A história de Barrabás é um episódio significativo na narrativa da Paixão de Jesus Cristo, aparecendo nos quatro Evangelhos canônicos: Mateus, Marcos, Lucas e João. O relato de Barrabás serve para destacar a injustiça do julgamento de Jesus e a inconstância da multidão, bem como o cumprimento do papel de Jesus como o Cordeiro sacrificial. Cada Evangelho apresenta a história com suas próprias nuances, contribuindo para uma compreensão mais completa deste momento crucial.
No Evangelho de Mateus, Barrabás é apresentado durante o julgamento de Jesus perante Pôncio Pilatos. A tradição de libertar um prisioneiro durante o festival da Páscoa é mencionada, e Pilatos oferece à multidão uma escolha entre Jesus e Barrabás. O povo, influenciado pelos principais sacerdotes e anciãos, escolhe Barrabás para ser libertado. Mateus 27:15-26 (ESV) relata:
"Ora, por ocasião da festa, o governador costumava soltar ao povo um prisioneiro, qualquer que eles quisessem. E tinham então um prisioneiro notório, chamado Barrabás. Quando, pois, estavam reunidos, Pilatos disse-lhes: 'Quem quereis que vos solte: Barrabás, ou Jesus, chamado Cristo?' Pois ele sabia que era por inveja que o haviam entregado. Além disso, enquanto estava sentado no tribunal, sua esposa mandou-lhe dizer: 'Não te envolvas com esse justo, porque hoje, em sonho, muito sofri por causa dele.' Mas os principais sacerdotes e os anciãos persuadiram a multidão a pedir Barrabás e destruir Jesus. O governador tornou a perguntar-lhes: 'Qual dos dois quereis que vos solte?' E eles disseram: 'Barrabás.' Pilatos disse-lhes: 'Que farei então de Jesus, chamado Cristo?' Todos disseram: 'Seja crucificado!' E ele disse: 'Por quê? Que mal fez ele?' Mas eles gritavam ainda mais: 'Seja crucificado!' Vendo Pilatos que nada conseguia, antes, pelo contrário, que um tumulto começava, tomou água e lavou as mãos diante da multidão, dizendo: 'Estou inocente do sangue deste homem; vede vós mesmos.' E todo o povo respondeu: 'O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos!' Então soltou-lhes Barrabás, e, tendo açoitado Jesus, entregou-o para ser crucificado."
No Evangelho de Marcos, a narrativa é semelhante, mas enfatiza o envolvimento de Barrabás em uma rebelião e assassinato. Marcos 15:6-15 (ESV) afirma:
"Ora, por ocasião da festa, ele costumava soltar-lhes um prisioneiro, qualquer que eles pedissem. E havia um homem chamado Barrabás, preso com os rebeldes que haviam cometido assassinato na insurreição. A multidão subiu e começou a pedir a Pilatos que fizesse como de costume. E ele respondeu-lhes, dizendo: 'Quereis que vos solte o Rei dos Judeus?' Pois ele percebia que era por inveja que os principais sacerdotes o haviam entregado. Mas os principais sacerdotes incitaram a multidão a pedir que lhes soltasse Barrabás em vez de Jesus. Pilatos tornou a perguntar-lhes: 'Que farei então do homem que chamais de Rei dos Judeus?' E eles gritaram novamente: 'Crucifica-o.' Pilatos disse-lhes: 'Por quê? Que mal fez ele?' Mas eles gritavam ainda mais: 'Crucifica-o.' Então Pilatos, querendo satisfazer a multidão, soltou-lhes Barrabás, e, tendo açoitado Jesus, entregou-o para ser crucificado."
O Evangelho de Lucas fornece contexto adicional, mencionando que tanto Herodes quanto Pilatos não encontraram culpa em Jesus que merecesse a morte. Lucas 23:13-25 (ESV) descreve:
"Pilatos então convocou os principais sacerdotes, os governantes e o povo, e disse-lhes: 'Trouxestes-me este homem como alguém que perverte o povo. E, depois de examiná-lo diante de vós, não encontrei nele culpa alguma das acusações que fazeis contra ele. Nem mesmo Herodes, pois ele o enviou de volta a nós. Vede, nada que mereça a morte foi feito por ele. Portanto, vou castigá-lo e soltá-lo.' Mas todos gritaram juntos: 'Fora com este homem, e solta-nos Barrabás'—um homem que havia sido lançado na prisão por uma insurreição começada na cidade e por assassinato. Pilatos dirigiu-se a eles mais uma vez, desejando soltar Jesus, mas eles continuaram gritando: 'Crucifica-o, crucifica-o!' Pela terceira vez ele disse-lhes: 'Por quê? Que mal fez ele? Não encontrei nele culpa alguma que mereça a morte. Portanto, vou castigá-lo e soltá-lo.' Mas eles insistiam, exigindo com altos gritos que ele fosse crucificado. E suas vozes prevaleceram. Então Pilatos decidiu que seu pedido fosse atendido. Ele soltou o homem que havia sido lançado na prisão por insurreição e assassinato, por quem eles pediram, mas entregou Jesus à vontade deles."
