As promessas de Deus a Israel são aplicáveis aos cristãos?

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O conceito de aliança é fundamental para entender o relacionamento entre Deus e Seu povo, conforme descrito na Bíblia. Uma aliança, em termos bíblicos, é um acordo solene entre Deus e a humanidade, frequentemente envolvendo promessas, condições e sinais. A questão de saber se as promessas de Deus a Israel são aplicáveis aos cristãos é profunda, tocando em dimensões teológicas, históricas e éticas da fé cristã. Para explorar isso, devemos nos aprofundar na natureza das alianças bíblicas, nas promessas específicas feitas a Israel e em como essas promessas são entendidas no contexto do Novo Testamento.

A Natureza das Alianças Bíblicas

A Bíblia registra várias alianças que Deus fez com a humanidade, cada uma revelando diferentes aspectos de Seu caráter e Seu plano de salvação. Notáveis entre elas são a Aliança Noética (Gênesis 9:8-17), a Aliança Abraâmica (Gênesis 12:1-3; 15:1-21; 17:1-14), a Aliança Mosaica (Êxodo 19-24), a Aliança Davídica (2 Samuel 7:12-16) e a Nova Aliança (Jeremias 31:31-34; Lucas 22:20).

Cada aliança tem seu próprio contexto e estipulações. Por exemplo, a Aliança Noética foi uma promessa de que Deus nunca mais destruiria a terra com um dilúvio, simbolizada pelo arco-íris. A Aliança Abraâmica envolvia promessas de terra, descendentes e bênção, e foi marcada pelo sinal da circuncisão. A Aliança Mosaica, dada no Sinai, incluía a Lei e os mandamentos que Israel deveria seguir, e foi ratificada através de sacrifícios e da aspersão de sangue.

As Promessas de Deus a Israel

As promessas de Deus a Israel, particularmente aquelas encontradas nas alianças Abraâmica, Mosaica e Davídica, são centrais para a narrativa do Antigo Testamento. Essas promessas incluem:

  1. Terra: Deus prometeu a Abraão e seus descendentes uma terra específica (Gênesis 12:7; 15:18-21).
  2. Descendentes: Deus prometeu que Abraão teria numerosos descendentes (Gênesis 15:5; 17:4-5).
  3. Bênção e Redenção: Deus prometeu que através da descendência de Abraão, todas as nações da terra seriam abençoadas (Gênesis 12:3; 22:18).
  4. Um Reino: Deus prometeu a Davi que seus descendentes teriam um reino eterno (2 Samuel 7:12-16).

Essas promessas foram inicialmente dadas à nação de Israel, e formaram a base da identidade e do relacionamento de Israel com Deus. A terra, a Lei, o templo e a monarquia eram todos integrais para o cumprimento dessas alianças.

O Cumprimento das Promessas em Cristo

O Novo Testamento apresenta Jesus Cristo como o cumprimento das alianças do Antigo Testamento. Os escritores dos Evangelhos e os apóstolos consistentemente interpretam a vida, morte e ressurreição de Jesus como a culminação do plano redentor de Deus, que foi prefigurado nas alianças com Israel.

  1. Cumprimento da Lei: Jesus afirmou que veio não para abolir a Lei, mas para cumpri-la (Mateus 5:17). Sua vida encarnou perfeitamente a justiça que a Lei exigia.
  2. Nova Aliança: Jesus inaugurou a Nova Aliança através de Sua morte sacrificial, que foi predita pelo profeta Jeremias (Jeremias 31:31-34) e confirmada por Jesus na Última Ceia (Lucas 22:20). Esta aliança prometia um novo relacionamento com Deus, caracterizado pela internalização de Sua lei e pelo perdão dos pecados.
  3. Bênção Universal: A promessa a Abraão de que todas as nações seriam abençoadas através de sua descendência é interpretada no Novo Testamento como sendo cumprida em Cristo (Gálatas 3:8, 16). Paulo explica que aqueles que têm fé em Cristo são considerados descendência de Abraão e herdeiros segundo a promessa (Gálatas 3:29).

Aplicabilidade aos Cristãos

Dado que Jesus é o cumprimento das promessas de Deus a Israel, surge a questão: Essas promessas são aplicáveis aos cristãos? O Novo Testamento fornece uma resposta nuançada.

