A questão do destino das crianças que morrem é uma que tem pesado no coração de muitos crentes ao longo dos séculos. Ela toca nos profundos mistérios da justiça, misericórdia e amor de Deus. À medida que exploramos o que a Bíblia diz sobre este tópico sensível, é importante abordá-lo com humildade, reconhecendo que alguns aspectos do plano de Deus estão além da nossa plena compreensão. No entanto, a Bíblia nos fornece insights suficientes para oferecer esperança e consolo aos pais e entes queridos enlutados.
Primeiramente, é essencial afirmar o caráter de Deus conforme revelado nas Escrituras. Deus é descrito como amoroso, justo e misericordioso. Em 1 João 4:8, lemos que "Deus é amor." Esta verdade fundamental nos assegura que as ações e julgamentos de Deus estão sempre enraizados no amor. Além disso, o Salmo 145:9 declara: "O Senhor é bom para todos; ele tem compaixão de tudo o que fez." Este versículo destaca a bondade e compaixão universais de Deus, que se estendem a toda a Sua criação, incluindo as crianças.
Uma das passagens mais significativas que oferece insights sobre o destino das crianças que morrem é encontrada no Evangelho de Mateus. Em Mateus 19:14, Jesus diz: "Deixem vir a mim as crianças, e não as impeçam; pois o Reino dos céus pertence aos que são como elas." Esta declaração é profunda porque revela a consideração especial de Jesus pelas crianças e seu lugar no Reino dos céus. As palavras de Jesus sugerem que as crianças têm um status único e privilegiado no Reino de Deus, caracterizado pela inocência e pureza.
Outra passagem chave a considerar é encontrada no Antigo Testamento, na história do Rei Davi e a morte de seu filho recém-nascido. Em 2 Samuel 12:23, após a morte de seu filho, Davi diz: "Mas agora que ele está morto, por que devo continuar jejuando? Posso trazê-lo de volta? Eu irei até ele, mas ele não voltará para mim." As palavras de Davi indicam sua crença de que ele se reuniria com seu filho na vida após a morte. Esta passagem tem sido uma fonte de conforto para muitos, pois sugere que as crianças que morrem estão na presença de Deus e que há esperança de uma reunião futura.
O conceito de pecado original e a idade da responsabilidade também desempenham um papel na compreensão do destino das crianças que morrem. De acordo com a teologia cristã, todos os humanos nascem com uma natureza pecaminosa devido à queda de Adão e Eva (Romanos 5:12). No entanto, a Bíblia não declara explicitamente uma idade em que uma pessoa se torna moralmente responsável por suas ações. Muitos teólogos e pastores acreditam em uma "idade da responsabilidade", um conceito que sugere que as crianças que ainda não atingiram uma idade em que possam entender e responder ao evangelho estão cobertas pela graça de Deus.
Em apoio a esta ideia, Deuteronômio 1:39 fala das crianças de Israel que "ainda não sabem distinguir o bem do mal" e, portanto, não foram responsabilizadas pelos pecados de seus pais. Este versículo implica que há uma idade antes da qual as crianças não são responsabilizadas por suas ações da mesma forma que os adultos. Embora a idade exata não seja especificada, isso reforça a noção de que a graça de Deus se estende àqueles que ainda não são capazes de tomar decisões morais.
O caráter de Deus como juiz justo também é crucial nesta discussão. Gênesis 18:25 declara: "Não fará justiça o Juiz de toda a terra?" Esta pergunta retórica feita por Abraão afirma a crença de que os julgamentos de Deus são sempre justos e corretos. Portanto, podemos confiar que as decisões de Deus em relação ao destino das crianças que morrem são feitas com perfeita justiça e misericórdia.
Além das passagens bíblicas, a literatura cristã e as reflexões teológicas oferecem mais insights. C.S. Lewis, em seu livro "O Problema do Sofrimento", aborda a questão do sofrimento e o destino daqueles que morrem jovens. Ele escreve: "Quando somos tentados a perguntar se somos mais misericordiosos do que Deus, devemos lembrar que toda a misericórdia que podemos conceber vem Dele." Lewis nos lembra que nossa compreensão de misericórdia e compaixão é derivada da própria natureza de Deus, e assim, podemos confiar que a misericórdia de Deus para com as crianças é maior do que podemos compreender.
Além disso, a Confissão de Fé de Westminster, uma conhecida confissão reformada, declara no Capítulo 10, Seção 3: "Infantes eleitos, morrendo na infância, são regenerados e salvos por Cristo através do Espírito, que opera quando, onde e como Ele deseja." Embora esta declaração reflita uma tradição teológica específica, ela destaca a crença de que a graça de Deus pode se estender a bebês e crianças pequenas de maneiras que são misteriosas e além da nossa plena compreensão.
Outro aspecto a considerar é a natureza do Reino de Deus. Em Apocalipse 21:4, temos uma visão do novo céu e nova terra onde "Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem luto, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou." Esta promessa de um futuro sem sofrimento e morte oferece esperança de que as crianças que morrem são bem-vindas em um lugar de paz e alegria eternas.
Também é importante reconhecer o papel do sacrifício de Jesus na salvação de todas as pessoas, incluindo as crianças. Em João 3:16, lemos: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." Embora este versículo enfatize a necessidade de fé para a salvação, ele também destaca o alcance universal do amor de Deus e a obra redentora de Cristo. Os teólogos há muito debatem como os benefícios da expiação de Cristo se aplicam àqueles que não são capazes de tomar uma decisão consciente de crer, como bebês e crianças pequenas. Muitos sustentam que a graça de Deus através de Cristo pode cobrir aqueles que morrem antes de atingir uma idade de responsabilidade.
Em última análise, o destino das crianças que morrem é um mistério que talvez não compreendamos completamente até estarmos na presença de Deus. No entanto, a Bíblia nos fornece garantias suficientes para confiar no caráter de Deus e em Suas promessas. Podemos encontrar conforto em saber que Deus é amoroso, justo e misericordioso, e que Ele tem um lugar especial para as crianças em Seu Reino. As palavras de Jesus, as experiências de figuras bíblicas como Davi e as reflexões de teólogos cristãos apontam para uma visão esperançosa e compassiva do destino das crianças que morrem.
Em tempos de luto e perda, é natural buscar respostas e consolo. Embora a Bíblia possa não fornecer uma explicação detalhada do destino de cada criança que morre, ela nos oferece insights suficientes para confiar na bondade de Deus e em Seu plano final para Sua criação. À medida que navegamos por este tópico difícil, vamos nos apegar à esperança de que o amor e a misericórdia de Deus se estendem a todos, especialmente aos mais vulneráveis e inocentes entre nós.