O que a Bíblia diz sobre matar no exército?

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A perspectiva da Bíblia sobre matar no exército é um tema que tem sido debatido por teólogos, estudiosos e crentes há séculos. Como pastor cristão não denominacional, é essencial explorar essa questão complexa com uma abordagem equilibrada e ponderada, fundamentada nas escrituras e na tradição cristã mais ampla. A Bíblia fornece ensinamentos matizados sobre guerra, paz e as implicações morais de matar, e entender esses ensinamentos requer uma consideração cuidadosa tanto do Antigo quanto do Novo Testamento.

Perspectiva do Antigo Testamento

O Antigo Testamento contém numerosos relatos de guerras e engajamentos militares, muitas vezes envolvendo os israelitas. Um dos exemplos mais conhecidos é a conquista de Canaã, onde Deus ordena aos israelitas que tomem posse da terra (Josué 6-12). Essas narrativas podem ser desafiadoras de reconciliar com os padrões éticos modernos, mas refletem o contexto histórico e cultural do antigo Israel.

No Antigo Testamento, a guerra às vezes é retratada como um instrumento divino de justiça. Por exemplo, em Deuteronômio 20:1-4, Moisés instrui os israelitas sobre a conduta na guerra, enfatizando que Deus estará com eles e lhes dará vitória sobre seus inimigos:

"Quando saíres à guerra contra os teus inimigos e vires cavalos, carros e um exército maior do que o teu, não terás medo deles, pois o Senhor teu Deus está contigo, que te tirou da terra do Egito. E quando te aproximares da batalha, o sacerdote virá adiante e falará ao povo, dizendo: 'Ouve, ó Israel, hoje te aproximas da batalha contra os teus inimigos: não desfaleça o teu coração. Não temas, nem te assustes, nem te apavores diante deles, pois o Senhor teu Deus é quem vai contigo para lutar por ti contra os teus inimigos, para te dar a vitória.'"

No entanto, o Antigo Testamento também contém princípios que enfatizam a santidade da vida e a importância da justiça. Os Dez Mandamentos, dados a Moisés no Monte Sinai, incluem o mandamento "Não matarás" (Êxodo 20:13). Este mandamento sublinha o valor da vida humana e a proibição moral contra o assassinato ilegal.

Perspectiva do Novo Testamento

O Novo Testamento desloca o foco da guerra nacionalista para uma compreensão mais pessoal e espiritual do conflito e da paz. Os ensinamentos de Jesus nos Evangelhos enfatizam o amor, o perdão e a não-violência. No Sermão da Montanha, Jesus ensina:

"Ouvistes que foi dito: 'Olho por olho e dente por dente.' Mas eu vos digo: Não resistais ao mal. Mas se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra" (Mateus 5:38-39).

O chamado radical de Jesus para amar os inimigos e oferecer a outra face desafia a compreensão convencional de justiça e retribuição. Este ensinamento é ainda reforçado em Mateus 5:44-45:

"Mas eu vos digo: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem, para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus. Pois ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos."

O apóstolo Paulo ecoa os ensinamentos de Jesus em suas cartas, exortando os crentes a viverem em paz e a vencer o mal com o bem. Em Romanos 12:17-21, Paulo escreve:

"A ninguém torneis mal por mal; procurai fazer o que é honroso aos olhos de todos. Se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens. Amados, não vos vingueis a vós mesmos, mas dai lugar à ira de Deus, pois está escrito: 'Minha é a vingança; eu retribuirei, diz o Senhor.' Pelo contrário, 'se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isso, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça.' Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem."

Considerações Teológicas e Éticas

A tensão entre os relatos do Antigo Testamento de guerras sancionadas divinamente e a ênfase do Novo Testamento na paz e na não-violência levanta importantes questões teológicas e éticas para os cristãos. Ao longo da história, os cristãos desenvolveram várias perspectivas sobre a moralidade da guerra e do matar no exército, muitas vezes caindo em três categorias principais: Teoria da Guerra Justa, Pacifismo e Cruzada ou Guerra Santa.

Teoria da Guerra Justa: Esta teoria, enraizada nos escritos dos primeiros teólogos cristãos como Agostinho e posteriormente desenvolvida por Tomás de Aquino, busca reconciliar a necessidade da guerra com a ética cristã. A Teoria da Guerra Justa delineia critérios específicos que devem ser atendidos para que uma guerra seja considerada justa, incluindo uma causa justa, autoridade legítima, intenção correta, último recurso, proporcionalidade e discriminação entre combatentes e não combatentes. Este quadro visa limitar o uso da violência e garantir que a guerra seja conduzida de maneira moralmente responsável.

Pacifismo: Alguns cristãos, inspirados pelos ensinamentos de Jesus sobre a não-violência, adotam uma postura pacifista, rejeitando todas as formas de guerra e violência. Pacifistas cristãos proeminentes, como os anabatistas, quakers e menonitas, acreditam que seguir o exemplo de Jesus significa recusar-se a participar de atividades militares e, em vez disso, defender a paz e a reconciliação. Eles enfatizam o poder da resistência não-violenta e a importância de viver o chamado do evangelho ao amor e ao perdão.

Cruzada ou Guerra Santa: Em certos contextos históricos, alguns cristãos interpretaram sua fé como um chamado para guerras santas ou cruzadas, acreditando que estavam lutando por uma causa divina. Esta perspectiva tem sido amplamente desacreditada e criticada por sua associação com violência e coerção em nome da religião.

Aplicação Moderna

Para os cristãos contemporâneos, discernir a resposta apropriada ao serviço militar e as implicações éticas de matar na guerra requer reflexão orante, estudo das escrituras e engajamento com a tradição cristã mais ampla. É essencial considerar os ensinamentos de Jesus e dos apóstolos, bem como o contexto histórico e cultural das narrativas bíblicas.

Uma abordagem é buscar orientação do Espírito Santo e da comunidade cristã, reconhecendo que crentes fiéis podem chegar a conclusões diferentes com base em sua compreensão das escrituras e suas convicções pessoais. Alguns cristãos podem sentir-se chamados a servir no exército como uma forma de proteger os inocentes e promover a justiça, enquanto outros podem sentir-se compelidos a defender a paz e a não-violência em todas as circunstâncias.

Em última análise, a Bíblia chama os crentes a buscar a paz e a justiça, a amar seus inimigos e a confiar na soberania de Deus. Em Miquéias 6:8, o profeta resume os requisitos de Deus para o Seu povo:

"Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e o que o Senhor requer de ti, senão que pratiques a justiça, ames a misericórdia e andes humildemente com o teu Deus?"

Este versículo encapsula os princípios éticos que devem guiar os cristãos enquanto navegam pelas questões complexas da guerra, paz e a moralidade de matar no exército. Ao buscar praticar a justiça, amar a misericórdia e andar humildemente com Deus, os crentes podem esforçar-se para viver sua fé de uma maneira que honre a Deus e reflita os ensinamentos de Jesus.

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