A questão de saber se Jesus tinha o Espírito Santo durante Seu ministério terreno é profunda, tocando na relação intrincada e misteriosa dentro da Trindade. Como pastor cristão não-denominacional, eu afirmaria que as Escrituras fornecem evidências convincentes de que Jesus estava de fato cheio do Espírito Santo durante todo o Seu ministério terreno. Essa relação é fundamental para entender a natureza de Cristo e Sua obra na terra.
Os Evangelhos oferecem indicações claras de que o ministério de Jesus foi capacitado e guiado pelo Espírito Santo. Um dos momentos mais significativos que destacam essa relação ocorre no batismo de Jesus. No Evangelho de Mateus, lemos:
"Assim que Jesus foi batizado, saiu da água. Naquele momento, o céu se abriu, e ele viu o Espírito de Deus descendo como uma pomba e pousando sobre ele. E uma voz do céu disse: 'Este é o meu Filho amado, em quem me agrado.'" (Mateus 3:16-17, NVI)
Esta passagem é crítica por várias razões. Primeiro, demonstra a presença visível do Espírito Santo descendo sobre Jesus. A imagem da pomba significa paz, pureza e a unção do Espírito Santo. Segundo, a voz do céu, que é Deus Pai, afirma a identidade de Jesus como Filho e expressa prazer divino Nele. Este momento trinitário sublinha que Jesus, o Filho, é ungido pelo Espírito Santo e afirmado pelo Pai.
Além disso, o Evangelho de Lucas fornece mais insights sobre o papel do Espírito Santo no ministério de Jesus. Após Seu batismo, Jesus é descrito como estando "cheio do Espírito Santo" e "levado pelo Espírito ao deserto" (Lucas 4:1, NVI). Este ser levado pelo Espírito a um período de teste e tentação destaca o papel ativo do Espírito na vida e no ministério de Jesus. É através do empoderamento do Espírito que Jesus resiste às tentações do diabo e emerge vitorioso, pronto para começar Seu ministério público.
O próprio Jesus reconhece a presença e o poder do Espírito Santo em Seu ministério. Em Lucas 4:18-19, Jesus lê do rolo de Isaías na sinagoga de Nazaré:
"O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para proclamar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos, para proclamar o ano da graça do Senhor."
Ao citar Isaías 61:1-2, Jesus declara que Sua missão é dirigida pelo Espírito. A unção do Espírito Santo é central para Sua proclamação do Evangelho, Seus atos de cura e Sua libertação dos oprimidos pelo mal. Esta passagem não só afirma que Jesus tinha o Espírito Santo, mas também que todo o Seu ministério foi uma manifestação da obra do Espírito.
O Evangelho de João oferece uma profundidade teológica adicional a essa relação. João Batista testemunha sobre Jesus, dizendo:
"Eu vi o Espírito descer do céu como uma pomba e permanecer sobre ele. Eu mesmo não o conhecia, mas aquele que me enviou para batizar com água me disse: 'Aquele sobre quem você vir o Espírito descer e permanecer é o que batiza com o Espírito Santo.'" (João 1:32-33, NVI)
A frase-chave aqui é que o Espírito "permaneceu" sobre Jesus. Isso indica uma presença contínua e constante do Espírito Santo com Jesus durante todo o Seu ministério. A capacidade de Jesus de batizar com o Espírito Santo também é um testemunho de Sua relação única com o Espírito e Sua autoridade divina.
Além dos relatos dos Evangelhos, as Epístolas fornecem reflexões teológicas sobre o papel do Espírito Santo no ministério de Jesus. Por exemplo, o Apóstolo Paulo escreve em Filipenses 2:6-7 sobre a encarnação e humildade de Jesus:
"Que, sendo em forma de Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens."
Embora esta passagem não mencione explicitamente o Espírito Santo, ela prepara o terreno para entender a kenosis (auto-esvaziamento) de Cristo. Jesus, embora totalmente divino, assumiu a natureza humana e confiou no Espírito Santo para Seu ministério terreno. Essa confiança não diminui Sua divindade, mas exemplifica a harmonia perfeita dentro da Trindade.
Além disso, o autor de Hebreus fala sobre o papel do Espírito Santo na obra sacrificial de Jesus:
"Quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará a nossa consciência das obras que levam à morte, para que sirvamos ao Deus vivo!" (Hebreus 9:14, NVI)
Este versículo indica que Jesus se ofereceu a Deus "pelo Espírito eterno", sublinhando a participação do Espírito Santo na expiação. O ato sacrificial de Jesus é, portanto, visto como uma obra trinitária, com o Espírito desempenhando um papel essencial na oferta de Cristo.
O conceito teológico de pericorese, ou a interpenetração mútua da Trindade, ilumina ainda mais essa relação. A pericorese sugere que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são pessoas distintas, mas estão tão intimamente conectadas que se interpenetram. Isso significa que as ações de Jesus durante Seu ministério terreno são inerentemente ações de toda a Trindade, com o Espírito Santo participando ativamente e capacitando essas ações.
Na literatura cristã, os primeiros Padres da Igreja também reconheceram a presença do Espírito Santo no ministério de Jesus. Por exemplo, Santo Irineu de Lyon, em sua obra "Contra as Heresias", escreve sobre a unção de Jesus pelo Espírito Santo como cumprimento da profecia messiânica e capacitação de Sua missão. Da mesma forma, Santo Atanásio em "Sobre a Encarnação" fala sobre o papel do Espírito Santo na vida e obra de Cristo, enfatizando a unidade e cooperação dentro da Trindade.
Em resumo, as evidências das Escrituras e da tradição cristã apoiam esmagadoramente a visão de que Jesus tinha o Espírito Santo durante Seu ministério terreno. Desde Seu batismo até Seu ministério público, desde Seus milagres até Sua morte sacrificial, o Espírito Santo estava ativamente presente com Jesus, capacitando e guiando-O. Essa relação não só revela a profunda unidade dentro da Trindade, mas também nos assegura da natureza divina e missão de Cristo. Como crentes, podemos nos confortar em saber que o mesmo Espírito Santo que estava com Jesus também nos é prometido, capacitando e guiando-nos em nossa caminhada de fé.