O problema do mal, particularmente o sofrimento de crianças inocentes, é uma das questões mais desafiadoras e profundas na teologia cristã. Toca o cerne da nossa compreensão da natureza de Deus, Sua soberania e Seu amor pela humanidade. Como pastor cristão não denominacional, abordo essa questão com profunda humildade, reconhecendo que nossa compreensão humana finita pode nunca compreender totalmente a sabedoria infinita de Deus. No entanto, as Escrituras nos fornecem insights que podem nos ajudar a navegar por esse tópico difícil.
Primeiro e acima de tudo, é essencial reconhecer o peso emocional e a dor pessoal que muitas vezes acompanham essa questão. Quando crianças inocentes sofrem ou morrem, é uma experiência angustiante que pode levar a sentimentos de raiva, confusão e desespero. A Bíblia não se esquiva dessas emoções. De fato, registra inúmeras instâncias em que o povo de Deus clama em angústia e busca compreensão em meio ao seu sofrimento.
Uma das verdades fundamentais do cristianismo é que Deus é tanto soberano quanto bom. O Salmo 145:9 declara: "O Senhor é bom para todos; tem compaixão de tudo o que fez." Essa bondade abrange Seu amor, misericórdia e justiça. No entanto, a presença do mal e do sofrimento no mundo, incluindo o sofrimento de crianças inocentes, parece contradizer essa verdade. Para abordar essa aparente contradição, é útil considerar vários princípios bíblicos chave.
Primeiramente, a Bíblia ensina que o mundo não é como Deus o criou originalmente. Em Gênesis 1:31, lemos que Deus viu tudo o que havia feito, e era "muito bom". No entanto, a subsequente queda da humanidade no pecado, conforme descrito em Gênesis 3, trouxe uma distorção fundamental da boa criação de Deus. O pecado introduziu dor, sofrimento e morte no mundo. Romanos 5:12 explica: "Portanto, assim como o pecado entrou no mundo por um homem, e a morte pelo pecado, e dessa forma a morte veio a todos os homens, porque todos pecaram." O sofrimento de crianças inocentes, portanto, é uma consequência trágica de viver em um mundo caído marcado pelo pecado.
Em segundo lugar, a Bíblia afirma que Deus não é indiferente ao sofrimento humano. Ao longo das Escrituras, Deus se revela como um Pai compassivo e amoroso que é profundamente comovido pela situação de Seus filhos. No Antigo Testamento, vemos o coração de Deus pelos vulneráveis e oprimidos. O Salmo 68:5 o descreve como "pai dos órfãos e defensor das viúvas". O profeta Isaías prediz o Messias, Jesus Cristo, que viria para "curar os quebrantados de coração" e "consolar todos os que choram" (Isaías 61:1-2). No Novo Testamento, o ministério de Jesus é marcado por Sua compaixão pelos que sofrem. Ele curou os doentes, ressuscitou os mortos e acolheu as crianças, dizendo: "Deixem vir a mim as crianças, e não as impeçam; pois o Reino dos céus pertence aos que são como elas" (Mateus 19:14).
Além disso, é importante reconhecer que o plano final de Deus envolve a redenção e restauração de toda a criação. O sofrimento e a morte de crianças inocentes, embora profundamente trágicos, não são a palavra final. Apocalipse 21:4 oferece uma visão do futuro onde "Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, pois a antiga ordem já passou." Essa promessa de um novo céu e uma nova terra nos assegura que Deus um dia erradicará todo o sofrimento e fará todas as coisas novas.
Enquanto isso, Deus trabalha através do sofrimento para cumprir Seus propósitos, mesmo quando não podemos compreendê-los totalmente. Romanos 8:28 afirma: "E sabemos que em todas as coisas Deus trabalha para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados segundo o seu propósito." Isso não significa que o sofrimento em si seja bom, mas que Deus pode trazer o bem até mesmo das circunstâncias mais dolorosas. A história de José no Antigo Testamento é um exemplo poderoso dessa verdade. Apesar de ter sido vendido como escravo e injustamente preso, José mais tarde reconhece que Deus usou seu sofrimento para salvar muitas vidas (Gênesis 50:20).
Além disso, o sofrimento de crianças inocentes pode servir como um lembrete pungente da nossa necessidade da graça de Deus e da urgência do Evangelho. Confronta-nos com a realidade de um mundo quebrado e nos obriga a buscar a intervenção e a justiça de Deus. Também chama a comunidade cristã à ação, para ser agentes do amor e da compaixão de Deus em um mundo ferido. Tiago 1:27 exorta os crentes a "cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e a manter-se incontaminado pelo mundo".
Outro aspecto crucial a considerar é o mistério da providência de Deus. Embora a Bíblia nos forneça princípios e garantias, nem sempre oferece explicações específicas para casos individuais de sofrimento. A história de Jó é uma exploração profunda desse mistério. Jó, um homem justo, sofre imensamente sem entender as razões por trás disso. Ao longo de sua provação, Jó luta com Deus, buscando respostas. No final, Deus responde, não com uma explicação detalhada, mas com uma revelação de Sua majestade e sabedoria. Jó 38-41 registra a resposta de Deus, enfatizando Sua soberania e as limitações da compreensão humana. Jó finalmente encontra paz não por ter todas as suas perguntas respondidas, mas por encontrar a grandeza de Deus.
À luz desses princípios bíblicos, como devemos responder quando confrontados com o sofrimento e a morte de crianças inocentes? Primeiramente, podemos encontrar consolo no caráter de Deus. Ele é um Pai amoroso que sofre conosco e oferece Sua presença e conforto em nossa dor. O Salmo 34:18 nos assegura: "O Senhor está perto dos que têm o coração quebrantado e salva os de espírito abatido".
Em segundo lugar, podemos nos apegar à esperança da redenção e restauração. O sofrimento deste tempo presente não é digno de ser comparado com a glória que será revelada em nós (Romanos 8:18). O plano final de Deus é fazer todas as coisas novas, e nessa nova criação, não haverá mais sofrimento ou morte.
Em terceiro lugar, podemos confiar na providência de Deus, mesmo quando não entendemos. Provérbios 3:5-6 nos encoraja a "Confiar no Senhor de todo o coração e não se apoiar em seu próprio entendimento; em todos os seus caminhos, submeta-se a Ele, e Ele endireitará os seus caminhos." Nossas mentes finitas podem não compreender o quadro completo, mas podemos confiar que Deus está trabalhando todas as coisas para o bem.
Finalmente, somos chamados a ser instrumentos do amor e da compaixão de Deus. O sofrimento de crianças inocentes deve nos mover à ação, a cuidar dos vulneráveis e a trabalhar por justiça e misericórdia em nossas comunidades e no mundo. Miquéias 6:8 nos lembra: "Ele mostrou a você, ó mortal, o que é bom. E o que o Senhor exige de você? Que aja com justiça, ame a misericórdia e ande humildemente com o seu Deus".
Em conclusão, a questão de por que Deus permite que crianças inocentes morram é profundamente complexa e dolorosa. Embora possamos não ter todas as respostas, as Escrituras nos fornecem uma estrutura para entender e responder a essa questão. Vivemos em um mundo caído marcado pelo pecado, mas Deus não é indiferente ao nosso sofrimento. Ele é um Pai compassivo e amoroso que promete redenção e restauração final. Enquanto isso, Ele nos chama a confiar em Sua providência e a ser agentes de Seu amor e compaixão. Enquanto lutamos com essas questões difíceis, que possamos encontrar conforto na presença de Deus e esperança em Suas promessas.