Onde na Bíblia Jesus diz que Ele e o Pai são um?

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O conceito da Trindade é uma das doutrinas mais profundas e misteriosas da teologia cristã. Afirma que Deus existe como três pessoas, mas é uma essência: o Pai, o Filho (Jesus Cristo) e o Espírito Santo. Esta doutrina não está explicitamente delineada em um único versículo, mas é derivada de uma leitura abrangente da Bíblia. Uma das passagens-chave onde Jesus fala sobre Sua unidade com o Pai é encontrada no Evangelho de João.

Em João 10:30, Jesus declara: "Eu e o Pai somos um." Esta declaração é profunda e tem implicações teológicas significativas. Para entender plenamente seu significado, é essencial considerar o contexto em que Jesus fez esta afirmação e como ela se alinha com a narrativa bíblica mais ampla.

O contexto de João 10 é um discurso onde Jesus se descreve como o Bom Pastor. Ele fala sobre o relacionamento íntimo que tem com Suas ovelhas (crentes) e como Ele dá Sua vida por elas. Em João 10:27-29, Jesus diz: "As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna, e elas jamais perecerão; ninguém as poderá arrancar da minha mão. Meu Pai, que as deu para mim, é maior do que todos; ninguém as pode arrancar da mão de meu Pai." Imediatamente após isso, Jesus faz a ousada afirmação: "Eu e o Pai somos um."

Esta declaração indica uma profunda unidade entre Jesus e o Pai, sugerindo não apenas uma unidade de propósito ou missão, mas uma unidade de essência. A reação dos líderes judeus a esta declaração sublinha ainda mais sua importância. Em João 10:31-33, lemos: "Novamente os judeus pegaram pedras para apedrejá-lo, mas Jesus lhes disse: 'Eu lhes mostrei muitas boas obras da parte do Pai. Por qual delas vocês querem me apedrejar?' 'Não vamos apedrejá-lo por nenhuma boa obra', responderam os judeus, 'mas por blasfêmia, porque você, um simples homem, se faz Deus.'"

Os líderes judeus entenderam a afirmação de Jesus de ser um com o Pai como uma reivindicação de divindade, que eles consideravam blasfema. Esta reação destaca que Jesus não estava falando apenas de uma unidade metafórica ou funcional, mas estava afirmando uma natureza divina compartilhada com o Pai.

Outra passagem que fala sobre a unidade de Jesus e o Pai é encontrada em João 14:9-11. Durante a Última Ceia, Filipe pede a Jesus para mostrar-lhes o Pai. Jesus responde: "Você não me conhece, Filipe, mesmo depois de eu estar entre vocês há tanto tempo? Quem me vê, vê o Pai. Como você pode dizer: 'Mostre-nos o Pai'? Você não crê que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu lhes digo não são apenas minhas. Ao contrário, o Pai, vivendo em mim, está realizando a sua obra. Creiam em mim quando digo que estou no Pai e que o Pai está em mim; ou pelo menos creiam por causa das mesmas obras."

Aqui, Jesus enfatiza a presença indwelling do Pai nele e vice-versa. Esta indwelling mútua, ou pericorese, é um aspecto chave da teologia trinitária, que postula que o Pai, o Filho e o Espírito Santo coabitam e interpenetram uns aos outros enquanto permanecem pessoas distintas.

Além disso, em João 17:20-23, Jesus ora por todos os crentes, dizendo: "Minha oração não é apenas por eles. Rogo também por aqueles que crerão em mim por meio da mensagem deles, para que todos sejam um, Pai, assim como você está em mim e eu estou em você. Que eles também estejam em nós para que o mundo creia que você me enviou. Eu lhes dei a glória que você me deu, para que eles sejam um, assim como nós somos um—eu neles e você em mim—para que eles sejam levados à completa unidade. Então o mundo saberá que você me enviou e os amou como me amou."

Nesta oração, Jesus expressa Seu desejo de que os crentes experimentem uma unidade que espelhe a unidade que Ele compartilha com o Pai. Esta unidade está fundamentada no relacionamento divino entre o Pai e o Filho, reforçando ainda mais o conceito de sua unicidade.

O Novo Testamento também fornece insights adicionais sobre a unidade e divindade de Jesus. Em Colossenses 1:15-20, o Apóstolo Paulo escreve: "O Filho é a imagem do Deus invisível, o primogênito sobre toda a criação. Pois nele foram criadas todas as coisas: coisas no céu e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos ou poderes ou governantes ou autoridades; todas as coisas foram criadas por ele e para ele. Ele é antes de todas as coisas, e nele todas as coisas subsistem. E ele é a cabeça do corpo, a igreja; ele é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo ele tenha a supremacia. Pois Deus teve o prazer de fazer habitar nele toda a plenitude, e por meio dele reconciliar consigo todas as coisas, sejam coisas na terra ou coisas no céu, fazendo a paz pelo seu sangue, derramado na cruz."

A descrição de Paulo de Jesus como a imagem do Deus invisível e a plenitude de Deus habitando nele sublinha a natureza divina de Jesus e sua unidade com o Pai. Esta passagem afirma que Jesus não é um mero representante de Deus, mas encarna a plenitude da divindade.

Da mesma forma, em Hebreus 1:3, lemos: "O Filho é o resplendor da glória de Deus e a representação exata do seu ser, sustentando todas as coisas pela sua palavra poderosa. Depois de ter realizado a purificação dos pecados, ele se assentou à direita da Majestade no céu."

O autor de Hebreus enfatiza que Jesus é a representação exata do ser de Deus, afirmando ainda mais a unidade e a essência compartilhada entre o Filho e o Pai.

Os primeiros pais da igreja também lutaram com o conceito da Trindade e a unidade do Pai e do Filho. Por exemplo, em sua obra "Sobre a Trindade", Agostinho de Hipona escreve: "O Pai e o Filho e o Espírito Santo, na unidade da Divindade, são um Deus, de modo que o Pai não é o Filho, nem o Filho é o Pai, nem o Espírito Santo é o Pai ou o Filho, mas uma Trindade de pessoas mutuamente inter-relacionadas, e uma unidade de uma essência igual."

A articulação de Agostinho sobre a Trindade reflete o testemunho bíblico sobre a unidade e a distinção do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Em conclusão, a declaração de Jesus em João 10:30, "Eu e o Pai somos um", é uma profunda declaração de Sua natureza divina e unidade com o Pai. Esta unidade é ainda elucidada em outras passagens do Evangelho de João, nos escritos do Apóstolo Paulo e no Novo Testamento mais amplo. Os primeiros pais da igreja também afirmaram esta unidade como central para a doutrina da Trindade. Compreender esta unidade nos ajuda a entender a profundidade da identidade de Jesus e Seu relacionamento com o Pai, que é fundamental para a fé e teologia cristã.

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