A questão de saber se Jesus batizou alguém diretamente é um tópico fascinante e nuançado que nos convida a mergulhar profundamente nas escrituras do Novo Testamento, particularmente nos Evangelhos. Embora a resposta direta possa parecer evasiva à primeira vista, um exame mais detalhado dos textos bíblicos fornece clareza e insight sobre o papel de Jesus na prática do batismo.
No Evangelho de João, encontramos uma referência específica que aborda essa questão. João 4:1-2 afirma: "Ora, Jesus soube que os fariseus tinham ouvido dizer que ele estava ganhando e batizando mais discípulos do que João - embora, de fato, não fosse Jesus quem batizava, mas seus discípulos" (NVI). Esta passagem indica explicitamente que Jesus mesmo não realizava batismos; em vez disso, seus discípulos realizavam o ato de batizar.
Esta informação é significativa por várias razões. Em primeiro lugar, destaca o papel de Jesus como um professor e líder que delegava responsabilidades a seus seguidores. Ao capacitar seus discípulos para batizar, Jesus estava preparando-os para seus futuros papéis na igreja cristã primitiva, onde seriam responsáveis por espalhar seus ensinamentos e realizar batismos em seu nome. Esta delegação também enfatiza a natureza comunitária e participativa do movimento cristão primitivo, onde os seguidores de Jesus estavam ativamente envolvidos no trabalho ministerial.
Além disso, o fato de que Jesus não batizou ninguém diretamente pode ser visto como um reflexo de seu papel único no plano divino de salvação. A missão principal de Jesus não era realizar os atos rituais associados à observância religiosa, mas trazer o Reino de Deus através de sua vida, morte e ressurreição. O batismo, embora um sacramento importante, é um sinal da nova aliança e da identificação do crente com a morte e ressurreição de Cristo. Como Paulo escreve em Romanos 6:3-4: "Ou não sabeis que todos nós que fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte? Fomos, portanto, sepultados com ele pelo batismo na morte, para que, assim como Cristo foi ressuscitado dos mortos pela glória do Pai, também nós vivamos uma nova vida" (NVI).
O ato do batismo, portanto, simboliza a união do crente com Cristo e o poder transformador de sua ressurreição. Nesse contexto, o papel de Jesus não é realizar o batismo, mas ser aquele em quem os crentes são batizados. Sua vida, morte e ressurreição são a base sobre a qual o sacramento do batismo é construído.
Além disso, examinando o contexto mais amplo do ministério de Jesus, vemos que seu foco estava em ensinar, curar e proclamar as boas novas do Reino de Deus. Os Evangelhos estão repletos de relatos de Jesus pregando às multidões, curando os doentes e realizando milagres. Essas ações eram centrais para sua missão e serviam para revelar sua natureza divina e a vinda do Reino de Deus. Por exemplo, em Lucas 4:18-19, Jesus lê do rolo de Isaías na sinagoga e declara: "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para proclamar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos prisioneiros e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos, para proclamar o ano da graça do Senhor" (NVI). Esta proclamação encapsula a essência do ministério de Jesus e destaca seu foco na libertação espiritual e física.
Além disso, os relatos evangélicos do batismo de Jesus por João Batista fornecem uma visão adicional sobre sua relação com a prática do batismo. Em Mateus 3:13-17, lemos sobre Jesus vindo a João para ser batizado. Inicialmente, João hesita, dizendo: "Eu preciso ser batizado por você, e você vem a mim?" (Mateus 3:14, NVI). Jesus responde: "Deixe assim por enquanto; convém que assim façamos, para cumprir toda a justiça" (Mateus 3:15, NVI). Este evento é significativo porque marca o início do ministério público de Jesus e serve como uma poderosa afirmação de sua identidade como Filho de Deus. Os céus se abrem, o Espírito de Deus desce como uma pomba, e uma voz do céu declara: "Este é o meu Filho amado, em quem me agrado" (Mateus 3:17, NVI).
O batismo de Jesus por João significa sua identificação com a humanidade e sua disposição para cumprir toda a justiça. Também serve como um modelo para os crentes, demonstrando a importância do batismo como um ato de obediência e uma declaração pública de fé. No entanto, é importante notar que o batismo de Jesus é único, pois é acompanhado por uma afirmação divina e a unção do Espírito Santo, distinguindo-o como o Messias.
Em conclusão, embora os Evangelhos indiquem que Jesus não batizou ninguém diretamente, seu papel na prática do batismo é profundo e multifacetado. Ao delegar o ato de batizar a seus discípulos, Jesus os capacitou para o ministério e destacou a natureza comunitária do movimento cristão primitivo. Seu próprio batismo por João Batista serve como um poderoso modelo para os crentes e destaca sua identidade e missão únicas. Em última análise, a vida, morte e ressurreição de Jesus formam a base do sacramento do batismo, simbolizando a união do crente com Cristo e o poder transformador de sua ressurreição.