Compreender questões espirituais é um empreendimento profundo e muitas vezes desafiador para muitos crentes. O Apóstolo Paulo, em sua primeira carta aos Coríntios, fornece orientações ponderadas sobre este tópico em 1 Coríntios 2:14-15. Esses versículos dizem:
"A pessoa sem o Espírito não aceita as coisas que vêm do Espírito de Deus, mas as considera loucura, e não pode entendê-las porque elas são discernidas apenas pelo Espírito. A pessoa com o Espírito faz julgamentos sobre todas as coisas, mas tal pessoa não está sujeita a julgamentos meramente humanos." (1 Coríntios 2:14-15, NVI)
Nestes versículos, Paulo aborda a dicotomia entre a pessoa natural e a pessoa espiritual, oferecendo insights significativos sobre a compreensão de questões espirituais.
Primeiro, Paulo destaca as limitações da pessoa natural—alguém que não possui o Espírito Santo. Ele explica que tal pessoa não aceita as coisas que vêm do Espírito de Deus. A palavra grega usada aqui para "aceitar" (δέχομαι, dechomai) implica um acolhimento ou recebimento com aprovação. A pessoa natural, portanto, não só falha em compreender as verdades espirituais, mas também as rejeita. Essa rejeição não é meramente intelectual, mas está enraizada em uma incapacidade espiritual mais profunda. Paulo elabora que essas questões espirituais são consideradas loucura pela pessoa natural. O termo "loucura" (μωρία, moria) aqui transmite um senso de absurdo ou insensatez. Para a mente natural, as verdades de Deus parecem irracionais e sem sentido.
Paulo explica ainda a razão por trás dessa rejeição: "elas são discernidas apenas pelo Espírito." A palavra "discernidas" (ἀνακρίνω, anakrinō) significa examinar ou julgar. As verdades espirituais requerem um tipo de discernimento que está além das faculdades naturais dos seres humanos. Esse discernimento é um processo espiritual, facilitado pelo Espírito Santo. Sem o Espírito, não se pode perceber ou entender as profundezas da sabedoria e revelação de Deus. Esse conceito é ecoado em outras partes das Escrituras, como em João 14:26, onde Jesus promete que o Espírito Santo ensinará e lembrará os crentes de tudo o que Ele disse.
Em contraste, Paulo descreve a pessoa espiritual como alguém que "faz julgamentos sobre todas as coisas." A pessoa espiritual, habitada pelo Espírito Santo, possui a capacidade de avaliar e entender questões espirituais. Esse julgamento não é baseado na sabedoria humana, mas na sabedoria impartida pelo Espírito. A pessoa espiritual, portanto, é capaz de perceber as verdades mais profundas de Deus e viver de acordo com elas. Isso não implica que a pessoa espiritual seja infalível, mas que ela tem acesso à sabedoria divina que guia sua compreensão e ações.
Paulo acrescenta que a pessoa espiritual "não está sujeita a julgamentos meramente humanos." Esta declaração sublinha a ideia de que o discernimento da pessoa espiritual transcende a sabedoria e a crítica humanas. Enquanto a pessoa natural pode julgar e entender mal as ações e crenças da pessoa espiritual, esses julgamentos são limitados e não têm autoridade final. A vida da pessoa espiritual está orientada para a sabedoria e o julgamento de Deus, que supera a compreensão humana.
Para aprofundar isso, é essencial considerar o contexto mais amplo de 1 Coríntios 2. Paulo está abordando as divisões dentro da igreja de Corinto, que eram em parte devido a diferentes visões sobre sabedoria e maturidade espiritual. Ele contrasta a sabedoria humana com a sabedoria de Deus, que é revelada pelo Espírito. Paulo enfatiza que a verdadeira sabedoria vem de Deus e é revelada àqueles que são espiritualmente maduros. Essa sabedoria não se trata de eloquência ou intelecto humano, mas de entender o mistério da salvação de Deus através de Jesus Cristo.
Em 1 Coríntios 2:9-10, Paulo cita Isaías 64:4, dizendo, "O que nenhum olho viu, o que nenhum ouvido ouviu, e o que nenhuma mente humana concebeu—essas são as coisas que Deus preparou para aqueles que o amam—essas são as coisas que Deus nos revelou pelo seu Espírito." Esta passagem destaca que a sabedoria e os planos de Deus estão além da compreensão humana e são revelados pelo Espírito àqueles que o amam. O Espírito Santo desempenha um papel crucial em iluminar os corações e mentes dos crentes, permitindo-lhes compreender as verdades profundas de Deus.
A orientação oferecida em 1 Coríntios 2:14-15 tem implicações significativas para os crentes hoje. Ela enfatiza a necessidade do Espírito Santo para entender questões espirituais. Sem o Espírito, não se pode realmente compreender as profundezas da sabedoria de Deus. Isso sublinha a importância de cultivar um relacionamento com o Espírito Santo, buscar sua orientação e estar aberto ao seu ensino.
Além disso, esses versículos desafiam os crentes a não confiarem em seu próprio entendimento ou na sabedoria humana, mas na sabedoria que vem de Deus. Provérbios 3:5-6 ecoa esse sentimento: "Confie no Senhor de todo o seu coração e não se apoie em seu próprio entendimento; em todos os seus caminhos, submeta-se a ele, e ele endireitará os seus caminhos." Confiar no Senhor e buscar sua sabedoria através do Espírito é crucial para o crescimento e compreensão espiritual.
Além disso, esses versículos oferecem conforto e segurança aos crentes que podem se sentir incompreendidos ou julgados por outros. O discernimento e as ações da pessoa espiritual são guiados pelo Espírito e não estão sujeitos a julgamentos meramente humanos. Isso encoraja os crentes a permanecerem firmes em sua fé e convicções, mesmo quando enfrentam oposição ou incompreensão do mundo.
Em conclusão, 1 Coríntios 2:14-15 fornece uma orientação profunda sobre a compreensão de questões espirituais. Ele destaca as limitações da pessoa natural e a necessidade do Espírito Santo para discernir as verdades espirituais. A pessoa espiritual, habitada pelo Espírito, é capaz de fazer julgamentos sobre todas as coisas e não está sujeita a julgamentos meramente humanos. Esses versículos enfatizam a importância de buscar a orientação do Espírito Santo, confiar na sabedoria de Deus e permanecer firme na fé, apesar da oposição. As palavras de Paulo nos lembram que a verdadeira compreensão das questões espirituais vem de um relacionamento profundo com o Espírito Santo, que revela as verdades profundas de Deus àqueles que o amam.