  1. Israel Espiritual: Paulo em Romanos 9-11 discute o relacionamento entre Israel e a Igreja. Ele explica que nem todos os descendentes de Israel são verdadeiramente Israel (Romanos 9:6-8). Em vez disso, são aqueles que têm fé em Cristo que são considerados verdadeiros filhos de Abraão. Em Gálatas 6:16, Paulo se refere à Igreja como o "Israel de Deus", indicando que a comunidade de crentes em Cristo é a continuação do povo da aliança de Deus.
  2. Herança das Promessas: O Novo Testamento ensina que os cristãos, tanto judeus quanto gentios, são herdeiros das promessas feitas a Abraão. Em Efésios 2:11-22, Paulo explica que os gentios que estavam longe foram aproximados pelo sangue de Cristo e agora são concidadãos dos santos e membros da família de Deus. Esta inclusão dos gentios na comunidade da aliança é um cumprimento da promessa de Deus de abençoar todas as nações através da descendência de Abraão.
  3. Comunidade da Nova Aliança: A Nova Aliança, conforme descrita em Jeremias 31 e inaugurada por Jesus, é explicitamente aplicável aos cristãos. Hebreus 8:6-13 expõe isso, afirmando que Jesus é o mediador de uma aliança melhor, que é estabelecida sobre melhores promessas. Esta Nova Aliança é caracterizada por um conhecimento íntimo de Deus, a internalização de Sua lei e o perdão completo dos pecados.

Continuidade e Descontinuidade

Embora haja uma clara continuidade no cumprimento das promessas de Deus de Israel para a Igreja, também há um elemento de descontinuidade. As promessas nacionais e territoriais específicas a Israel, como a terra, têm um contexto histórico e escatológico particular que é distinto das promessas espirituais herdadas pela Igreja.

  1. Israel Histórico: As promessas de terra e a identidade nacional de Israel têm um lugar único na história redentora. Elas serviram para estabelecer um povo através do qual o Messias viria. Enquanto a Igreja herda as bênçãos espirituais da Aliança Abraâmica, as promessas territoriais específicas ainda podem ter relevância no plano escatológico de Deus para Israel étnico (Romanos 11:25-29).
  2. Cumprimento Espiritual: O Novo Testamento enfatiza o cumprimento espiritual das promessas. A herança da terra, por exemplo, é vista em um sentido mais amplo como a herança do Reino de Deus, que transcende as fronteiras geográficas (Mateus 5:5; Hebreus 11:10, 16).

Implicações Éticas

Entender a aplicabilidade das promessas de Deus aos cristãos tem implicações éticas significativas. Isso molda como os cristãos veem sua identidade, sua missão e seu relacionamento com judeus e gentios.

  1. Identidade: Os cristãos são chamados a se verem como parte da comunidade da aliança, herdeiros das promessas e participantes do plano redentor de Deus. Esta identidade está enraizada na fé em Cristo e envolve um compromisso de viver de acordo com os valores do Reino de Deus.
  2. Missão: A inclusão dos gentios na comunidade da aliança destaca o alcance universal do Evangelho. Os cristãos são chamados a ser uma luz para as nações, proclamando as boas novas de Jesus Cristo e convidando todas as pessoas a se tornarem parte da família de Deus (Mateus 28:18-20; Atos 1:8).
  3. Relacionamento com os Judeus: Os cristãos são encorajados a reconhecer e respeitar o papel único de Israel na história redentora. Paulo adverte contra a arrogância e chama à humildade e gratidão, reconhecendo que os gentios foram enxertados na rica raiz da oliveira (Romanos 11:17-21). Há uma esperança compartilhada para a futura restauração de Israel e o cumprimento final das promessas de Deus (Romanos 11:26-27).

Conclusão

Em resumo, as promessas que Deus fez a Israel são de fato aplicáveis aos cristãos, mas são entendidas através da lente do cumprimento em Cristo. Enquanto os aspectos nacionais e territoriais específicos das promessas têm um contexto histórico distinto, as bênçãos espirituais das alianças são herdadas por todos que têm fé em Jesus. Esta compreensão enriquece a identidade cristã, a missão e a conduta ética, enfatizando a continuidade do plano redentor de Deus e a natureza inclusiva de Sua comunidade da aliança.

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