O que os luteranos acreditam sobre sacramentos e ordenanças?

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Os luteranos têm uma visão distinta e sutil sobre sacramentos e ordenanças que está profundamente enraizada em sua herança teológica, particularmente nos ensinamentos de Martinho Lutero, o reformador do século XVI. Essa perspectiva está encapsulada nas Confissões Luteranas, uma série de documentos que delineiam as crenças centrais da tradição luterana. Para entender a posição luterana sobre sacramentos e ordenanças, é essencial mergulhar na natureza, número e significado desses ritos sagrados dentro do quadro da teologia luterana.

A Natureza dos Sacramentos na Teologia Luterana

Na teologia luterana, um sacramento é definido como um rito instituído por Cristo que combina um elemento visível com a Palavra de Deus, e através do qual Deus concede Sua graça. Essa definição está enraizada na compreensão de Lutero dos meios de graça, que são os instrumentos pelos quais Deus entrega os benefícios da salvação aos crentes. O elemento visível em um sacramento serve como um sinal tangível que acompanha a promessa da Palavra de Deus, tornando a graça de Deus acessível de maneira concreta e experiencial.

Os luteranos acreditam que os sacramentos não são meramente atos simbólicos, mas são meios eficazes de graça. Isso significa que Deus trabalha ativamente através dos sacramentos para conferir os benefícios que eles significam. Essa crença está fundamentada na convicção de que a Palavra de Deus é poderosa e eficaz, e quando combinada com os elementos físicos dos sacramentos, ela realiza o que promete. Como declara o profeta Isaías, “assim será a palavra que sair da minha boca; não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei” (Isaías 55:11, ESV).

O Número de Sacramentos

Os luteranos reconhecem dois sacramentos: o Batismo e a Ceia do Senhor (Santa Comunhão). Esses dois ritos atendem aos critérios estabelecidos por Lutero: foram instituídos por Cristo, envolvem um elemento visível e transmitem a promessa da graça de Deus.

Batismo

O Batismo é considerado o sacramento de iniciação na fé cristã. Os luteranos acreditam que através do Batismo, os indivíduos são unidos a Cristo, recebem o perdão dos pecados e renascem como filhos de Deus. Essa compreensão é baseada em passagens como Mateus 28:19-20, onde Jesus ordena a seus discípulos que batizem “em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”, e Atos 2:38, onde Pedro declara: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo” (ESV).

Os luteranos praticam o batismo infantil, acreditando que a graça de Deus é estendida a todos, incluindo os bebês, que precisam da obra salvadora de Deus. Essa prática destaca a crença de que o Batismo é principalmente um ato de Deus, e não uma decisão humana. Como o próprio Lutero escreveu no Pequeno Catecismo, “O Batismo não é apenas água simples, mas é a água incluída no mandamento de Deus e combinada com a palavra de Deus.”

A Ceia do Senhor

A Ceia do Senhor, ou Santa Comunhão, é o sacramento de sustento e participação contínua na vida de Cristo. Os luteranos aderem à doutrina da presença real, que afirma que Cristo está verdadeiramente presente, com e sob os elementos do pão e do vinho. Essa crença é baseada nas palavras de Jesus na Última Ceia: “Isto é o meu corpo... Isto é o meu sangue” (Mateus 26:26-28, ESV). Os luteranos rejeitam a doutrina católica romana da transubstanciação, que ensina que o pão e o vinho são transformados no corpo e sangue reais de Cristo, bem como a interpretação simbólica mantida por algumas tradições protestantes.

Para os luteranos, a presença real significa que o corpo e o sangue de Cristo estão verdadeiramente presentes e são recebidos pelos comungantes de maneira misteriosa e sacramental. Essa presença não depende da fé do receptor, mas é um dom gracioso de Deus. A Ceia do Senhor é vista como um meio de graça que fortalece a fé, perdoa os pecados e une os crentes a Cristo e uns aos outros.

Ordenanças na Teologia Luterana

Embora os luteranos enfatizem os sacramentos do Batismo e da Ceia do Senhor, eles também reconhecem outros ritos e práticas que são importantes para a vida da igreja, frequentemente referidos como ordenanças. No entanto, essas ordenanças não são consideradas sacramentos porque não atendem a todos os critérios estabelecidos por Lutero.

Confissão e Absolvição

A Confissão e Absolvição é uma prática importante no luteranismo, onde os crentes confessam seus pecados e recebem a certeza do perdão de Deus através das palavras de absolvição proferidas pelo pastor. Embora não seja considerada um sacramento, é altamente valorizada como um meio de graça. Lutero enfatizou a importância da confissão privada, afirmando no Grande Catecismo: “Quando eu te exorto a ir à confissão, não estou fazendo nada além de te exortar a ser cristão.”

Confirmação

A Confirmação é outro rito significativo na tradição luterana, onde os indivíduos batizados afirmam publicamente sua fé e compromisso com os ensinamentos da igreja. Esse rito geralmente envolve um período de catequese, onde os indivíduos recebem instrução na fé cristã. Embora a confirmação seja um marco importante, não é considerada um sacramento porque não envolve um elemento visível instituído por Cristo.

Casamento, Ordenação e Unção dos Enfermos

Os luteranos também reconhecem a importância de outros ritos, como o casamento, a ordenação e a unção dos enfermos. Essas práticas são consideradas sagradas e são acompanhadas por orações e bênçãos, mas não são classificadas como sacramentos. Os luteranos veem o casamento como uma união santa entre um homem e uma mulher, ordenada por Deus, e a ordenação como a separação de indivíduos para o ministério pastoral. A unção dos enfermos, embora praticada com menos frequência, envolve orações por cura e conforto para os doentes.

Teologia Sacramental e os Meios de Graça

Central na teologia sacramental luterana é o conceito dos meios de graça. Os luteranos acreditam que a graça de Deus é mediada através de meios específicos, incluindo a Palavra de Deus e os sacramentos. Os sacramentos são vistos como manifestações visíveis da Palavra, tornando as promessas de Deus tangíveis e acessíveis aos crentes. Essa compreensão está enraizada na convicção de que a graça de Deus não é abstrata, mas é entregue a nós de maneiras concretas que envolvem nossos sentidos.

Os meios de graça também são entendidos como de natureza comunitária. Os sacramentos são administrados no contexto da igreja, a comunidade de crentes, e servem para edificar o corpo de Cristo. Através do Batismo, os indivíduos são incorporados à igreja, e através da Ceia do Senhor, eles são nutridos e sustentados em sua fé. Essa dimensão comunitária destaca a crença de que a vida cristã é vivida em comunhão com outros crentes, unidos pela graça de Deus.

Conclusão

As crenças luteranas sobre sacramentos e ordenanças estão profundamente enraizadas nos insights teológicos de Martinho Lutero e nas Confissões Luteranas. Os sacramentos são vistos como meios eficazes de graça, instituídos por Cristo, que transmitem as promessas de Deus através de elementos visíveis. O Batismo e a Ceia do Senhor são os dois sacramentos reconhecidos pelos luteranos, servindo como meios de iniciação e sustento na vida cristã. Outros ritos e práticas, embora importantes, não são considerados sacramentos porque não atendem aos critérios estabelecidos por Lutero. Central na teologia sacramental luterana está a convicção de que a graça de Deus é mediada através de meios específicos, tornando as promessas de Deus tangíveis e acessíveis aos crentes no contexto da igreja.

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