A questão de por que os judeus não acreditam que Jesus é o Messias é uma questão profunda e complexa que mergulha em séculos de nuances teológicas, históricas e culturais. Para abordar essa questão adequadamente, é essencial entender tanto as expectativas judaicas do Messias quanto como Jesus é percebido dentro desse contexto. Como pastor cristão não denominacional, tentarei fornecer uma explicação ponderada e abrangente.
Na tradição judaica, o Messias (hebraico: Mashiach) é um futuro rei judeu da linhagem davídica que se espera ser ungido com óleo de unção sagrada, para governar o povo judeu durante a Era Messiânica. Essa expectativa está profundamente enraizada em várias passagens das Escrituras Hebraicas (Tanakh), que os cristãos se referem como o Antigo Testamento. As principais profecias que moldam as expectativas messiânicas judaicas incluem:
Um Rei Davídico: Espera-se que o Messias seja um descendente do Rei Davi, conforme profetizado em 2 Samuel 7:12-16 e reiterado em Jeremias 23:5-6. Essa linhagem é crucial porque vincula o Messias às promessas feitas a Davi.
Restauração de Israel: Espera-se que o Messias reúna todos os judeus de volta à Terra de Israel, conforme previsto em Isaías 11:12 e Ezequiel 37:21-22. Essa reunião é vista como uma restauração física e política da nação judaica.
Reconstrução do Templo: Espera-se que o Messias reconstrua o Santo Templo em Jerusalém (Ezequiel 37:26-28). Este é um aspecto significativo da escatologia judaica, pois o Templo é central para o culto e a identidade judaica.
Paz Mundial: Espera-se que o Messias inaugure uma era de paz e harmonia globais, conforme profetizado em Isaías 2:4 e Miquéias 4:3. Isso inclui o fim de todas as guerras e o reconhecimento universal do Deus de Israel.
Conhecimento Universal de Deus: Espera-se que o reinado do Messias traga um conhecimento universal de Deus, onde todas as pessoas reconhecerão e adorarão o Deus de Israel (Isaías 11:9 e Zacarias 14:9).
Do ponto de vista cristão, Jesus de Nazaré é visto como o cumprimento dessas profecias messiânicas. Os cristãos acreditam que a vida, morte e ressurreição de Jesus cumprem as promessas feitas nas Escrituras Hebraicas. Passagens-chave do Novo Testamento, como Mateus 1:1, que traça a linhagem de Jesus até Davi, e Lucas 24:44, onde Jesus explica que tudo o que foi escrito sobre Ele na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos deve ser cumprido, são fundamentais para essa crença.
No entanto, do ponto de vista judaico, Jesus não cumpre as expectativas messiânicas por várias razões:
Linhagem e Realeza: Embora o Novo Testamento afirme a linhagem davídica de Jesus através de José (Mateus 1:1-16) e Maria (Lucas 3:23-38), a interpretação judaica tradicional exige que o Messias seja um descendente paterno direto de Davi. Como os cristãos acreditam no nascimento virginal, onde Jesus é concebido pelo Espírito Santo, isso cria uma divergência teológica em relação à sua linhagem davídica.
Restauração Política e Nacional: Jesus não alcançou a restauração política e nacional de Israel. Durante seu tempo, o povo judeu estava sob ocupação romana, e Jesus não liderou uma campanha militar ou política para restaurar o reino davídico. Isso é uma diferença significativa em relação à expectativa judaica de um Messias que seria um líder político e rei.
Reconstrução do Templo: O Segundo Templo ainda estava de pé durante a vida de Jesus e foi destruído em 70 EC, décadas após sua morte. Jesus não reconstruiu o Templo, e isso permanece uma profecia não cumprida do ponto de vista judaico.
Paz Mundial: A era de paz universal e o fim de todas as guerras, conforme previsto nos textos proféticos, não foi realizada. O mundo continua a experimentar conflitos e discórdias, o que leva muitos judeus a concluir que a Era Messiânica ainda não chegou.
Conhecimento Universal de Deus: Embora o cristianismo tenha se espalhado globalmente, o conhecimento e a adoração universais do Deus de Israel, conforme previsto na profecia judaica, não foram totalmente realizados. Muitas pessoas ao redor do mundo continuam a praticar várias religiões e sistemas de crenças.
Além dessas expectativas messiânicas específicas, existem diferenças teológicas mais amplas que contribuem para o fato de os judeus não acreditarem que Jesus é o Messias:
Conceito de Deus: O judaísmo é estritamente monoteísta e enfatiza a indivisibilidade de Deus. A doutrina cristã da Trindade, que inclui a crença em Jesus como o Filho de Deus e a segunda pessoa da Trindade, é vista como incompatível com o monoteísmo judaico.
Papel do Messias: No judaísmo, o Messias é um ser humano, ungido por Deus para cumprir papéis e tarefas específicas. A ideia de um Messias divino que é tanto totalmente Deus quanto totalmente homem, conforme professado no cristianismo, é estranha ao pensamento judaico.
Salvação e Expiação: O cristianismo ensina que a morte e ressurreição de Jesus proporcionam expiação pelo pecado e oferecem salvação à humanidade. O judaísmo, no entanto, tem uma compreensão diferente da expiação, que é alcançada através do arrependimento, oração e atos justos, conforme descrito em textos como Levítico 16 e nas práticas do Yom Kippur.
O contexto histórico do movimento cristão primitivo também desempenha um papel na rejeição judaica de Jesus como o Messias. Durante o primeiro século EC, havia numerosos indivíduos que reivindicavam ser o Messias. Muitos desses movimentos foram suprimidos pelas autoridades romanas, e seus líderes foram executados. A crucificação de Jesus, um método de execução reservado para criminosos e rebeldes, teria sido vista como uma desqualificação para o messianismo aos olhos de muitos judeus.
Além disso, o movimento cristão primitivo, que começou como uma seita judaica, gradualmente se separou do judaísmo mainstream. O desenvolvimento de doutrinas e práticas cristãs distintas, juntamente com eventos históricos como a destruição do Segundo Templo e as subsequentes revoltas judaicas, levaram a um alargamento do fosso entre judeus e cristãos.
A questão de por que os judeus não acreditam que Jesus é o Messias é multifacetada, envolvendo dimensões teológicas, históricas e culturais. Do ponto de vista judaico, Jesus não cumpre as profecias messiânicas específicas delineadas nas Escrituras Hebraicas, e existem diferenças teológicas significativas entre o judaísmo e o cristianismo em relação à natureza e ao papel do Messias. Compreender essas diferenças requer uma abordagem respeitosa e empática, reconhecendo as profundas e duradouras tradições de fé tanto do judaísmo quanto do cristianismo.