A questão de saber se Deus quer que sejamos felizes é profunda e toca na própria natureza do nosso relacionamento com o Divino. Como pastor cristão não denominacional, acredito que é importante explorar essa questão através da lente das Escrituras, dos insights teológicos e da sabedoria prática.
Para começar, é essencial reconhecer que o conceito de felicidade no contexto bíblico está frequentemente entrelaçado com noções mais profundas de alegria, paz e contentamento. Enquanto a cultura moderna frequentemente equaciona felicidade com prazeres efêmeros e circunstâncias externas, a Bíblia oferece uma compreensão mais sutil.
Nos Salmos, vemos inúmeras expressões de alegria e felicidade que vêm de um relacionamento com Deus. O Salmo 16:11 diz: "Tu me farás conhecer a vereda da vida; na tua presença há plenitude de alegria; à tua direita há delícias perpetuamente." Este versículo destaca que a verdadeira alegria e felicidade são encontradas na presença de Deus. Não se trata apenas de sentimentos temporários, mas de um profundo e duradouro senso de bem-estar que vem de estar em comunhão com o Criador.
Além disso, o próprio Jesus fala sobre felicidade e bem-aventurança nas Bem-aventuranças. Em Mateus 5:3-12, Jesus descreve uma série de bênçãos que descrevem o caráter e a condição daqueles que fazem parte do Reino de Deus. Por exemplo, "Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus" (Mateus 5:3). A palavra grega usada para "bem-aventurado" aqui é "makarios", que também pode ser traduzida como "feliz". Isso sugere que a verdadeira felicidade é encontrada em viver de acordo com os valores do Reino de Deus, como humildade, misericórdia e pacificação.
No entanto, é crucial entender que o desejo de Deus pela nossa felicidade não é sobre endossar uma busca hedonista ou egocêntrica de prazer. Em vez disso, trata-se de nos convidar a uma vida alinhada com os propósitos de Deus e caracterizada por amor, justiça e retidão. Em João 10:10, Jesus diz: "Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância." Esta vida abundante abrange mais do que apenas prosperidade material ou felicidade momentânea; trata-se de uma existência rica e plena que está enraizada no amor e na graça de Deus.
O apóstolo Paulo também fornece insights valiosos sobre a natureza da felicidade e do contentamento. Em Filipenses 4:11-13, Paulo escreve: "Aprendi a estar contente em qualquer situação. Sei o que é ser humilhado e sei o que é ter abundância. Em qualquer e toda circunstância, aprendi o segredo de enfrentar a fartura e a fome, a abundância e a necessidade. Posso todas as coisas naquele que me fortalece." Aqui, Paulo enfatiza que o verdadeiro contentamento e felicidade não dependem de circunstâncias externas, mas do nosso relacionamento com Cristo. Esta força interior e paz vêm de saber que somos amados e sustentados por Deus, independentemente da nossa situação.
Além disso, o fruto do Espírito, conforme descrito em Gálatas 5:22-23, inclui a alegria como um de seus componentes principais: "Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio." Esta passagem indica que, à medida que crescemos em nosso relacionamento com Deus e permitimos que o Espírito Santo trabalhe em nossas vidas, experimentaremos naturalmente alegria e felicidade. Esta alegria não é superficial, mas é um senso profundo de bem-estar que surge de viver em harmonia com a vontade de Deus.
Também é importante considerar o papel do sofrimento e das provações na vida cristã. Embora Deus deseje nossa felicidade, Ele também permite que passemos por experiências difíceis para nosso crescimento e refinamento. Tiago 1:2-4 encoraja os crentes a "ter por motivo de grande alegria o fato de passarem por várias provações, sabendo que a prova da vossa fé produz perseverança. E a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e completos, sem faltar em coisa alguma." Esta perspectiva nos desafia a ver as provações como oportunidades de crescimento e a encontrar alegria mesmo em meio às dificuldades.
Além disso, a literatura cristã e os escritos teológicos oferecem perspectivas valiosas sobre este tópico. Por exemplo, C.S. Lewis, em seu livro "Cristianismo Puro e Simples", discute a ideia de que Deus nos projetou para a felicidade, mas que a verdadeira felicidade é encontrada apenas Nele. Lewis escreve: "Deus não pode nos dar uma felicidade e paz separadas de Si mesmo, porque não existe tal coisa." Esta declaração sublinha a crença de que nossos anseios mais profundos por felicidade só podem ser satisfeitos em um relacionamento com Deus.
Da mesma forma, o Breve Catecismo de Westminster, um documento histórico da teologia reformada, começa com a pergunta: "Qual é o fim principal do homem?" A resposta dada é: "O fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre." Isso captura de forma sucinta a ideia de que nosso propósito e felicidade últimos são encontrados em glorificar e desfrutar de Deus.
Praticamente falando, cultivar a felicidade como cristão envolve nutrir nosso relacionamento com Deus através da oração, adoração e estudo das Escrituras. Também envolve viver os ensinamentos de Jesus, amando nossos vizinhos, buscando justiça e praticando o perdão. Ao alinhar nossas vidas com a vontade de Deus e permitir que o Espírito Santo nos transforme, podemos experimentar uma felicidade profunda e duradoura que transcende nossas circunstâncias.
Em conclusão, embora Deus realmente queira que sejamos felizes, é uma felicidade enraizada em um relacionamento com Ele e caracterizada por alegria, paz e contentamento. Não se trata da busca de prazeres temporários, mas de viver uma vida que reflete o amor e os propósitos de Deus. À medida que crescemos em nossa fé e permitimos que o Espírito Santo trabalhe em nossas vidas, podemos experimentar a plenitude da alegria que vem de estar na presença do nosso Criador.