Por que os cristãos têm tanto um Antigo Testamento quanto um Novo Testamento?

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A presença tanto do Antigo Testamento quanto do Novo Testamento na Bíblia cristã está profundamente enraizada no conceito de aliança, um tema fundamental que percorre toda a narrativa bíblica. O termo "testamento" em si é derivado da palavra latina "testamentum", que traduz a palavra grega "diatheke", que significa "aliança". Portanto, quando nos referimos ao Antigo e ao Novo Testamento, estamos essencialmente falando das Antigas e Novas Alianças.

Na Bíblia, uma aliança é um acordo solene entre Deus e Seu povo, muitas vezes envolvendo promessas, estipulações e sinais. O Antigo Testamento, ou Antiga Aliança, refere-se principalmente aos acordos que Deus fez com o povo de Israel, enquanto o Novo Testamento, ou Nova Aliança, fala do novo relacionamento que Deus estabeleceu com a humanidade através de Jesus Cristo.

O Antigo Testamento: A Fundação das Promessas de Deus

O Antigo Testamento é rico em várias alianças que Deus fez com Seu povo, cada uma servindo como um bloco de construção em Seu plano divino para a humanidade. A primeira aliança significativa é a que Deus fez com Noé após o dilúvio, simbolizada pelo arco-íris (Gênesis 9:8-17). Esta aliança foi uma promessa universal de que Deus nunca mais destruiria a terra com um dilúvio.

Em seguida vem a Aliança Abraâmica, onde Deus promete a Abraão que ele será o pai de uma grande nação, que seus descendentes herdarão a terra de Canaã e que através dele todas as nações da terra serão abençoadas (Gênesis 12:1-3, 15:1-21, 17:1-14). Esta aliança é crucial porque prepara o caminho para a vinda do Messias, através de quem a bênção final para todas as nações viria.

A Aliança Mosaica, dada através de Moisés no Monte Sinai, é outro momento crucial. Aqui, Deus fornece a Lei, incluindo os Dez Mandamentos, e estabelece Israel como Seu povo escolhido (Êxodo 19-24). Esta aliança é condicional, baseada na obediência de Israel às leis de Deus. O sistema sacrificial e o sacerdócio também são introduzidos como um meio de expiação e manutenção do relacionamento entre um Deus santo e um povo pecador.

A Aliança Davídica estreita ainda mais o foco para a linhagem do Rei Davi, prometendo que seu trono será estabelecido para sempre (2 Samuel 7:12-16). Esta aliança é messiânica, apontando para Jesus Cristo, que é frequentemente referido como o Filho de Davi no Novo Testamento.

O Novo Testamento: Cumprimento e Transformação

O Novo Testamento é o registro da Nova Aliança, que foi profetizada no Antigo Testamento e cumprida em Jesus Cristo. O profeta Jeremias falou de uma nova aliança que seria diferente da feita com os antepassados de Israel quando foram tirados do Egito (Jeremias 31:31-34). Esta nova aliança envolveria a lei sendo escrita nos corações das pessoas, e seus pecados sendo perdoados e não mais lembrados.

O próprio Jesus inaugurou esta Nova Aliança durante a Última Ceia, onde Ele tomou o cálice e disse: "Este cálice é a nova aliança no meu sangue, que é derramado por vós" (Lucas 22:20). Através de Sua morte sacrificial e ressurreição, Jesus cumpriu os requisitos da Antiga Aliança e estabeleceu uma nova maneira para a humanidade se relacionar com Deus. Esta Nova Aliança é baseada na graça em vez da lei, na fé em vez das obras, e está disponível para todas as pessoas, não apenas para os descendentes de Abraão.

O Apóstolo Paulo elabora sobre isso em suas cartas, particularmente no livro de Romanos e Gálatas. Ele explica que a lei era um tutor para nos conduzir a Cristo, mas agora que a fé chegou, não estamos mais sob um tutor (Gálatas 3:24-25). Paulo também enfatiza que em Cristo não há judeu nem gentio, escravo nem livre, homem nem mulher, mas todos são um Nele (Gálatas 3:28). Esta universalidade da Nova Aliança é uma mudança significativa em relação ao foco nacional da Antiga Aliança.

Continuidade e Descontinuidade

Embora o Antigo e o Novo Testamento representem diferentes alianças, há tanto continuidade quanto descontinuidade entre eles. A continuidade reside no fato de que a Nova Aliança cumpre as promessas e profecias da Antiga Aliança. Jesus não veio para abolir a lei, mas para cumpri-la (Mateus 5:17). Os ensinamentos morais e éticos do Antigo Testamento ainda têm valor, mas agora são entendidos através da vida, morte e ressurreição de Cristo.

A descontinuidade é vista na mudança do antigo sistema sacrificial para o sacrifício único de Jesus. O livro de Hebreus elabora sobre isso, explicando que o sangue de touros e bodes nunca poderia tirar os pecados, mas o sacrifício de Cristo é suficiente para todos os tempos (Hebreus 10:1-18). O sacerdócio também mudou; Jesus é agora nosso sumo sacerdote, que intercede por nós diante do Pai (Hebreus 4:14-16).

Implicações Teológicas

A existência tanto do Antigo quanto do Novo Testamento na Bíblia cristã destaca várias verdades teológicas importantes. Primeiro, destaca a fidelidade de Deus. Apesar do fracasso e desobediência humana, Deus permanece comprometido com Suas promessas. As alianças revelam um Deus que é tanto justo quanto misericordioso, santo e amoroso.

Segundo, demonstra a natureza progressiva da revelação de Deus. O Antigo Testamento estabelece as bases, fornecendo o contexto histórico e teológico para a vinda de Cristo. O Novo Testamento revela a plenitude do plano de Deus, mostrando como as promessas do Antigo Testamento são realizadas em Jesus.

Terceiro, enfatiza a importância das Escrituras como um todo unificado. Embora o Antigo e o Novo Testamento tenham ênfases e contextos diferentes, juntos contam a história abrangente da obra redentora de Deus na história. Esta unidade das Escrituras é crucial para entender o caráter de Deus e Seus propósitos para a humanidade.

Aplicações Práticas

Para os cristãos de hoje, ter tanto o Antigo quanto o Novo Testamento é essencial para uma fé bem equilibrada. O Antigo Testamento nos ensina sobre o caráter de Deus, Sua criação e Seus tratos com a humanidade. Ele fornece sabedoria, poesia, profecia e história que são inestimáveis para entender a condição humana e as expectativas de Deus para nós.

O Novo Testamento, por outro lado, fornece a revelação de Jesus Cristo, o fundamento da fé cristã. Ele oferece os ensinamentos de Jesus, os atos dos apóstolos e os insights teológicos de Paulo e outros escritores, que são cruciais para viver a vida cristã.

Ambos os Testamentos juntos ajudam os crentes a entender o escopo completo da história da salvação de Deus. Eles nos guiam na adoração, ética e missão, mostrando-nos como viver de uma maneira que honra a Deus e reflete Seu amor ao mundo.

Em conclusão, os cristãos têm tanto um Antigo Testamento quanto um Novo Testamento porque eles representam as duas principais alianças que Deus fez com a humanidade. O Antigo Testamento estabelece a base, revelando o caráter de Deus e Suas promessas iniciais. O Novo Testamento cumpre e transforma essas promessas através da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Juntos, eles fornecem uma revelação abrangente e unificada do plano redentor de Deus, guiando os crentes na fé e na prática.

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