O conceito de aliança é central para entender a narrativa bíblica, servindo como um tema fundamental que permeia todo o cânone das Escrituras. Uma aliança, em termos bíblicos, é um acordo ou promessa solene entre duas partes, muitas vezes envolvendo compromissos e obrigações. Embora as alianças mais significativas na Bíblia sejam aquelas feitas entre Deus e a humanidade, surge a questão: podem votos ou alianças ser feitos com entidades além de Deus?
Para responder a essa pergunta, é essencial explorar a natureza das alianças na Bíblia, os diferentes tipos de alianças que existem e exemplos específicos de alianças feitas com entidades além de Deus.
Na Bíblia, uma aliança é mais do que apenas um contrato; é um acordo vinculativo e sagrado que muitas vezes envolve um componente relacional profundo. A palavra hebraica para aliança, "berit", transmite a ideia de uma promessa ou acordo vinculativo. As alianças na Bíblia geralmente incluem elementos como promessas, estipulações, bênçãos, maldições e sinais ou símbolos que servem como lembretes da aliança.
As alianças mais proeminentes na narrativa bíblica são aquelas entre Deus e a humanidade, como a Aliança Noaica (Gênesis 9:8-17), a Aliança Abraâmica (Gênesis 12:1-3; 15:1-21), a Aliança Mosaica (Êxodo 19-24), a Aliança Davídica (2 Samuel 7:12-16) e a Nova Aliança (Jeremias 31:31-34; Lucas 22:20). Essas alianças revelam o plano redentor de Deus e Seu desejo de estar em relacionamento com Seu povo.
Embora as alianças divino-humanas sejam centrais para a história bíblica, a Bíblia também contém exemplos de alianças humanas. Essas alianças, embora não tão teologicamente significativas quanto aquelas feitas com Deus, ainda são consideradas acordos vinculativos e sagrados. Exemplos de alianças humanas incluem:
Aliança Entre Abraão e Abimeleque: Em Gênesis 21:22-32, Abraão e Abimeleque, o rei de Gerar, fazem uma aliança em Berseba. Esta aliança envolve promessas mútuas e a troca de sete cordeiras como testemunha. O propósito desta aliança é estabelecer relações pacíficas e resolver uma disputa sobre um poço.
Aliança Entre Jacó e Labão: Em Gênesis 31:44-54, Jacó e seu sogro Labão fazem uma aliança para garantir relações pacíficas após Jacó deixar a casa de Labão. Eles erguem um monte de pedras como testemunha de seu acordo, e ambas as partes juram pelo Deus de seus pais.
Aliança Entre Jônatas e Davi: Em 1 Samuel 18:1-4 e 1 Samuel 20:12-17, Jônatas, o filho do rei Saul, e Davi, o futuro rei de Israel, fazem uma aliança de amizade e lealdade. Jônatas dá a Davi seu manto, armadura, espada, arco e cinto como sinal de sua aliança. Esta aliança é caracterizada por um profundo compromisso pessoal e apoio mútuo.
Esses exemplos demonstram que as alianças entre humanos são reconhecidas e honradas na narrativa bíblica. Elas envolvem promessas solenes e frequentemente incluem sinais ou símbolos para marcar o acordo.
Além das alianças, a Bíblia também fala de votos, que são promessas ou compromissos solenes feitos por um indivíduo. Os votos podem ser feitos a Deus ou a outras pessoas, e são considerados vinculativos. A palavra hebraica para voto, "neder", enfatiza a seriedade da promessa.
Votos Feitos a Deus: No Antigo Testamento, os votos feitos a Deus são levados muito a sério. Por exemplo, em Números 30:2, está escrito: "Se um homem fizer um voto ao Senhor ou fizer um juramento para se obrigar por um compromisso, não quebrará sua palavra. Fará conforme tudo o que saiu de sua boca." Da mesma forma, em Eclesiastes 5:4-5, lemos: "Quando fizer um voto a Deus, não demore em cumpri-lo. Ele não tem prazer em tolos; cumpra seu voto. É melhor não fazer um voto do que fazer um e não cumpri-lo."
