Por que as Testemunhas de Jeová acreditam que apenas 144.000 pessoas irão para o céu?

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A crença de que apenas 144.000 pessoas irão para o céu é uma doutrina distintiva das Testemunhas de Jeová, enraizada na interpretação que fazem de certas passagens bíblicas, particularmente do livro de Apocalipse. Para entender essa crença, é essencial explorar a base escritural que eles usam, seu quadro teológico e como isso contrasta com o pensamento cristão mainstream.

As Testemunhas de Jeová baseiam seu ensino sobre os 144.000 principalmente em duas passagens-chave do livro de Apocalipse. A primeira passagem é Apocalipse 7:4, que diz: "E ouvi o número dos selados, cento e quarenta e quatro mil, selados de todas as tribos dos filhos de Israel" (ESV). A segunda passagem é Apocalipse 14:1-3, onde João escreve: "Então olhei, e eis que o Cordeiro estava em pé sobre o Monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil que tinham o nome dele e o nome de seu Pai escrito nas suas testas... e ninguém podia aprender aquela canção, exceto os cento e quarenta e quatro mil que foram redimidos da terra" (ESV).

As Testemunhas de Jeová interpretam essas passagens literalmente, entendendo o número 144.000 como um número fixo e literal de indivíduos que receberão um lugar especial no céu. Eles acreditam que esses indivíduos governarão com Cristo como reis e sacerdotes sobre a terra. Esse grupo, eles ensinam, é conhecido como os "ungidos" ou o "pequeno rebanho" (Lucas 12:32). O restante dos fiéis, frequentemente referido como a "grande multidão" ou as "outras ovelhas" (João 10:16), acredita-se que tenham a esperança de viver para sempre em uma terra paradisíaca, em vez de no céu.

Essa interpretação faz parte de um quadro teológico mais amplo que enfatiza um sistema de salvação em dois níveis. De acordo com as Testemunhas de Jeová, os 144.000 são um grupo seleto escolhido por Deus para desempenhar um papel único em Seu plano divino. Essa crença está ligada à sua compreensão do Reino de Deus e do papel de Jesus Cristo como o Rei desse Reino. Eles acreditam que Cristo, junto com os 144.000, governará sobre a terra durante o reinado milenar descrito em Apocalipse 20:4-6.

Em contraste, a teologia cristã mainstream geralmente interpreta essas passagens de Apocalipse simbolicamente, em vez de literalmente. O número 144.000 é frequentemente entendido como representando a plenitude ou completude do povo de Deus, composto tanto por judeus quanto por gentios. Essa interpretação simbólica é apoiada pelo contexto e estilo literário do livro de Apocalipse, que é rico em imagens simbólicas e apocalípticas.

Por exemplo, muitos estudiosos e teólogos cristãos veem o número 144.000 como simbólico da totalidade do povo redimido de Deus. O número em si é derivado da multiplicação de 12 (representando as tribos de Israel) por 12 (representando os apóstolos), e depois por 1.000 (um número que significa completude ou vastidão). Assim, os 144.000 simbolizam o número completo e perfeito do povo de Deus, abrangendo todos os que são fiéis a Ele, em vez de um número literal e limitado.

Além disso, o conceito de uma esperança celestial não é restrito a um seleto grupo na teologia cristã mainstream. Passagens como João 14:2-3, onde Jesus diz: "Na casa de meu Pai há muitas moradas... Eu vou preparar um lugar para vocês", são entendidas como oferecendo a promessa do céu a todos os crentes. Da mesma forma, 1 Tessalonicenses 4:16-17 fala de crentes sendo "arrebatados juntos... para encontrar o Senhor nos ares", sugerindo um destino celestial compartilhado para todos os que estão em Cristo.

A divergência teológica entre as Testemunhas de Jeová e o cristianismo mainstream sobre essa questão também reflete diferenças mais amplas em escatologia e soteriologia. As Testemunhas de Jeová têm uma compreensão única dos eventos do fim dos tempos e da natureza da salvação, o que molda sua interpretação dessas passagens.

Também vale a pena notar que a crença nos 144.000 como um número literal está ligada ao desenvolvimento histórico das Testemunhas de Jeová como um movimento religioso. Fundado no final do século XIX por Charles Taze Russell, o movimento inicialmente enfatizava a iminência do retorno de Cristo e o estabelecimento do Reino de Deus na terra. À medida que o movimento evoluiu, a doutrina dos 144.000 tornou-se um princípio central, distinguindo as Testemunhas de Jeová de outros grupos cristãos.

Em conclusão, a crença de que apenas 144.000 pessoas irão para o céu é uma doutrina distintiva das Testemunhas de Jeová, enraizada na interpretação literal de passagens específicas do livro de Apocalipse. Essa crença reflete seu quadro teológico único, que inclui um sistema de salvação em dois níveis e uma compreensão particular do Reino de Deus. Embora essa interpretação contraste com as visões simbólicas e inclusivas mantidas pelo cristianismo mainstream, ela é uma parte integral da fé e identidade das Testemunhas de Jeová. Entender essa crença dentro de seu contexto escritural e histórico fornece uma visão sobre a distintividade da teologia das Testemunhas de Jeová e sua interpretação da Bíblia.

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