A base bíblica para Jesus ser chamado de "Senhor" e o Pai ser chamado de "Deus" está profundamente enraizada nas escrituras e é fundamental para a teologia cristã, particularmente dentro do quadro da Cristologia. Esta distinção, mas unidade, entre Jesus e o Pai, é essencial para entender a doutrina cristã da Trindade, que postula um Deus em três pessoas: o Pai, o Filho (Jesus Cristo) e o Espírito Santo.
O título "Senhor" (Grego: Kyrios) atribuído a Jesus é uma afirmação significativa de Seu status e autoridade divinos. Esta designação não é meramente honorífica, mas uma declaração de Sua natureza divina e soberania. Várias passagens-chave no Novo Testamento sublinham isso:
Filipenses 2:9-11: "Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, no céu e na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai." Esta passagem destaca a exaltação de Jesus e o reconhecimento universal de Sua senhoria, que traz glória a Deus Pai.
Romanos 10:9: "Se você declarar com a sua boca, 'Jesus é Senhor', e crer em seu coração que Deus o ressuscitou dos mortos, será salvo." Este versículo enfatiza a confissão de Jesus como Senhor como um componente central da fé e salvação cristã.
João 20:28: Quando Tomé encontra o Cristo ressuscitado, ele exclama: "Meu Senhor e meu Deus!" Esta declaração de Tomé dirige-se diretamente a Jesus como tanto Senhor quanto Deus, reconhecendo Sua natureza divina.
Atos 2:36: Pedro, em seu sermão no Pentecostes, declara: "Portanto, que todo Israel esteja certo disto: Deus fez deste Jesus, a quem vocês crucificaram, Senhor e Cristo." Esta declaração confirma que Jesus, através de Sua ressurreição e ascensão, foi afirmado por Deus como Senhor.
O termo "Senhor" também tem raízes no Antigo Testamento, onde traduz a palavra hebraica Adonai, frequentemente usada como substituto para o nome divino, YHWH. Ao aplicar este título a Jesus, os escritores do Novo Testamento estão identificando-O com o Deus de Israel, atribuindo-Lhe autoridade e adoração divinas.
A designação do Pai como "Deus" (Grego: Theos) também é bem atestada ao longo do Novo Testamento. Este título sublinha o papel do Pai como a fonte última e soberano de toda a criação:
João 17:3: Na oração sacerdotal de Jesus, Ele diz: "E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste." Aqui, Jesus distingue o Pai como o "único Deus verdadeiro" enquanto também afirma Seu próprio papel como o enviado.
1 Coríntios 8:6: Paulo escreve: "Para nós, porém, há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem existimos; e um só Senhor, Jesus Cristo, por meio de quem são todas as coisas e por meio de quem existimos." Este versículo distingue claramente os papéis do Pai e do Filho enquanto afirma sua unidade na obra divina de criação e sustento.
Efésios 4:6: "Um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos." Esta passagem enfatiza a soberania e presença abrangente do Pai em todas as coisas.
João 20:17: Após Sua ressurreição, Jesus diz a Maria Madalena: "Estou subindo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus." Jesus se refere ao Pai como "meu Deus", indicando Seu relacionamento com o Pai e afirmando o status divino do Pai.
O Novo Testamento apresenta uma imagem complexa, mas coerente, do relacionamento entre Jesus e o Pai. Enquanto Jesus é chamado de "Senhor" e o Pai é chamado de "Deus", esses títulos não implicam uma hierarquia ou divisão na essência divina. Em vez disso, refletem as pessoas distintas dentro da Divindade e seus papéis relacionais.
A doutrina da Trindade, embora não explicitamente nomeada na Bíblia, é derivada da totalidade do testemunho das escrituras. Passagens-chave que destacam essa unidade e distinção incluem:
Mateus 28:19: Na Grande Comissão, Jesus instrui Seus discípulos a batizar "em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo." O singular "nome" juntamente com a designação tripla reflete a unidade e diversidade dentro da Divindade.
João 1:1-14: O prólogo do Evangelho de João identifica Jesus (a Palavra) como tanto com Deus quanto como Deus, afirmando Sua natureza divina e pessoa distinta. "No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus... A Palavra se fez carne e habitou entre nós" (João 1:1, 14).
2 Coríntios 13:14: A bênção de Paulo encapsula o relacionamento trinitário: "A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vocês."
A igreja primitiva lutou para entender e articular o relacionamento entre Jesus e o Pai, levando à formulação do Credo Niceno em 325 d.C. O Credo afirma que Jesus é "gerado, não criado, sendo da mesma substância que o Pai", mantendo assim a unidade de essência enquanto reconhece as pessoas distintas dentro da Trindade.
Os escritos dos pais da igreja primitiva, como Atanásio e Agostinho, expuseram ainda mais esse relacionamento. Atanásio, em sua defesa contra o arianismo, argumentou que Jesus deve ser totalmente divino para realizar a obra da salvação, pois só Deus pode salvar. Agostinho, em sua obra "Sobre a Trindade", explorou as dinâmicas relacionais dentro da Divindade, enfatizando a co-igualdade e co-eternidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
A base bíblica para Jesus ser chamado de "Senhor" e o Pai ser chamado de "Deus" está firmemente enraizada no testemunho do Novo Testamento sobre a pessoa e obra de Cristo e as dinâmicas relacionais dentro da Trindade. Esses títulos refletem os papéis e relacionamentos distintos dentro da Divindade enquanto afirmam a unidade de essência. As reflexões teológicas e formulações credais da igreja primitiva solidificam ainda mais esse entendimento, proporcionando um quadro coerente e convincente para a fé e adoração cristãs.