A questão de saber se milagres ainda acontecem hoje é uma que tem intrigado e inspirado inúmeros crentes e buscadores. Para responder a essa pergunta de uma perspectiva bíblica, é essencial explorar a natureza dos milagres conforme descritos nas Escrituras, seu propósito e as implicações teológicas de sua ocorrência nos tempos contemporâneos.
Na Bíblia, milagres são eventos extraordinários que transcendem as leis naturais, realizados por Deus ou através de indivíduos capacitados por Ele, para revelar Seu poder, afirmar Sua mensagem e cumprir Seus propósitos. O Antigo e o Novo Testamento estão repletos de relatos de eventos milagrosos. Desde a abertura do Mar Vermelho (Êxodo 14:21-22) até a ressurreição de Jesus Cristo (Mateus 28:5-6), esses milagres servem como evidências tangíveis da intervenção de Deus na história humana.
Teologicamente, os milagres na Bíblia servem a vários propósitos-chave. Primeiro, eles autenticam o mensageiro e a mensagem. Por exemplo, no Antigo Testamento, os milagres realizados por Moisés, como as pragas no Egito (Êxodo 7-12), validaram sua comissão divina para liderar os israelitas para fora da escravidão. Da mesma forma, no Novo Testamento, os milagres de Jesus e dos apóstolos confirmaram sua autoridade divina e a verdade do Evangelho que proclamavam. Hebreus 2:3-4 destaca isso ao afirmar: "Esta salvação, que foi anunciada primeiro pelo Senhor, foi confirmada a nós por aqueles que o ouviram. Deus também deu testemunho dela por sinais, maravilhas e vários milagres, e por dons do Espírito Santo distribuídos conforme sua vontade."
Segundo, os milagres demonstram a compaixão e o cuidado de Deus por Seu povo. A cura dos doentes por Jesus, a alimentação das multidões e a ressurreição dos mortos são expressões profundas de Seu amor e misericórdia. Esses atos de compaixão não são meramente demonstrações de poder; eles revelam o coração de Deus para com a humanidade.
Terceiro, os milagres servem como uma antecipação do Reino vindouro de Deus. Eles fornecem vislumbres da restauração e renovação que serão plenamente realizadas no futuro escatológico. Os milagres de cura de Jesus, por exemplo, apontam para um tempo em que não haverá mais doença, dor ou morte (Apocalipse 21:4).
Dada essa compreensão dos milagres, surge a pergunta: Os milagres ainda acontecem hoje? Para abordar isso, é importante considerar várias perspectivas bíblicas e teológicas.
Primeiro, a Bíblia não afirma explicitamente que os milagres cessariam após a era apostólica. Embora alguns teólogos, particularmente os cessacionistas, argumentem que os dons milagrosos do Espírito eram específicos da era apostólica e não estão mais operantes, essa visão não é universalmente aceita. Os continuacionistas, por outro lado, acreditam que os dons do Espírito, incluindo milagres, continuam disponíveis para a igreja hoje. Eles apontam para passagens como 1 Coríntios 12:7-11, onde Paulo lista os dons do Espírito, incluindo milagres, e sugere que esses dons são dados para o bem comum da igreja.
Além disso, a Grande Comissão em Marcos 16:17-18 inclui a promessa de que sinais milagrosos acompanharão aqueles que crerem: "E estes sinais acompanharão os que crerem: Em meu nome expulsarão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal algum; colocarão as mãos sobre os doentes, e eles ficarão curados." Embora haja debate sobre a autenticidade dessa passagem, ela reflete uma expectativa de atividade milagrosa contínua entre os crentes.
Relatos históricos e contemporâneos de milagres também fornecem evidências convincentes de sua ocorrência contínua. Ao longo da história da igreja, houve inúmeros relatos de curas milagrosas, libertações e outros eventos extraordinários. Por exemplo, os pais da igreja primitiva, como Irineu e Agostinho, documentaram instâncias de milagres em seus escritos. Em tempos mais recentes, há casos bem documentados de curas milagrosas e outras ocorrências sobrenaturais em várias partes do mundo, particularmente em regiões que experimentam um avivamento espiritual significativo.
No entanto, é crucial abordar as alegações contemporâneas de milagres com discernimento. A Bíblia adverte contra falsos profetas e milagres falsificados (Mateus 24:24; 2 Tessalonicenses 2:9). Portanto, qualquer alegação de um milagre deve ser cuidadosamente avaliada à luz das Escrituras e dos frutos que produz. Milagres verdadeiros glorificarão a Deus, alinhar-se-ão com a verdade bíblica e resultarão em transformação genuína e edificação da igreja.
Além disso, é importante reconhecer que a ausência de um evento milagroso não indica a falta da presença ou atividade de Deus. Deus trabalha de diversas maneiras, muitas vezes através de meios ordinários e processos naturais. As obras providenciais de Deus na vida cotidiana, embora não classificadas como milagres, não são menos significativas. Como o apóstolo Paulo nos lembra, "E sabemos que em todas as coisas Deus trabalha para o bem daqueles que o amam, que foram chamados segundo o seu propósito" (Romanos 8:28).
Além disso, o milagre supremo da fé cristã é a ressurreição de Jesus Cristo e a nova vida disponível através Dele. O poder transformador do Evangelho, que traz renascimento espiritual e reconciliação com Deus, é o maior milagre de todos. Como Paulo escreve em 2 Coríntios 5:17, "Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação: As coisas antigas já passaram, eis que surgiram coisas novas!"
Em conclusão, embora a Bíblia não forneça uma resposta definitiva sobre a cessação ou continuação dos milagres, há evidências bíblicas e históricas substanciais para apoiar a crença de que milagres podem e ocorrem hoje. Eles servem como manifestações do poder de Deus, amor e a irrupção de Seu Reino. No entanto, os crentes são chamados a exercer discernimento e a reconhecer que a obra de Deus não se limita ao milagroso. O ordinário e o extraordinário são ambos arenas de Sua atividade divina, e o maior milagre permanece a obra redentora de Cristo nos corações e vidas de Seu povo.