A questão de por que Deus criou os humanos é uma que tem intrigado teólogos, estudiosos e crentes por séculos. Ela toca na natureza fundamental de Deus, Seus propósitos e nosso lugar no grande design do universo. Para abordar essa questão, devemos mergulhar nas Escrituras, considerar os atributos de Deus e refletir sobre os ensinamentos dos pensadores cristãos ao longo da história.
A Bíblia começa com o majestoso relato da criação em Gênesis 1-2. Aqui, vemos que Deus criou os céus e a terra, e tudo o que há neles, culminando na criação da humanidade. Gênesis 1:26-27 afirma: "Então Deus disse: 'Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. E que eles tenham domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre o gado, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam sobre a terra.' Assim Deus criou o homem à sua própria imagem, à imagem de Deus ele o criou; homem e mulher ele os criou." Esta passagem é fundamental para entender o propósito por trás da criação humana.
Primeiramente, os humanos foram criados à imagem de Deus. Este conceito, conhecido como "Imago Dei", tem implicações profundas. Ser feito à imagem de Deus significa que os humanos refletem certos atributos de Deus, como racionalidade, moralidade, criatividade e relacionalidade. Significa um status e um papel especial dentro da criação. Ao contrário de outras criaturas, os humanos têm a capacidade de autoconsciência, tomada de decisões morais e um relacionamento com o Criador. O teólogo João Calvino enfatizou que a imagem de Deus nos humanos é a base para a dignidade e o valor humano.
Em segundo lugar, os humanos foram criados para um relacionamento com Deus. A narrativa em Gênesis 2 retrata um relacionamento pessoal e íntimo entre Deus e os primeiros humanos, Adão e Eva. Deus andava com eles no jardim e se comunicava diretamente com eles. Este relacionamento era caracterizado por amor e confiança mútuos. No Novo Testamento, Jesus reforça essa ideia ao ensinar que o maior mandamento é "amar o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua mente" (Mateus 22:37). O Breve Catecismo de Westminster ecoa esse sentimento, afirmando que "o fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre".
Em terceiro lugar, os humanos foram criados para administrar e cuidar da criação. Gênesis 1:28 diz: "E Deus os abençoou. E Deus lhes disse: 'Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a, e dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todo ser vivente que se move sobre a terra.'" Este mandato, muitas vezes referido como o "Mandato Cultural", implica que os humanos devem cultivar e gerenciar a terra de forma responsável. Esta administração reflete o próprio cuidado e soberania de Deus sobre a criação.
Além disso, a criação dos humanos é uma expressão do amor de Deus e do desejo por comunidade. A natureza trina de Deus—Pai, Filho e Espírito Santo—revela que Deus é inerentemente relacional. O teólogo Agostinho de Hipona descreveu a Trindade como uma comunidade divina de amor. Portanto, é apropriado que Deus criasse seres capazes de entrar em relacionamentos amorosos, tanto com Ele quanto uns com os outros. Em 1 João 4:8, lemos que "Deus é amor", e o amor, por sua natureza, busca compartilhar a si mesmo. A criação dos humanos pode ser vista como uma manifestação do amor de Deus, convidando-nos a participar da comunhão divina.
Adicionalmente, os humanos foram criados para adorar. Ao longo das Escrituras, vemos que a adoração é central para a experiência humana. Em Apocalipse 4:11, os seres celestiais proclamam: "Digno és, Senhor e Deus nosso, de receber glória, honra e poder, porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade elas existiram e foram criadas." A adoração é a resposta apropriada à grandeza e bondade de Deus. Ela alinha nossos corações com os propósitos de Deus e promove uma conexão mais profunda com Ele.
A queda da humanidade, conforme descrita em Gênesis 3, introduziu o pecado e a corrupção no mundo, distorcendo os propósitos originais para os quais os humanos foram criados. No entanto, o plano redentor de Deus através de Jesus Cristo visa restaurar esse relacionamento e propósito. Em Efésios 2:10, Paulo escreve: "Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus preparou de antemão para que andássemos nelas." Através de Cristo, somos convidados a participar da obra redentora de Deus e a viver os propósitos para os quais fomos originalmente criados.
Em resumo, Deus criou os humanos por várias razões inter-relacionadas: para refletir Sua imagem, para estar em relacionamento com Ele, para administrar a criação, para participar de uma comunidade de amor e para adorá-Lo. Esses propósitos estão enraizados na natureza de Deus e em Seu desejo de compartilhar Seu amor e glória com Sua criação. Compreender esses propósitos nos dá um senso de identidade e direção, chamando-nos a viver de uma maneira que honre a Deus e cumpra as intenções divinas para nossa existência.
Ao contemplarmos as razões de nossa criação, lembremo-nos das palavras do Salmo 8:3-4: "Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que estabeleceste, que é o homem para que te lembres dele, e o filho do homem para que o visites?" De fato, é um mistério profundo e um privilégio profundo fazer parte da criação de Deus, feitos à Sua imagem e convidados a um relacionamento com Ele.