Jesus sabia de tudo?

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A questão de saber se Jesus sabia de tudo é profunda e complexa, tocando na própria natureza da divindade e humanidade de Cristo. Esta investigação mergulha no coração da Cristologia, o estudo da natureza e obra de Jesus Cristo. Para abordar adequadamente esta questão, devemos considerar as evidências bíblicas, as implicações teológicas e as posições históricas mantidas pela igreja.

O Novo Testamento fornece insights variados sobre o conhecimento de Jesus. Por um lado, vemos instâncias onde Jesus exibe onisciência divina. Por exemplo, em João 1:48, Jesus revela Seu conhecimento da localização de Natanael antes de Filipe chamá-lo: "Antes que Filipe te chamasse, eu te vi quando estavas debaixo da figueira." Da mesma forma, em João 2:24-25, é dito que Jesus "conhecia a todos e não precisava que alguém lhe desse testemunho sobre o homem, pois ele mesmo sabia o que havia no homem."

No entanto, também há passagens que sugerem limitações ao conhecimento de Jesus. Um dos versículos mais citados neste contexto é Marcos 13:32, onde Jesus fala sobre o dia e a hora de Seu retorno: "Mas a respeito daquele dia ou da hora, ninguém sabe, nem os anjos no céu, nem o Filho, mas somente o Pai." Este versículo indica que havia pelo menos um aspecto do conhecimento que Jesus, em Seu ministério terreno, não possuía.

Para reconciliar esses aspectos aparentemente contraditórios, é essencial entender a doutrina da união hipostática, que ensina que Jesus é totalmente Deus e totalmente homem. O Concílio de Calcedônia em 451 d.C. afirmou que Jesus é uma pessoa com duas naturezas distintas, divina e humana, sem confusão, mudança, divisão ou separação. Este quadro teológico nos ajuda a navegar pelas complexidades do conhecimento de Jesus.

Em Sua natureza divina, Jesus possui onisciência, pois Deus é onisciente. Isso é consistente com os atributos de Deus descritos ao longo das Escrituras, como em Salmos 147:5, que declara: "Grande é o nosso Senhor, e abundante em poder; seu entendimento é infinito." Como a segunda pessoa da Trindade, Jesus compartilha desse atributo divino.

No entanto, em Sua natureza humana, Jesus experimentou as limitações inerentes à humanidade. Filipenses 2:6-7 descreve como Jesus, "embora existisse na forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus algo a que devesse apegar-se, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens." Este "esvaziamento" (kenosis) é entendido como significando que Jesus voluntariamente se absteve de usar certos atributos divinos independentemente de Seu Pai enquanto estava na terra.

A interação entre as naturezas divina e humana de Jesus pode ser ainda mais iluminada ao considerar o conceito de communicatio idiomatum, ou a comunicação de propriedades. Este princípio teológico afirma que os atributos de ambas as naturezas podem ser atribuídos à única pessoa de Jesus Cristo. Assim, enquanto Jesus, como Deus, é onisciente, Sua experiência humana envolveu crescimento em sabedoria e conhecimento, como descrito em Lucas 2:52: "E Jesus crescia em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens."

Os primeiros pais da igreja também lutaram com essas questões. Por exemplo, Atanásio, em sua obra "Sobre a Encarnação," enfatizou a unidade da pessoa de Cristo e a distinção de Suas naturezas. Ele argumentou que as experiências humanas de Jesus, incluindo quaisquer limitações no conhecimento, não diminuíam Sua divindade, mas revelavam o mistério da encarnação.

Além disso, Tomás de Aquino, em sua "Summa Theologica," abordou o conhecimento de Cristo distinguindo três tipos de conhecimento em Jesus: beatífico, infuso e adquirido. O conhecimento beatífico refere-se à visão direta de Deus, que Jesus teve desde o momento de Sua concepção. O conhecimento infuso foi dado a Ele por Deus, permitindo-Lhe saber coisas além da capacidade humana. O conhecimento adquirido foi aquele que Jesus aprendeu através da experiência e observação humanas. Aquino postulou que, embora Jesus tivesse conhecimento beatífico e infuso perfeitos, Seu conhecimento adquirido cresceu à medida que Ele vivia Sua vida humana.

A noção de que Jesus não sabia de tudo em Sua experiência humana não implica uma deficiência em Sua divindade. Em vez disso, destaca o profundo mistério da encarnação, onde o Deus infinito assumiu a natureza humana finita. Esta autolimitação fazia parte da missão de Jesus de se identificar plenamente com a humanidade e ser o mediador perfeito entre Deus e os homens (1 Timóteo 2:5).

Além disso, o propósito do ministério terreno de Jesus deve ser considerado. Jesus veio para revelar o Pai (João 14:9), buscar e salvar o perdido (Lucas 19:10) e fornecer o sacrifício supremo pelo pecado (Hebreus 10:12). Seu conhecimento foi perfeitamente adequado para cumprir esses propósitos. Os momentos em que o conhecimento de Jesus parecia limitado servem para sublinhar Sua genuína humanidade e Sua dependência do Pai, modelando para nós uma vida de fé e dependência de Deus.

Em conclusão, a questão de saber se Jesus sabia de tudo requer uma compreensão nuançada de Sua dupla natureza como totalmente Deus e totalmente homem. Enquanto Jesus, em Sua natureza divina, possui onisciência, Sua experiência humana envolveu limitações voluntárias. Esta tensão teológica é um testemunho do profundo mistério da encarnação, onde Jesus abraçou plenamente as limitações humanas para cumprir os propósitos redentores de Deus. A narrativa bíblica e as reflexões da tradição da igreja afirmam que o conhecimento de Jesus, seja divino ou humano, estava perfeitamente alinhado com Sua missão de revelar o amor de Deus e trazer salvação ao mundo.

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