O Evangelho de João também inclui o relato de Barrabás, enfatizando a tensão política e a luta de Pilatos para apaziguar a multidão. João 18:38-40 (ESV) registra:
"Pilatos disse-lhe: 'O que é a verdade?' Depois de dizer isso, ele saiu novamente para os judeus e disse-lhes: 'Não encontro culpa nele. Mas tendes um costume de que eu vos solte um homem na Páscoa. Quereis, pois, que vos solte o Rei dos Judeus?' Eles gritaram novamente: 'Não este homem, mas Barrabás!' Ora, Barrabás era um ladrão."
A história de Barrabás é rica em significado teológico e simbólico. Barrabás, cujo nome significa "filho do pai", representa a natureza pecaminosa da humanidade e a escolha do povo de rejeitar o verdadeiro Filho do Pai, Jesus Cristo. A libertação de Barrabás e a condenação de Jesus ilustram a grande troca que está no coração do Evangelho: Jesus toma o lugar do pecador, suportando o castigo que merecemos, para que possamos ser libertados.
A escolha da multidão por Barrabás em vez de Jesus também reflete a tendência humana de escolher o familiar e o imediato em vez do divino e do eterno. Barrabás, um conhecido insurreicionista, pode ter representado a esperança de um messias político que libertaria Israel da opressão romana. Em contraste, o reino de Jesus não era deste mundo (João 18:36), e sua missão era trazer libertação espiritual e reconciliação com Deus.
A narrativa também destaca o papel dos líderes religiosos em manipular a multidão e orquestrar a morte de Jesus. Sua inveja e medo de perder o poder levaram-nos a rejeitar o Messias que há muito aguardavam. A aquiescência de Pilatos às exigências da multidão, apesar de seu reconhecimento da inocência de Jesus, destaca a covardia moral e a conveniência política que muitas vezes caracterizam a autoridade humana.
Na literatura cristã, a história de Barrabás foi explorada de várias maneiras. Por exemplo, em "O Desejado de Todas as Nações" de Ellen G. White, a autora reflete sobre o contraste entre Jesus e Barrabás e as profundas implicações da escolha da multidão. White escreve:
"Barrabás, o ladrão e assassino, era o representante de Satanás. Cristo era o representante de Deus. Cristo havia sido rejeitado; Barrabás havia sido escolhido. Barrabás, eles teriam. Ao fazer essa escolha, aceitaram aquele que desde o princípio era mentiroso e assassino. Satanás era seu líder. Como nação, rejeitaram Cristo e aceitaram Barrabás" (O Desejado de Todas as Nações, p. 738).
Essa interpretação enfatiza a batalha espiritual entre o bem e o mal e as consequências de rejeitar Cristo.
A história de Barrabás também convida à reflexão pessoal. Cada um de nós, em nossa pecaminosidade, é como Barrabás, merecendo punição, mas oferecido liberdade através do sacrifício de Jesus. A escolha diante da multidão é a mesma escolha diante de nós hoje: Aceitaremos Jesus como nosso Salvador e Rei, ou o rejeitaremos em favor de nossos próprios desejos e dos caminhos do mundo?
Em conclusão, as escrituras que mencionam Barrabás—Mateus 27:15-26, Marcos 15:6-15, Lucas 23:13-25 e João 18:38-40—proporcionam uma narrativa poderosa que ilustra a profundidade do amor de Deus e a gravidade do pecado humano. A libertação de Barrabás e a crucificação de Jesus encapsulam o coração da mensagem do Evangelho: Jesus, o inocente Cordeiro de Deus, toma o lugar do culpado, oferecendo redenção e reconciliação a todos que nele crerem.