A fundação do Protestantismo é um momento crucial na história do Cristianismo, um movimento que remodelou dramaticamente o cenário religioso da Europa e, eventualmente, do mundo. Para entender quem fundou o Protestantismo, devemos mergulhar na vida e nas ações de Martinho Lutero, um monge alemão cujas percepções teológicas e ações corajosas deram início à Reforma.
Martinho Lutero nasceu em 10 de novembro de 1483, em Eisleben, Alemanha. Ele foi educado na Universidade de Erfurt e mais tarde ingressou no mosteiro agostiniano em 1505. Os primeiros anos de Lutero foram marcados por um profundo senso de ansiedade espiritual, medo da ira de Deus e desejo de garantia de salvação. Esse tumulto interior o levou a estudar intensamente as Escrituras e buscar consolo nos ensinamentos da igreja.
O ponto de virada na vida de Lutero ocorreu em 1517, quando ele famosamente pregou suas "Noventa e Cinco Teses" na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg. Este documento, formalmente intitulado "Disputa sobre o Poder e a Eficácia das Indulgências", era uma crítica à prática da Igreja Católica de vender indulgências, que se acreditava reduzir a punição pelos pecados. As teses de Lutero desafiavam a autoridade do Papa e os ensinamentos da igreja sobre a salvação, argumentando que a salvação é um dom de Deus recebido apenas pela fé (Efésios 2:8-9).
As ideias de Lutero rapidamente se espalharam por toda a Europa, graças em grande parte à recente invenção da imprensa. Seus escritos ressoaram com muitos que estavam desiludidos com a corrupção e os excessos da Igreja Católica. A ênfase de Lutero na autoridade das Escrituras (sola scriptura) e na justificação pela fé somente (sola fide) tornou-se princípios centrais da Reforma Protestante.
À medida que a influência de Lutero crescia, ele enfrentava uma oposição crescente da Igreja Católica. Em 1521, ele foi excomungado pelo Papa Leão X e declarado fora da lei pelo Imperador do Sacro Império Romano Carlos V na Dieta de Worms. Apesar dessas ameaças, Lutero continuou a escrever e pregar, ganhando um seguimento significativo.
A tradução da Bíblia para o alemão por Lutero foi uma de suas contribuições mais significativas para a Reforma. Ao tornar as Escrituras acessíveis às pessoas comuns, ele as capacitou a ler e interpretar a Bíblia por si mesmas, em vez de depender exclusivamente do clero. Essa democratização do conhecimento religioso foi revolucionária e lançou as bases para a natureza diversa e descentralizada do Protestantismo.
Embora Martinho Lutero seja frequentemente creditado como o fundador do Protestantismo, é importante reconhecer que a Reforma foi um movimento complexo e multifacetado com muitas figuras-chave e variações regionais. Na Suíça, Huldrych Zwingli liderou um movimento de reforma paralelo que enfatizava a autoridade das Escrituras e a rejeição de certas práticas católicas. As ideias de Zwingli influenciaram João Calvino, cujos escritos teológicos, particularmente "Institutas da Religião Cristã", tornaram-se fundamentais para a teologia reformada.
João Calvino, nascido em 1509 em Noyon, França, foi um reformador de segunda geração que construiu sobre as ideias de Lutero e desenvolveu uma teologia sistemática que enfatizava a soberania de Deus, a predestinação e a necessidade de uma vida disciplinada e piedosa. A influência de Calvino se estendeu além da Suíça para a França, os Países Baixos, a Escócia e a Inglaterra, onde suas ideias moldaram o desenvolvimento de várias denominações protestantes.
Na Inglaterra, a Reforma seguiu um curso único, começando com a ruptura do Rei Henrique VIII com a Igreja Católica Romana em 1534. Esta decisão política e pessoal, motivada pelo desejo de Henrique de anular seu casamento com Catarina de Aragão, levou ao estabelecimento da Igreja da Inglaterra, com o monarca como seu chefe supremo. Embora a Reforma Inglesa inicialmente tenha mantido muitas práticas católicas, ela gradualmente adotou mais doutrinas protestantes sob a influência de reformadores como Thomas Cranmer e, posteriormente, puritanos que buscavam purificar a igreja dos elementos católicos remanescentes.
A Reforma também teve um impacto profundo no movimento anabatista, que surgiu no início do século XVI. Os anabatistas, como Menno Simons, rejeitavam o batismo infantil e defendiam uma separação radical entre igreja e estado. Sua ênfase no batismo de adultos, pacifismo e vida comunitária os diferenciava tanto dos católicos quanto de outros grupos protestantes.
A Reforma não foi um movimento monolítico, mas sim uma série de esforços interconectados e sobrepostos para reformar a igreja e retornar ao que muitos reformadores viam como a pureza do cristianismo primitivo. Embora Martinho Lutero seja frequentemente visto como o fundador do Protestantismo devido ao seu papel crucial em iniciar a Reforma, é essencial reconhecer as contribuições de outros reformadores como Zwingli, Calvino, Cranmer e os anabatistas, que cada um desempenhou um papel significativo na formação do diversificado cenário do cristianismo protestante.
O impacto da Reforma na tradução da Bíblia não pode ser subestimado. A tradução do Novo Testamento para o alemão por Lutero, concluída em 1522, foi uma realização marcante que tornou as Escrituras acessíveis às pessoas comuns. Sua tradução completa da Bíblia, publicada em 1534, estabeleceu um alto padrão de precisão e legibilidade. O trabalho de Lutero inspirou outras traduções, como o Novo Testamento em inglês de William Tyndale, que lançou as bases para a Versão King James.
A ênfase da Reforma na autoridade das Escrituras levou a uma proliferação de traduções da Bíblia em línguas vernáculas, capacitando os indivíduos a ler e interpretar a Bíblia por si mesmos. Essa mudança teve profundas implicações teológicas e culturais, fomentando um espírito de investigação, individualismo e responsabilidade pessoal em questões de fé.
Em conclusão, embora Martinho Lutero seja frequentemente creditado como o fundador do Protestantismo devido ao seu papel crucial em iniciar a Reforma, é essencial reconhecer as contribuições de outros reformadores que moldaram o movimento. A Reforma foi um fenômeno complexo e multifacetado que transformou o cristianismo e teve um impacto duradouro na tradução e recepção da Bíblia. Através dos esforços de Lutero, Zwingli, Calvino e outros, a Reforma trouxe uma ênfase renovada na autoridade das Escrituras, na justificação pela fé e no sacerdócio de todos os crentes, princípios que continuam a moldar o cristianismo protestante hoje.