O arrependimento é um conceito teológico profundo que ocupa um lugar central na doutrina e prática cristã. Para entender o arrependimento de uma perspectiva bíblica, é essencial explorar sua definição, sua importância na vida de um crente e suas implicações para a salvação e santificação.
Em sua essência, o arrependimento é derivado da palavra grega "metanoia", que significa uma mudança transformadora de coração e mente. Envolve uma decisão consciente de se afastar do pecado e se voltar para Deus. Essa mudança não é meramente um reconhecimento intelectual do erro, mas um pesar sincero pelo pecado e um compromisso genuíno de mudar o comportamento. O arrependimento é tanto um ato da vontade quanto uma obra do Espírito Santo dentro do crente.
A Bíblia oferece um rico conjunto de ensinamentos sobre o arrependimento, ilustrando sua necessidade e poder transformador. No Antigo Testamento, o conceito de arrependimento é frequentemente associado à palavra hebraica "shuv", que significa retornar ou voltar. Isso é vividamente retratado nos escritos proféticos, onde os profetas chamam Israel a retornar a Deus e abandonar seus caminhos pecaminosos. Por exemplo, o profeta Joel exorta: "Voltem-se para o SENHOR, seu Deus, pois ele é misericordioso e compassivo, tardio em irar-se e cheio de amor" (Joel 2:13, NVI). Este chamado para retornar a Deus é um tema recorrente, enfatizando que o arrependimento é um retorno ao relacionamento de aliança com Deus.
No Novo Testamento, João Batista e Jesus Cristo começam seus ministérios com um chamado claro ao arrependimento. A mensagem de João Batista é sucinta: "Arrependam-se, pois o reino dos céus está próximo" (Mateus 3:2, NVI). Jesus ecoa esse chamado, enfatizando que o arrependimento é essencial para entrar no reino de Deus: "O tempo é chegado", disse ele. "O reino de Deus está próximo. Arrependam-se e creiam nas boas novas!" (Marcos 1:15, NVI). Aqui, o arrependimento é apresentado não como um componente opcional da fé, mas como parte integrante da mensagem do evangelho.
O apóstolo Paulo elucida ainda mais a natureza do arrependimento em suas cartas. Em seu discurso aos atenienses, ele declara: "No passado Deus não levou em conta essa ignorância, mas agora ordena que todos, em todo lugar, se arrependam" (Atos 17:30, NVI). Este chamado universal ao arrependimento destaca sua necessidade para toda a humanidade. Paulo também distingue entre a tristeza do mundo, que leva à morte, e a tristeza segundo Deus, que leva ao arrependimento e à salvação (2 Coríntios 7:10, NVI). Esta distinção destaca que o verdadeiro arrependimento não é apenas sentir-se arrependido pelos pecados, mas envolve uma mudança genuína de coração que resulta em uma vida transformada.
O arrependimento também está intimamente ligado à fé. No Novo Testamento, arrependimento e fé são frequentemente mencionados juntos como dois lados da mesma moeda. Quando Pedro se dirige à multidão no Pentecostes, ele os exorta a "arrepender-se e ser batizado, cada um de vocês, em nome de Jesus Cristo para o perdão dos seus pecados" (Atos 2:38, NVI). O arrependimento e a fé em Jesus Cristo são apresentados como os meios pelos quais se recebe o perdão e se entra em uma nova vida com Deus. Esta relação entre arrependimento e fé é ainda exemplificada na parábola do filho pródigo (Lucas 15:11-32, NVI), onde o retorno do filho ao pai simboliza o arrependimento, e o abraço do pai representa a graça e o perdão recebidos pela fé.
Teologicamente, o arrependimento não é um evento único, mas um processo contínuo na vida de um crente. É um afastamento contínuo do pecado e um retorno a Deus, uma morte diária para si mesmo e uma vida para Cristo. Martinho Lutero, em suas Noventa e Cinco Teses, afirmou famosamente que "toda a vida dos crentes deve ser uma de arrependimento". Esta natureza contínua do arrependimento é capturada na exortação do apóstolo João: "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça" (1 João 1:9, NVI). Esta promessa de perdão e purificação é um convite contínuo para viver uma vida de arrependimento.
O arrependimento também tem dimensões comunitárias e sociais. Não é apenas um afastamento pessoal do pecado, mas envolve reconciliar-se com os outros e buscar justiça. O profeta Isaías chama para um arrependimento que é demonstrado através de atos de justiça e misericórdia: "Aprendam a fazer o bem; busquem a justiça. Defendam o oprimido. Defendam a causa do órfão; pleiteiem a causa da viúva" (Isaías 1:17, NVI). Esta visão holística do arrependimento desafia os crentes a alinhar suas vidas com os valores do reino de Deus, impactando seus relacionamentos e comunidades.
Na literatura cristã, os escritos dos primeiros Pais da Igreja, reformadores e teólogos contemporâneos têm exposto a importância do arrependimento. Agostinho de Hipona, em suas "Confissões", fornece um relato pungente de sua própria jornada de arrependimento, ilustrando a profunda transformação que acompanha um coração voltado para Deus. João Calvino, em suas "Institutas da Religião Cristã", enfatiza que o verdadeiro arrependimento envolve um ódio genuíno pelo pecado e um amor pela justiça. Mais recentemente, teólogos como N.T. Wright destacaram a dimensão escatológica do arrependimento, vendo-o como participação na nova criação inaugurada por Cristo.
Em última análise, a definição bíblica de arrependimento abrange uma mudança abrangente de coração, mente e ação. É um afastamento do pecado e um retorno a Deus, possibilitado pela graça de Deus e pela obra do Espírito Santo. O arrependimento é a porta para o perdão, o caminho para a reconciliação com Deus e a base para uma vida de santidade e transformação. À medida que os crentes abraçam uma vida de arrependimento, eles são continuamente conformados à imagem de Cristo, participando de Sua obra redentora no mundo.