Votos Feitos a Outras Pessoas: A Bíblia também contém exemplos de votos feitos a outras pessoas. Por exemplo, em 1 Samuel 1:11, Ana faz um voto a Deus de que, se Ele lhe der um filho, ela o dedicará ao serviço do Senhor. No entanto, ela também comunica esse voto a Eli, o sacerdote, tornando-o conhecido a outra pessoa. Em outro exemplo, Jefté faz um voto a Deus em Juízes 11:30-31, mas o cumprimento desse voto envolve sua filha, ilustrando o impacto dos votos nas relações humanas.
Dado os exemplos bíblicos de alianças e votos humanos, é evidente que alianças podem ser feitas com entidades além de Deus. Essas alianças e votos são reconhecidos como vinculativos e têm um peso significativo. No entanto, é essencial considerar o contexto e a natureza desses acordos.
Alianças com Nações: A Bíblia registra instâncias em que alianças são feitas entre nações ou grupos de pessoas. Por exemplo, em Josué 9, os gibeonitas enganam os israelitas para fazer uma aliança de paz com eles. Apesar do engano, os israelitas honram a aliança porque juraram um juramento diante do Senhor (Josué 9:18-20). Isso demonstra a seriedade com que as alianças são consideradas, mesmo quando feitas com outras nações.
Alianças com Indivíduos: Como visto nos exemplos de Abraão e Abimeleque, Jacó e Labão, e Jônatas e Davi, as alianças entre indivíduos também são consideradas vinculativas. Essas alianças frequentemente envolvem promessas de lealdade, paz e apoio mútuo.
Alianças com Grupos: Em Neemias 9:38-10:39, o povo de Israel faz uma aliança com Deus, mas é um acordo coletivo envolvendo toda a comunidade. Esta aliança inclui compromissos de seguir a lei de Deus e se separar de influências estrangeiras. Embora a aliança principal seja com Deus, ela é feita coletivamente pelo povo, ilustrando o aspecto comunitário das alianças.
O reconhecimento de alianças e votos feitos com entidades além de Deus tem várias implicações teológicas. Primeiro, destaca a importância da integridade e fidelidade nas relações humanas. Assim como as alianças com Deus exigem fidelidade, também as alianças e votos feitos com outras pessoas. Quebrar uma aliança ou voto é visto como uma ofensa grave, refletindo a falta de integridade e confiabilidade.
Segundo, o conceito de aliança destaca a natureza relacional dos tratos de Deus com a humanidade. Ao incluir exemplos de alianças humanas, a Bíblia enfatiza que as relações entre as pessoas também são sagradas e devem ser tratadas com honra e respeito. Isso reflete o tema bíblico mais amplo de amar o próximo e viver em relacionamento correto com os outros.
Finalmente, a seriedade com que as alianças e votos são considerados na Bíblia serve como um lembrete do peso de nossas palavras e compromissos. Quer sejam feitos a Deus ou a outras pessoas, nossas promessas devem ser mantidas, e nossa integridade deve ser mantida. Isso está alinhado com o ensino de Jesus em Mateus 5:33-37, onde Ele enfatiza a importância da honestidade e simplicidade ao fazer compromissos: "Que o que você diz seja simplesmente 'Sim' ou 'Não'; qualquer coisa além disso vem do mal" (Mateus 5:37, ESV).
Em resumo, embora as alianças mais significativas na Bíblia sejam aquelas feitas entre Deus e a humanidade, a narrativa bíblica também reconhece e honra alianças e votos feitos com entidades além de Deus. Essas alianças, sejam entre indivíduos, nações ou grupos, são consideradas vinculativas e têm um peso significativo. Elas destacam a importância da integridade, fidelidade e a sacralidade das relações humanas. Como seguidores de Cristo, somos chamados a honrar nossos compromissos, quer sejam feitos a Deus ou a outros, refletindo o caráter de um Deus que guarda alianças em nossas próprias vidas.