O capítulo 11 de Romanos é uma passagem profunda e complexa, rica em significado teológico e profundamente enraizada na história e no futuro tanto de Israel quanto dos crentes gentios. Neste capítulo, o apóstolo Paulo aborda a questão de saber se Deus rejeitou Seu povo, Israel, e explora a relação entre Israel e os gentios no plano redentor de Deus.
Para entender Romanos 11, é essencial compreender o contexto dos capítulos anteriores. Em Romanos 9-11, Paulo está lidando com o problema da incredulidade de Israel e a inclusão dos gentios no plano de salvação de Deus. Ele começa expressando sua profunda tristeza pela rejeição de Cristo por parte de Israel (Romanos 9:1-5) e explica que nem todos os descendentes de Israel fazem parte do verdadeiro Israel (Romanos 9:6-8). Ele então discute a soberania de Deus na eleição e Sua misericórdia (Romanos 9:14-24) e a justiça que vem pela fé (Romanos 10).
Em Romanos 11, Paulo continua essa discussão abordando a questão de saber se Deus rejeitou Seu povo. Ele responde enfaticamente no primeiro versículo:
"Pergunto, pois: Acaso Deus rejeitou o seu povo? De maneira nenhuma! Eu mesmo sou israelita, descendente de Abraão, da tribo de Benjamim." (Romanos 11:1, NVI)
Paulo usa a si mesmo como exemplo para mostrar que Deus não rejeitou completamente Seu povo. Ele é a prova viva de que ainda há um remanescente de Israel que acredita em Cristo. Este conceito de remanescente é crucial para entender o capítulo. Paulo explica que, assim como nos dias de Elias, quando Deus preservou um remanescente de 7.000 que não se ajoelharam diante de Baal (1 Reis 19:18), também no presente há um remanescente escolhido pela graça (Romanos 11:2-5).
Paulo então contrasta o remanescente com o resto de Israel, que foi endurecido (Romanos 11:7-10). Este endurecimento não é total ou permanente, mas serve a um propósito específico no plano de Deus. É um endurecimento parcial que veio sobre Israel até que o número completo dos gentios tenha entrado (Romanos 11:25). Esta ideia introduz o conceito da "plenitude dos gentios", que é um tema chave no capítulo.
Nos versículos 11-12, Paulo levanta outra questão: Será que Israel tropeçou para cair além da recuperação? Novamente, ele responde enfaticamente:
"Novamente pergunto: Será que eles tropeçaram para que caíssem definitivamente? De maneira nenhuma! Ao contrário, por causa da transgressão deles, a salvação chegou aos gentios para provocar ciúmes em Israel." (Romanos 11:11, NVI)
Paulo explica que a transgressão de Israel (sua rejeição de Cristo) levou à salvação dos gentios. Isso faz parte do plano misterioso e sábio de Deus. A inclusão dos gentios é destinada a provocar ciúmes em Israel e, em última análise, levar à sua salvação. Paulo vê um futuro para Israel, onde sua aceitação trará ainda maiores bênçãos ao mundo:
"Mas se a transgressão deles significa riqueza para o mundo, e a perda deles significa riqueza para os gentios, quanto maior riqueza trará a inclusão total deles!" (Romanos 11:12, NVI)
Paulo então usa a metáfora de uma oliveira para ilustrar a relação entre Israel e os gentios (Romanos 11:17-24). Nesta metáfora, os ramos naturais representam Israel, e os brotos de oliveira brava representam os gentios. Alguns dos ramos naturais foram quebrados por causa da incredulidade, e os brotos bravos foram enxertados entre os ramos restantes. Este enxerto dos gentios é uma imagem de sua inclusão nas bênçãos e promessas originalmente dadas a Israel.
No entanto, Paulo adverte os crentes gentios a não se tornarem arrogantes ou presunçosos sobre sua posição. Eles devem lembrar que não sustentam a raiz, mas a raiz os sustenta (Romanos 11:18). A raiz representa os patriarcas e as promessas feitas a eles. Paulo adverte os gentios a continuarem na fé e a não serem orgulhosos, pois se Deus não poupou os ramos naturais, Ele também não os poupará (Romanos 11:20-21).
Nos versículos 25-27, Paulo revela um mistério: Israel experimentou um endurecimento em parte até que o número completo dos gentios tenha entrado, e dessa forma, todo Israel será salvo. Esta declaração tem sido objeto de muito debate e interpretação. Alguns entendem "todo Israel" como a nação coletiva de Israel no futuro, enquanto outros interpretam como o número total dos eleitos, tanto judeus quanto gentios. Independentemente da interpretação, o ponto chave é que o plano de Deus inclui a salvação de Israel.
Paulo conclui esta seção com uma doxologia, louvando a sabedoria e o conhecimento de Deus:
"Ó profundidade da riqueza da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e inescrutáveis os seus caminhos! 'Quem conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro?' 'Quem primeiro lhe deu, para que ele o recompense?' Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre! Amém." (Romanos 11:33-36, NVI)
Esta doxologia reflete a admiração e o assombro de Paulo pelo plano redentor de Deus. Reconhece que os caminhos de Deus estão além da compreensão humana e que Seus juízos são insondáveis. É uma conclusão adequada para um capítulo que trata dos profundos mistérios das relações de Deus com Israel e os gentios.
Em resumo, o capítulo 11 de Romanos aborda a questão de saber se Deus rejeitou Israel e explica a relação entre Israel e os gentios no plano redentor de Deus. Paulo enfatiza que Deus não rejeitou completamente Seu povo, mas preservou um remanescente escolhido pela graça. O endurecimento de Israel é parcial e temporário, servindo ao propósito de trazer salvação aos gentios e, em última análise, levando à salvação de Israel. O capítulo destaca a sabedoria e a soberania de Deus em Seu plano redentor e chama à humildade e à fé tanto os crentes judeus quanto os gentios.