A questão de saber se Jesus bebeu vinho é uma que intrigou muitos crentes e estudiosos. O Novo Testamento fornece várias instâncias onde a interação de Jesus com o vinho é documentada, oferecendo uma visão sobre este aspecto de Sua vida e ministério. À medida que exploramos essas referências escriturais, fica claro que o vinho tinha tanto um significado simbólico quanto prático no contexto do tempo de Jesus e de Seus ensinamentos.
Primeiramente, é essencial reconhecer que o vinho era uma bebida comum no antigo Oriente Próximo, incluindo Israel. O processo de fermentação do suco de uva em vinho era uma prática bem estabelecida, e o vinho era frequentemente mais seguro para beber do que a água, que poderia estar contaminada. O vinho também era um elemento básico nos costumes religiosos e sociais judaicos, usado em várias celebrações, rituais e refeições diárias.
Uma das evidências mais convincentes de que Jesus bebeu vinho vem do relato da Última Ceia. Este evento, registrado nos quatro Evangelhos, é um momento crucial no ministério de Jesus. Durante a Última Ceia, Jesus compartilhou pão e vinho com Seus discípulos, instituindo o que os cristãos agora celebram como a Ceia do Senhor ou Comunhão. Em Mateus 26:27-29 (NVI), lemos:
"Em seguida, tomou um cálice, deu graças e o ofereceu aos discípulos, dizendo: 'Bebam dele todos vocês. Isto é o meu sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos, para perdão de pecados. Eu lhes digo que de agora em diante não beberei deste fruto da videira até aquele dia em que beberei o vinho novo com vocês no Reino de meu Pai.'"
Aqui, Jesus se refere explicitamente ao "fruto da videira", uma expressão comum judaica para vinho. Ele não apenas o compartilha com Seus discípulos, mas também o imbuí de um profundo significado teológico, simbolizando Seu sacrifício iminente e a nova aliança entre Deus e a humanidade. Esta passagem sugere fortemente que Jesus bebeu vinho durante esta refeição sagrada.
Outro exemplo notável é o casamento em Caná, conforme registrado em João 2:1-11. Este evento marca o primeiro milagre público de Jesus, onde Ele transformou água em vinho. A narrativa descreve como o anfitrião ficou sem vinho, e a mãe de Jesus, Maria, trouxe o problema à Sua atenção. Jesus então instruiu os servos a encherem seis jarros de pedra com água, que Ele milagrosamente transformou em vinho. O mestre de cerimônias até comentou sobre a qualidade do vinho, observando que era superior ao que havia sido servido anteriormente. Este milagre não apenas sublinha a autoridade divina de Jesus, mas também Sua disposição de participar de celebrações sociais onde o vinho era um elemento central.
Além disso, o uso do vinho por Jesus em Suas parábolas e ensinamentos indica ainda mais Sua familiaridade com ele. Por exemplo, em Mateus 9:17 (NVI), Jesus usa a imagem do vinho e dos odres para ilustrar uma verdade espiritual:
"Nem se põe vinho novo em odres velhos. Se o fizer, os odres se romperão; o vinho se derramará, e os odres se estragarão. Ao contrário, põe-se vinho novo em odres novos, e ambos se conservam."
Esta analogia teria sido facilmente compreendida por Seu público, que estava bem familiarizado com o processo de vinificação e a necessidade de usar odres novos para vinho fresco para evitar que se rompessem. A escolha de Jesus por tal imagem sugere que o vinho era uma parte familiar e aceita da vida cotidiana.
Além disso, em Lucas 7:33-34 (NVI), Jesus aborda a crítica que enfrentou por Seus hábitos alimentares e de bebida:
"Pois veio João Batista, que não comia pão nem bebia vinho, e vocês dizem: 'Ele tem demônio.' Veio o Filho do homem comendo e bebendo, e vocês dizem: 'Aí está um comilão e beberrão, amigo de publicanos e pecadores.'"
Nesta passagem, Jesus contrasta Seu estilo de vida com o de João Batista, que era conhecido por seu ascetismo. Jesus reconhece que Ele participava de comer e beber, o que incluía vinho, e destaca a crítica injusta que recebeu por isso. Isso confirma ainda mais que Jesus bebeu vinho como parte de Suas interações sociais normais.
O contexto cultural e religioso mais amplo do tempo de Jesus também apoia a noção de que Ele bebeu vinho. As festas judaicas, como a Páscoa, incluíam o consumo de vinho como parte das refeições cerimoniais. O Seder de Páscoa, que Jesus observou com Seus discípulos durante a Última Ceia, tradicionalmente envolve quatro copos de vinho, cada um simbolizando diferentes aspectos da história do Êxodo e da libertação de Israel do Egito. A participação de Jesus nesses costumes naturalmente incluiria beber vinho.
Também é importante considerar o papel simbólico do vinho na teologia bíblica. O vinho é frequentemente associado à alegria, celebração e às bênçãos de Deus. O Salmo 104:14-15 (NVI) captura lindamente este sentimento:
"Ele faz crescer a relva para o gado, e as plantas que o homem cultiva, para da terra tirar o alimento: o vinho, que alegra o coração do homem, o azeite, que lhe faz brilhar o rosto, e o pão, que sustenta o seu vigor."
O vinho, neste contexto, é visto como um presente de Deus que traz alegria e sustento. O uso do vinho por Jesus em Seus ensinamentos e milagres alinha-se com esta representação positiva, enfatizando a abundância e a alegria encontradas no reino de Deus.
No entanto, é crucial equilibrar este entendimento com os avisos bíblicos contra a embriaguez e o uso indevido do álcool. O apóstolo Paulo, em Efésios 5:18 (NVI), admoesta os crentes:
"Não se embriaguem com vinho, que leva à devassidão, mas deixem-se encher pelo Espírito."
Esta exortação reflete o ensino bíblico mais amplo de que, embora o vinho possa ser uma fonte de alegria e um símbolo das bênçãos de Deus, deve ser consumido com responsabilidade e moderação. O próprio exemplo de Jesus, como visto nos Evangelhos, não sugere consumo excessivo, mas sim uma abordagem equilibrada que honra a Deus e respeita as normas culturais de Seu tempo.
Em conclusão, as evidências do Novo Testamento apoiam fortemente a visão de que Jesus bebeu vinho. Sua participação na Última Ceia, Seu primeiro milagre em Caná, Seu uso do vinho em parábolas e o contexto cultural de Seu tempo apontam para esta conclusão. O vinho era uma parte integral da vida e prática religiosa judaica, e o envolvimento de Jesus com ele sublinha Sua plena participação na experiência humana, incluindo seus aspectos sociais e celebratórios. Como seguidores de Cristo, podemos olhar para Seu exemplo e ensinamentos para guiar nossa própria compreensão e uso do vinho, sempre com um olhar para honrar a Deus e amar nossos vizinhos.