Como Mateus descreve a relação entre os novos ensinamentos de Jesus e a lei judaica?

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No Evangelho de Mateus, a relação entre os novos ensinamentos de Jesus e a lei judaica é retratada com profundo respeito e continuidade, mas com insights transformadores que cumprem e expandem a lei. Mateus, escrevendo principalmente para um público judeu, enfatiza Jesus como o cumprimento das profecias do Antigo Testamento e da Lei Mosaica, não sua abolição. Essa perspectiva é crucial para entender como os primeiros cristãos judeus viam os ensinamentos de Jesus em relação às suas crenças tradicionais.

Jesus e a Lei em Mateus

O Evangelho de Mateus começa com a genealogia de Jesus, estabelecendo Seu lugar de direito na herança judaica como descendente de Abraão e Davi (Mateus 1:1-17). Essa linhagem não é meramente histórica, mas teológica, sublinhando o papel de Jesus como o Messias esperado que vem não para destruir a fé judaica, mas para completar suas intenções mais profundas.

Um dos momentos cruciais em Mateus que aborda a relação entre os ensinamentos de Jesus e a lei judaica é o Sermão da Montanha, particularmente em Mateus 5:17-20. Aqui, Jesus declara explicitamente: "Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim para abolir, mas para cumprir." Esta declaração define o tom de como os ensinamentos de Jesus devem ser vistos—não como uma negação da lei, mas como seu cumprimento. A palavra grega usada para "cumprir" é "plēroō", que implica trazer à conclusão ou aperfeiçoar.

Jesus continua a intensificar a lei, apresentando um padrão mais elevado de justiça que se concentra no espírito, e não na letra da lei. Por exemplo, enquanto a lei ordena não matar, Jesus estende esse mandamento para proibir até mesmo a raiva com o irmão (Mateus 5:21-22). Da mesma forma, a lei diz para não cometer adultério, mas Jesus ensina que até mesmo olhar para uma mulher com desejo é cometer adultério no coração (Mateus 5:27-28). Esses ensinamentos não contradizem a lei; ao contrário, eles aprofundam a intenção por trás da lei, enfatizando a integridade moral e a pureza do coração.

Jesus como o Novo Moisés

Mateus também retrata Jesus como um novo Moisés. Assim como Moisés entregou a lei a Israel do Monte Sinai, Jesus entrega Seus novos ensinamentos da montanha (Sermão da Montanha). Este paralelo sublinha Jesus como um legislador e afirma a continuidade de Seus ensinamentos com a tradição judaica. Os cinco discursos em Mateus, que alguns estudiosos comparam aos cinco livros da Torá, reforçam ainda mais essa tipologia, apresentando Jesus como intérprete e cumpridor da lei.

Conflito com os Fariseus

Apesar de seu profundo respeito pela lei, Jesus frequentemente entra em conflito com os fariseus e outros líderes judeus, particularmente sobre sua interpretação da lei. Esses conflitos, detalhados ao longo de Mateus, frequentemente giram em torno de questões como a observância do sábado (Mateus 12:1-14) e a pureza ritual (Mateus 15:1-20). Nesses debates, Jesus critica os fariseus não por sua fidelidade à lei em si, mas por seu legalismo e hipocrisia, que obscurecem os propósitos mais profundos da lei. Por exemplo, quando os fariseus condenam Seus discípulos por colher grãos no sábado, Jesus contra-ataca enfatizando a intenção da lei de servir às necessidades da humanidade e à misericórdia de Deus (Mateus 12:7).

O Grande Mandamento

Em Mateus 22:34-40, quando perguntado sobre o maior mandamento da lei, Jesus responde com um resumo profundo: "Ame o Senhor, seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de toda a sua mente" e "Ame o seu próximo como a si mesmo." Esses mandamentos, enraizados em Deuteronômio 6:5 e Levítico 19:18, encapsulam a essência da lei. Ao priorizar esses mandamentos, Jesus sublinha que todas as observâncias legais devem levar ao amor e ser motivadas por ele, que une tudo em perfeita harmonia (Colossenses 3:14).

Conclusão

Em conclusão, a descrição de Mateus sobre a relação entre os ensinamentos de Jesus e a lei judaica é de cumprimento, profundo respeito e expansão transformadora. Jesus é retratado não como um antagonista da lei, mas como seu maior defensor e aquele que revela seu significado completo. Através de Sua vida e ensinamentos, Jesus demonstra que a adesão à lei não se trata de observância legalista, mas de uma justiça mais profunda e abrangente que surge do amor a Deus e ao próximo. Essa descrição teria sido particularmente convincente para o público judeu-cristão de Mateus, afirmando sua fé em Jesus como o Messias que sustenta e transcende a lei, guiando-os para uma nova compreensão de seu relacionamento de aliança com Deus.

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