A história de Estêvão no Livro de Atos é uma narrativa convincente que destaca os desafios da igreja cristã primitiva, o poder da fé e o custo final do discipulado. A história de Estêvão é encontrada principalmente em Atos 6:1–8:2, e serve como um momento crucial na história da igreja primitiva, marcando o primeiro martírio registrado de um cristão.
Estêvão foi um dos sete homens escolhidos pelos apóstolos para servir como diáconos na igreja primitiva. Os apóstolos reconheceram a necessidade de assistência na distribuição diária de alimentos e ajuda às viúvas, particularmente entre os judeus helenistas que sentiam que suas viúvas estavam sendo negligenciadas (Atos 6:1). Para resolver isso, os apóstolos decidiram nomear sete homens "cheios do Espírito e de sabedoria" (Atos 6:3) para supervisionar esses assuntos práticos, permitindo que os apóstolos se concentrassem na oração e no ministério da palavra.
Estêvão é descrito como "um homem cheio de fé e do Espírito Santo" (Atos 6:5). Ele não era apenas um servo no sentido prático, mas também uma poderosa testemunha do evangelho. Atos 6:8 nos diz que Estêvão, "cheio de graça e poder, fazia grandes maravilhas e sinais entre o povo." Seu ministério e sua capacidade de realizar milagres chamaram a atenção, mas também atraíram oposição.
Membros da Sinagoga dos Libertos, um grupo de judeus de Cirene, Alexandria, Cilícia e Ásia, começaram a discutir com Estêvão. No entanto, eles não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito com que ele falava (Atos 6:9-10). Incapazes de derrotá-lo no debate, recorreram a táticas mais desonestas. Eles secretamente persuadiram alguns homens a dizer que ouviram Estêvão falar palavras blasfemas contra Moisés e Deus (Atos 6:11). Essa acusação era séria, pois a blasfêmia era um crime punível com a morte pela lei judaica.
Estêvão foi preso e levado perante o Sinédrio, o conselho governante judaico. Falsas testemunhas foram montadas para testemunhar contra ele, alegando que ele nunca parava de falar contra o lugar santo e a lei, e que ele disse que Jesus de Nazaré destruiria o templo e mudaria os costumes que Moisés transmitiu (Atos 6:13-14). Enquanto Estêvão estava diante do conselho, seu rosto foi descrito como sendo "como o rosto de um anjo" (Atos 6:15), um sinal de sua inocência e favor divino.
Em resposta às acusações, Estêvão fez um sermão poderoso e longo (Atos 7), que é um dos discursos mais longos no Livro de Atos. Ele recontou a história de Israel, de Abraão a Salomão, enfatizando a fidelidade de Deus e a repetida desobediência do povo. Estêvão destacou como os patriarcas, Moisés e os profetas foram frequentemente rejeitados pelo próprio povo que foram enviados para salvar. Ele apontou que o templo, que os judeus tinham em tão alta consideração, não era a morada final de Deus, citando Isaías 66:1-2 para lembrá-los de que "o Altíssimo não habita em casas feitas por mãos humanas."
O discurso de Estêvão atingiu seu clímax quando ele acusou o Sinédrio de ser "povo de dura cerviz, incircunciso de coração e ouvidos," que sempre resistia ao Espírito Santo. Ele os acusou de trair e assassinar o Justo, Jesus Cristo, assim como seus antepassados perseguiram os profetas (Atos 7:51-53). Esta proclamação ousada cortou o coração dos membros do conselho, que ficaram enfurecidos com suas palavras.
Enquanto rangiam os dentes contra ele, Estêvão, cheio do Espírito Santo, olhou para o céu e viu a glória de Deus e Jesus em pé à direita de Deus. Ele declarou: "Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem em pé à direita de Deus" (Atos 7:55-56). Esta visão enfureceu ainda mais o conselho, que a viu como a blasfêmia final. Eles taparam os ouvidos e, com um grande grito, correram para ele, arrastaram-no para fora da cidade e começaram a apedrejá-lo.
Enquanto Estêvão estava sendo apedrejado, ele orou: "Senhor Jesus, recebe o meu espírito" (Atos 7:59). Então, em um ato final de graça e perdão, ele clamou: "Senhor, não lhes imputes este pecado" (Atos 7:60). Com essas palavras, ele adormeceu, um eufemismo para sua morte. O martírio de Estêvão é um testemunho profundo de sua fé e seu perdão semelhante ao de Cristo, ecoando as próprias palavras de Jesus na cruz: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem" (Lucas 23:34).
Presente no apedrejamento de Estêvão estava um jovem chamado Saulo, que mais tarde se tornaria o Apóstolo Paulo. Saulo aprovou a execução de Estêvão (Atos 8:1), e este evento marcou o início de uma grande perseguição contra a igreja em Jerusalém. Os crentes foram dispersos por toda a Judeia e Samaria, mas continuaram a pregar a palavra onde quer que fossem (Atos 8:4). Assim, a morte de Estêvão, embora trágica, também serviu para espalhar o evangelho além de Jerusalém, cumprindo o comando de Jesus de serem suas testemunhas "em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, e até os confins da terra" (Atos 1:8).
A história de Estêvão é um poderoso lembrete do custo do discipulado e do chamado para permanecer firme na fé, mesmo diante de uma oposição severa. Seu compromisso inabalável com a verdade e sua disposição de perdoar seus perseguidores servem como um exemplo duradouro para os cristãos ao longo dos tempos. O martírio de Estêvão também destaca o poder transformador do evangelho, pois as sementes de seu testemunho contribuíram para a conversão de Saulo e a disseminação do cristianismo por toda parte.
Ao refletir sobre a história de Estêvão, somos chamados a examinar nossa própria fé e nossa disposição de defender a verdade, mesmo quando é impopular ou perigosa. Somos lembrados de que a jornada cristã não está isenta de suas provações e tribulações, mas também é marcada pela presença e poder do Espírito Santo, que nos fortalece e sustenta em nosso testemunho. A vida e a morte de Estêvão nos desafiam a viver corajosamente para Cristo, a falar a verdade em amor e a estender graça e perdão aos outros, mesmo diante da perseguição.