Viver com fé é uma pedra angular da experiência cristã, mas não é uma garantia contra enfrentar problemas. Esta realidade pode ser perplexa e até desanimadora, especialmente quando se espera que uma vida de fé deva ser acompanhada por uma vida de facilidade. No entanto, entender por que os cristãos enfrentam problemas apesar de sua fé requer uma exploração mais profunda dos ensinamentos bíblicos, da natureza da fé e do propósito da adversidade na jornada cristã.
A Bíblia está repleta de relatos de indivíduos fiéis que encontraram problemas significativos. Considere Jó, um homem descrito como "íntegro e reto, que temia a Deus e se desviava do mal" (Jó 1:1, NVI). Apesar de sua fé inabalável, Jó enfrentou perdas catastróficas e sofrimento físico severo. Sua história é um lembrete pungente de que a fé não isenta alguém de dificuldades. Da mesma forma, o Apóstolo Paulo, um pilar da Igreja primitiva, suportou inúmeras provações, incluindo prisão, espancamentos e naufrágios (2 Coríntios 11:23-27). Até mesmo Jesus Cristo, o epítome da fé e da retidão, enfrentou traição, sofrimento e crucificação.
Uma razão pela qual os cristãos enfrentam problemas é que vivemos em um mundo caído marcado pelo pecado. A Bíblia ensina que o pecado entrou no mundo através da desobediência de Adão e Eva, resultando em uma criação que "geme e sofre com dores de parto" (Romanos 8:22, NVI). Esta quebra afeta todos os aspectos da vida, incluindo nosso bem-estar físico, emocional e espiritual. Problemas, portanto, são uma parte inevitável da experiência humana, impactando tanto crentes quanto não crentes.
Além disso, o próprio Jesus alertou Seus seguidores sobre a inevitabilidade dos problemas. Em João 16:33, Ele disse: "Estas coisas vos tenho dito para que em mim tenhais paz. No mundo tereis aflições; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo" (NVI). As palavras de Jesus são um reconhecimento franco de que a tribulação é uma certeza neste mundo. No entanto, Ele também oferece uma garantia profunda: apesar dos problemas que enfrentamos, podemos encontrar paz Nele porque Ele venceu o mundo.
Outro aspecto a considerar é o propósito dos problemas na vida de um crente. A Bíblia frequentemente apresenta o sofrimento como um meio de crescimento espiritual e desenvolvimento de caráter. Tiago 1:2-4 encoraja os crentes a "considerar motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações, sabendo que a prova da vossa fé produz perseverança. E a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e completos, sem faltar nada" (NVI). As provações, embora dolorosas, são instrumentais em refinar nossa fé, ensinando-nos perseverança e moldando-nos à semelhança de Cristo.
O Apóstolo Pedro ecoa esse sentimento em 1 Pedro 1:6-7, onde escreve: "Nisso exultais, ainda que agora, por um pouco de tempo, se necessário, sejais entristecidos por várias provações, para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece, embora provado pelo fogo, seja encontrada para louvor, honra e glória na revelação de Jesus Cristo" (NVI). Aqui, Pedro compara as provações da vida ao processo de refinamento do ouro, que, embora submetido a calor intenso, emerge mais puro e valioso. Da mesma forma, as provações que enfrentamos servem para purificar nossa fé, tornando-a mais genuína e robusta.
A própria fé não é um atributo estático, mas um relacionamento dinâmico com Deus que se aprofunda através das experiências da vida, incluindo seus desafios. O teólogo C.S. Lewis, em seu livro "O Problema do Sofrimento", sugere que Deus permite o sofrimento como um meio de nos aproximar Dele. Lewis escreve: "Deus sussurra para nós em nossos prazeres, fala em nossa consciência, mas grita em nossas dores: é Seu megafone para despertar um mundo surdo." Os problemas podem nos levar a buscar a Deus mais fervorosamente, a depender Dele mais plenamente e a experimentar Sua presença mais profundamente.
Além disso, os problemas muitas vezes servem a um propósito comunitário e missionário. Em 2 Coríntios 1:3-4, Paulo escreve: "Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e Deus de toda consolação, que nos consola em toda a nossa tribulação, para que possamos consolar os que estiverem em qualquer tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus" (NVI). O conforto e a força que recebemos de Deus em nossas provações nos equipam para ministrar a outros que estão enfrentando dificuldades semelhantes. Nossas experiências da fidelidade de Deus no meio dos problemas tornam-se um testemunho e uma fonte de esperança para os outros.
Além disso, enfrentar problemas pode aprofundar nossa empatia e compaixão, alinhando-nos mais estreitamente com o coração de Cristo. O próprio Jesus era "um homem de dores e familiarizado com o sofrimento" (Isaías 53:3, NVI). Quando compartilhamos do sofrimento, participamos de Seus sofrimentos e ganhamos uma compreensão mais profunda de Seu amor e sacrifício pela humanidade. Esta experiência compartilhada promove um maior senso de solidariedade com os outros e um compromisso mais profundo de viver o Evangelho de maneiras práticas.
Também é essencial reconhecer que os problemas podem ser uma forma de guerra espiritual. Efésios 6:12 nos lembra que "não lutamos contra carne e sangue, mas contra principados, contra potestades, contra os governantes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade nas regiões celestiais" (NVI). O inimigo busca minar nossa fé e interromper nosso relacionamento com Deus. No entanto, essas batalhas espirituais podem fortalecer nossa determinação e aprofundar nossa dependência do poder e proteção de Deus.
Ao navegar pelos problemas da vida, os cristãos são chamados a manter uma perspectiva eterna. Paulo, em 2 Coríntios 4:17-18, oferece um lembrete poderoso: "Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória muito excelente, não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que não se veem; porque as que se veem são temporais, e as que não se veem são eternas" (NVI). Os problemas que enfrentamos, embora desafiadores, são temporários e pálidos em comparação com a glória eterna que nos espera. Esta perspectiva nos ajuda a suportar as dificuldades com esperança e fé, sabendo que nossa recompensa final não está neste mundo, mas na presença de Deus.
Em conclusão, os cristãos enfrentam problemas apesar de sua fé por várias razões: a quebra inerente do mundo, o refinamento e crescimento de nosso caráter espiritual, o aprofundamento de nosso relacionamento com Deus, a oportunidade de ministrar a outros, o alinhamento com os sofrimentos de Cristo, a realidade da guerra espiritual e a cultivação de uma perspectiva eterna. Esses problemas, embora difíceis, servem a um propósito maior no plano redentor de Deus, moldando-nos nas pessoas que Ele nos chamou para ser e nos preparando para a glória eterna que está por vir. À medida que navegamos por esses desafios, podemos nos confortar na certeza de que Deus está conosco, que Ele está trabalhando todas as coisas para o nosso bem (Romanos 8:28) e que nossa fé, embora testada, emergirá mais forte e mais resiliente.