A questão de por que os humanos experimentam a morte de acordo com a Bíblia é uma que intriga teólogos, estudiosos e crentes há séculos. Para entender isso, devemos nos aprofundar nas escrituras, examinando o arco narrativo da criação à queda e, em seguida, ao trabalho redentor de Cristo. A Bíblia oferece uma explicação abrangente que integra dimensões teológicas, morais e existenciais.
A narrativa começa no Livro de Gênesis, onde a criação da humanidade é detalhada. De acordo com Gênesis 1:27, "Assim Deus criou a humanidade à sua imagem, à imagem de Deus ele os criou; homem e mulher ele os criou." Este versículo estabelece a relação única entre Deus e os humanos, destacando que os humanos foram criados à imagem de Deus (imago Dei), o que implica um status e propósito especiais.
Em Gênesis 2:16-17, Deus ordena a Adão: "Você é livre para comer de qualquer árvore do jardim; mas você não deve comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, pois quando você comer dela certamente morrerá." Este comando introduz o conceito de livre arbítrio e responsabilidade moral. A presença da árvore proibida no Jardim do Éden significa que os humanos têm a capacidade de escolher a obediência ou a desobediência à vontade de Deus.
O ponto de virada ocorre em Gênesis 3, onde Adão e Eva sucumbem à tentação da serpente e comem da árvore proibida. Este ato de desobediência, muitas vezes referido como "A Queda", introduz o pecado na experiência humana. Romanos 5:12 encapsula o significado deste evento: "Portanto, assim como o pecado entrou no mundo por um homem, e a morte pelo pecado, e assim a morte veio a todas as pessoas, porque todos pecaram." Aqui, o Apóstolo Paulo explica que a morte é uma consequência direta do pecado. A desobediência original de Adão e Eva trouxe uma ruptura fundamental na relação entre Deus e a humanidade, resultando tanto na morte física quanto na espiritual.
A morte física, como descrita em Gênesis 3:19, é o retorno ao pó: "Com o suor do seu rosto você comerá o seu alimento até que você retorne ao solo, pois dele você foi tirado; porque você é pó e ao pó voltará." Este versículo sublinha a mortalidade do corpo humano, uma condição que não fazia parte da criação original, mas se tornou uma realidade devido ao pecado.
A morte espiritual, por outro lado, é a separação de Deus. Efésios 2:1-2 descreve este estado: "Quanto a vocês, estavam mortos em suas transgressões e pecados, nos quais costumavam viver quando seguiam os caminhos deste mundo." A morte espiritual é caracterizada pelo afastamento de Deus, uma condição que afeta toda a humanidade devido à natureza pecaminosa inerente transmitida de Adão e Eva.
No entanto, a Bíblia não deixa a humanidade sem esperança. A narrativa da redenção se desenrola com a promessa de um Salvador. Em Gênesis 3:15, Deus declara à serpente: "E porei inimizade entre você e a mulher, e entre a sua descendência e a dela; ele esmagará a sua cabeça, e você ferirá o calcanhar dele." Este versículo é frequentemente referido como o Protoevangelium, ou o primeiro evangelho, insinuando a futura vitória de Cristo sobre o pecado e a morte.
O Novo Testamento revela o cumprimento desta promessa na pessoa de Jesus Cristo. João 3:16 afirma: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." Através de sua morte e ressurreição, Jesus conquista tanto a morte física quanto a espiritual, oferecendo vida eterna a todos que nele crêem. 1 Coríntios 15:21-22 elucida isso ainda mais: "Pois, assim como a morte veio por um homem, a ressurreição dos mortos também vem por um homem. Pois assim como em Adão todos morrem, assim em Cristo todos serão vivificados."
Teologicamente, a experiência da morte serve como um lembrete profundo da gravidade do pecado e da quebra do mundo. No entanto, também aponta para o amor redentor de Deus, que fornece um caminho para a humanidade se reconciliar com Ele. A morte, portanto, não é a palavra final. Apocalipse 21:4 oferece uma visão da esperança final: "Ele enxugará toda lágrima dos seus olhos. Não haverá mais morte, nem luto, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou." Esta promessa escatológica assegura aos crentes que a morte será eventualmente abolida, e a vida eterna com Deus será restaurada.
Na literatura cristã, este tema é ecoado por muitos teólogos. Agostinho de Hipona, em sua obra "A Cidade de Deus", reflete sobre a natureza da morte e a esperança da ressurreição. Ele escreve: "Pois o bom Deus, que fez todas as coisas muito boas, mesmo quando faz correção, não estraga a beleza de sua obra; pois Ele não corta os membros que cura, mas remove a impureza da doença ou do vício."
C.S. Lewis, em "Cristianismo Puro e Simples", também aborda a questão da morte e ressurreição. Ele afirma: "O que chamamos de 'natural' é a série de mudanças no universo que Deus fez. A morte é parte dessa série. Mas quando Deus se torna um Homem, essa parte da série em que Ele está envolvido não é 'natural', mas é um evento novo e totalmente sem precedentes. É o evento central na história da Terra - a própria coisa sobre a qual toda a história tem sido."
Em conclusão, os humanos experimentam a morte de acordo com a Bíblia por causa do pecado original de Adão e Eva, que introduziu tanto a morte física quanto a espiritual na condição humana. Esta morte serve como uma consequência do pecado e uma separação de Deus. No entanto, através do trabalho redentor de Jesus Cristo, os crentes são oferecidos a esperança da ressurreição e da vida eterna. A narrativa bíblica, de Gênesis a Apocalipse, fornece uma compreensão abrangente do papel da morte na experiência humana e do plano final de Deus para redenção e restauração.