O problema do mal é uma questão central no estudo da teologia, filosofia e apologética. Ele desafia a existência de um Deus onipotente, onibenevolente e onisciente diante da realidade evidente do mal e do sofrimento no mundo. Uma das respostas mais proeminentes a esse desafio dentro do pensamento cristão é a defesa do livre-arbítrio. Essa defesa afirma que a criação de seres humanos por Deus com livre-arbítrio é um bem maior que justifica a ocorrência potencial e real do mal.
A defesa do livre-arbítrio, principalmente associada ao filósofo Alvin Plantinga, argumenta que Deus, ao criar seres humanos, os dotou de livre-arbítrio, pois é um bem maior. Livre-arbítrio é a capacidade de escolher entre diferentes cursos de ação possíveis sem impedimentos. Plantinga sugere que é logicamente possível que um mundo contendo criaturas livres seja mais valioso do que um mundo sem criaturas livres. Assim, Deus, ao permitir o livre-arbítrio, permite o mal porque é uma condição necessária para o livre-arbítrio.
Fundamentos Escriturais
O conceito de livre-arbítrio é apoiado por várias escrituras. Por exemplo, Deuteronômio 30:19 diz: "Hoje invoco os céus e a terra como testemunhas contra vocês, de que coloquei diante de vocês a vida e a morte, a bênção e a maldição. Portanto, escolham a vida, para que vocês e seus descendentes vivam." Este versículo destaca a escolha dada à humanidade, enfatizando o valor que Deus atribui à liberdade de escolha.
Uma das forças significativas da defesa do livre-arbítrio é sua explicação da responsabilidade moral humana. Se os humanos não fossem livres para escolher o mal, também não seriam livres para escolher o bem. Tal liberdade é necessária para o amor genuíno e ações morais. Para que o amor seja significativo, deve ser dado livremente. Portanto, um mundo onde existe o livre-arbítrio permite as mais altas expressões de amor e bondade.
A defesa se alinha bem com a narrativa bíblica da história humana, desde a queda de Adão e Eva até as escolhas enfrentadas por indivíduos ao longo das escrituras. Reflete o tema consistente de seres humanos fazendo escolhas e enfrentando as consequências dessas escolhas, seja para o bem ou para o mal.
Embora a defesa do livre-arbítrio aborde principalmente o mal moral (mal resultante das ações humanas), ela pode ser estendida ao mal natural (sofrimento causado por processos naturais). Alguns teólogos argumentam que os males naturais poderiam ser uma consequência da desordem introduzida no mundo pelo pecado humano, como sugerido em Romanos 8:20-22, onde a criação é dita estar sujeita à frustração e decadência.
Uma fraqueza crítica da defesa do livre-arbítrio é seu potencial conflito com o conceito de onipotência divina. Se Deus é realmente todo-poderoso, Ele não poderia ter criado um mundo onde o livre-arbítrio existe, mas sem a possibilidade de mal? Esta questão desafia a necessidade de permitir o mal para que o livre-arbítrio exista.
Outro desafio significativo é a existência do mal gratuito—sofrimento que parece não servir a nenhum propósito ou sofrimento excessivo que poderia ter sido evitado sem impedir o exercício do livre-arbítrio. Críticos argumentam que tais males não parecem necessários para qualquer bem maior, incluindo o bem do livre-arbítrio.
A escala e profundidade do mal e do sofrimento no mundo também representam um desafio para a defesa do livre-arbítrio. O Holocausto, genocídios e desastres naturais que ceifam milhares de vidas—esses eventos levantam questões difíceis sobre se a defesa do livre-arbítrio pode explicar adequadamente a magnitude do sofrimento observado.
Embora a defesa do livre-arbítrio tenha suas forças, particularmente em explicar a relação entre livre-arbítrio e responsabilidade moral, ela também enfrenta desafios filosóficos e teológicos significativos. Ela fornece um quadro dentro do qual uma certa quantidade de mal pode ser entendida como um contraponto necessário ao bem, mas luta com os extremos do mal experimentado no mundo.
Ao lidar com essas questões, é crucial para os crentes manter a esperança e a soberania de Deus, como expressa nas escrituras como Romanos 8:28: "E sabemos que em todas as coisas Deus trabalha para o bem daqueles que o amam, que foram chamados segundo o seu propósito." Este versículo não descarta a realidade do mal, mas nos tranquiliza sobre o propósito e a bondade final de Deus.
Em conclusão, a defesa do livre-arbítrio oferece insights valiosos sobre a natureza do amor, liberdade e responsabilidade moral. No entanto, também convida crentes e céticos a continuar explorando e questionando a profundidade dessas questões complexas, sempre buscando um entendimento mais profundo e uma fé maior em meio aos desafios da vida.