Seus propósitos para nossas vidas. Ao buscarmos aplicar nossos corações à sabedoria, podemos confiar que Deus nos guiará em caminhos de justiça e nos ajudará a aproveitar ao máximo o tempo que nos foi dado.