A questão de saber se Deus pode curar doenças físicas hoje é uma que tem implicações profundas para nossa fé, nossa compreensão da natureza de Deus e nossa abordagem à oração e ao sofrimento. Como pastor cristão não denominacional, acredito que uma exploração cuidadosa e fundamentada biblicamente dessa questão pode fornecer tanto esperança quanto clareza.
A Bíblia está repleta de exemplos de cura divina, do Antigo Testamento ao Novo Testamento. No Antigo Testamento, vemos Deus como Jeová-Rafa, "o Senhor que cura" (Êxodo 15:26). Este nome revela a natureza de Deus e Sua disposição para curar as enfermidades físicas de Seu povo. Por exemplo, em 2 Reis 5, lemos sobre Naamã, um comandante do exército do rei da Síria, que foi curado da lepra após seguir as instruções do profeta Eliseu para se lavar no rio Jordão. Esta história enfatiza que o poder de Deus para curar não é limitado pelo tempo ou lugar.
No Novo Testamento, o ministério de Jesus Cristo é marcado por inúmeras curas. Jesus curou os cegos (João 9:1-12), os coxos (João 5:1-15) e aqueles que sofriam de várias doenças (Mateus 4:23-24). Talvez um dos exemplos mais convincentes seja encontrado em Mateus 8:16-17, onde está escrito: "Ao anoitecer, trouxeram-lhe muitos endemoninhados, e ele expulsou os espíritos com uma palavra e curou todos os doentes. Isso foi para cumprir o que foi dito pelo profeta Isaías: 'Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e levou as nossas doenças.'" Esta passagem não só destaca o ministério de cura de Jesus, mas também o conecta às palavras proféticas de Isaías 53:4, indicando que a cura faz parte da obra redentora de Cristo.
Os apóstolos continuaram este ministério de cura após a ascensão de Jesus. Em Atos 3:1-10, Pedro e João curam um homem que era coxo desde o nascimento, demonstrando que o poder de Deus para curar não cessou com o ministério terreno de Jesus. Tiago 5:14-16 fornece mais instruções para a igreja primitiva sobre a cura: "Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados. Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis. A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos."
Dada esta base bíblica, é claro que Deus tem o poder de curar doenças físicas. No entanto, a pergunta permanece: Deus ainda cura hoje? Muitos cristãos, incluindo eu, acreditam que sim. Existem inúmeros testemunhos contemporâneos de indivíduos que experimentaram a cura divina, muitas vezes em resposta a orações fervorosas. Esses relatos servem como afirmações modernas da contínua disposição e capacidade de Deus para curar.
Alguém pode perguntar por que, se Deus pode curar, nem todos são curados. Esta é uma questão profundamente complexa que toca no mistério da vontade de Deus e na natureza do sofrimento. O apóstolo Paulo fornece alguma visão sobre isso em 2 Coríntios 12:7-10, onde ele fala de um "espinho na carne" que ele implorou a Deus para remover. A resposta de Deus foi: "A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza." Paulo conclui: "Portanto, de boa vontade me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque, quando estou fraco, então sou forte." Esta passagem sugere que há momentos em que Deus, em Sua sabedoria soberana, permite que o sofrimento persista para um propósito maior.
Também é importante considerar o papel da fé na cura. Jesus muitas vezes atribuía a cura à fé do indivíduo ou daqueles que intercediam em seu nome. Em Marcos 5:34, Jesus disse à mulher que estava sangrando há doze anos: "Filha, a tua fé te curou. Vai em paz e fica livre do teu sofrimento." No entanto, é crucial entender que a fé não é uma fórmula ou garantia de cura. A fé é confiar na bondade e soberania de Deus, independentemente do resultado.
Além da fé, a Bíblia nos ensina a orar persistentemente e com um coração alinhado à vontade de Deus. Em Lucas 18:1-8, Jesus compartilha a parábola da viúva persistente para encorajar Seus discípulos a sempre orar e não desanimar. Esta parábola destaca a importância da perseverança na oração. No entanto, nossas orações devem estar em harmonia com a vontade de Deus, como Jesus modelou no Jardim do Getsêmani quando orou: "Pai, se queres, passa de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, mas a tua" (Lucas 22:42).
No contexto mais amplo da teologia cristã, a cura pode ser vista como um antegosto da cura definitiva que ocorrerá nos novos céus e na nova terra. Apocalipse 21:4 oferece uma visão dessa realidade futura: "Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, porque a antiga ordem já passou." Esta esperança escatológica nos lembra que, embora possamos experimentar o poder de cura de Deus nesta vida, a cura completa e final nos aguarda na eternidade.
A literatura cristã também fornece insights valiosos sobre o tema da cura. Por exemplo, em seu livro "O Problema do Sofrimento", C.S. Lewis explora o propósito do sofrimento e como ele pode levar a um relacionamento mais profundo com Deus. Ele escreve: "Deus sussurra para nós em nossos prazeres, fala em nossa consciência, mas grita em nossas dores: é o Seu megafone para despertar um mundo surdo." Lewis sugere que, embora Deus possa e cure, Ele também usa o sofrimento para nos aproximar Dele e cumprir Seus propósitos em nossas vidas.
Da mesma forma, Joni Eareckson Tada, uma autora e palestrante cristã que vive com tetraplegia desde um acidente de mergulho na juventude, oferece uma perspectiva sobre cura e sofrimento. Em seu livro "Um Lugar de Cura", ela compartilha sua jornada pessoal de busca pela cura e, finalmente, encontrando paz na soberania de Deus. Ela escreve: "A verdadeira cura é muito mais do que ser capaz de andar. É uma cura mais profunda da alma, uma cura que liga os corações partidos e liberta os cativos."
Em conclusão, a Bíblia afirma que Deus tem o poder de curar doenças físicas e que Ele continua a fazê-lo hoje. No entanto, o mistério de por que alguns são curados e outros não nos chama a confiar na sabedoria e soberania de Deus. Nosso papel é orar com fé, persistência e um coração alinhado à vontade de Deus, enquanto mantemos a esperança da cura definitiva na eternidade. Quer experimentemos a cura física ou não, podemos ter a certeza de que a graça de Deus é suficiente e Seu poder se aperfeiçoa em nossa fraqueza.