O Evangelho de Mateus, o primeiro livro do Novo Testamento, ocupa um lugar significativo no cânone cristão, pois faz a ponte entre as profecias do Antigo Testamento e a vida e o ministério de Jesus Cristo. Composto principalmente para um público judeu, o Evangelho de Mateus é uma obra-prima teológica que busca apresentar Jesus como o Messias há muito esperado, o cumprimento das profecias do Antigo Testamento e o Rei soberano que inaugura o Reino dos Céus. Compreender a mensagem principal do Livro de Mateus requer que nos aprofundemos em seus temas, estrutura e no contexto cultural em que foi escrito.
Uma das mensagens centrais de Mateus é a representação de Jesus como o cumprimento das profecias do Antigo Testamento. Mateus liga meticulosamente os eventos da vida de Jesus às profecias das Escrituras Hebraicas, enfatizando que Jesus é o Messias esperado que cumpre as promessas de Deus a Israel. Isso é evidente desde o início do Evangelho, onde Mateus traça a genealogia de Jesus até Abraão e Davi (Mateus 1:1-17). Ao fazer isso, Mateus estabelece o lugar legítimo de Jesus na história judaica e Sua missão divina.
Ao longo do Evangelho, Mateus frequentemente usa a fórmula "Isso aconteceu para cumprir o que foi dito pelo profeta", sublinhando a continuidade entre a vida de Jesus e a tradição profética. Por exemplo, o nascimento virginal de Jesus é ligado a Isaías 7:14 (Mateus 1:22-23), e a fuga da família para o Egito é conectada a Oséias 11:1 (Mateus 2:15). Essas conexões servem para afirmar a identidade messiânica de Jesus e tranquilizar os leitores judeus sobre a legitimidade de Suas reivindicações.
Outro tema central em Mateus é o Reino dos Céus. Ao contrário dos outros evangelhos sinóticos, Mateus usa o termo "Reino dos Céus" em vez de "Reino de Deus", refletindo uma reverência judaica pelo nome divino. O Reino dos Céus é um motivo central nos ensinamentos de Jesus, e Mateus o apresenta como uma realidade presente e uma esperança futura.
No Sermão da Montanha (Mateus 5-7), Jesus delineia os padrões éticos e espirituais do Reino, enfatizando a justiça, a misericórdia e o poder transformador do governo de Deus nos corações dos crentes. As Bem-aventuranças (Mateus 5:3-12) encapsulam os valores do Reino, destacando a bem-aventurança daqueles que incorporam humildade, mansidão e fome de justiça.
As parábolas de Jesus ilustram ainda mais a natureza do Reino dos Céus. Em Mateus 13, Ele usa parábolas como a do semeador, a do grão de mostarda e a do fermento para transmitir o crescimento misterioso do Reino e seu impacto transformador no mundo. Essas parábolas revelam que o Reino é ao mesmo tempo oculto e revelado, pequeno mas poderoso, presente mas aguardando plena consumação.
Mateus também apresenta Jesus como o novo Moisés, uma figura que conduz Seu povo a um novo relacionamento de aliança com Deus. Esse paralelo é evidente na estrutura do Evangelho, que é organizado em cinco discursos, espelhando os cinco livros da Torá. Esses discursos incluem o Sermão da Montanha (Mateus 5-7), o Discurso Missionário (Mateus 10), as Parábolas do Reino (Mateus 13), o Discurso Comunitário (Mateus 18) e o Discurso do Monte das Oliveiras (Mateus 24-25).
Cada discurso revela aspectos do ensino e autoridade de Jesus, reforçando Seu papel como legislador e mestre. No Sermão da Montanha, Jesus reinterpreta a Lei Mosaica, enfatizando seu espírito em vez de sua letra. Ele declara: "Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim para abolir, mas para cumprir" (Mateus 5:17). Esse cumprimento não é meramente uma continuação, mas uma transformação radical, pois Jesus chama Seus seguidores a um padrão mais elevado de justiça que excede o dos escribas e fariseus.
O Evangelho de Mateus enfatiza a autoridade de Jesus sobre toda a criação. Sua autoridade é demonstrada através de Seus ensinamentos, milagres e, em última análise, Sua ressurreição. Desde acalmar tempestades até curar os doentes, os atos milagrosos de Jesus servem como sinais de Sua autoridade divina e Sua missão compassiva de restaurar e redimir.
Além disso, Mateus destaca a autoridade de Jesus na Grande Comissão, onde o Cristo ressuscitado ordena a Seus discípulos que "vão e façam discípulos de todas as nações" (Mateus 28:19). Essa comissão sublinha o alcance universal da missão de Jesus e a natureza inclusiva do Reino dos Céus. A conclusão do Evangelho com a Grande Comissão reflete a transição do ministério terreno de Jesus para a missão contínua da Igreja, capacitada pelo Espírito Santo.
O discipulado é outro tema chave no Evangelho de Mateus. Jesus chama indivíduos a segui-Lo, ensinando-os a viver de acordo com os valores do Reino. O discipulado em Mateus envolve um compromisso radical com Jesus, caracterizado pela abnegação, tomar a própria cruz e disposição para sofrer por causa do Evangelho (Mateus 16:24-25).
O Evangelho também aborda o custo do discipulado, como visto no encontro do jovem rico com Jesus (Mateus 19:16-22). Aqui, Jesus desafia o jovem a vender seus bens e segui-Lo, destacando a necessidade de priorizar o Reino acima de tudo. Esse chamado ao discipulado radical ressoa ao longo do Evangelho, convidando os leitores a abraçar uma vida de serviço sacrificial e devoção inabalável a Cristo.
O Evangelho de Mateus também retrata o crescente conflito entre Jesus e as autoridades religiosas de Sua época. Os escribas e fariseus são frequentemente retratados como antagonistas que se opõem à mensagem de Jesus e questionam Sua autoridade. Esse conflito atinge seu clímax na narrativa da Paixão, onde os líderes religiosos conspiram para prender e crucificar Jesus.
A representação desse conflito por Mateus serve para destacar a tensão entre a antiga ordem religiosa e a nova aliança inaugurada por Jesus. A rejeição de Jesus pelos líderes religiosos sublinha a trágica ironia de seu fracasso em reconhecer o Messias que há muito aguardavam. No entanto, essa rejeição também cumpre o plano redentor de Deus, pois a morte e ressurreição de Jesus abrem caminho para a salvação de toda a humanidade.
Embora Mateus seja dirigido principalmente a um público judeu, ele também enfatiza a inclusividade da mensagem do Evangelho. A genealogia de Jesus inclui mulheres gentias como Raabe e Rute, prenunciando o alcance universal do Reino. Além disso, a visita dos Magos (Mateus 2:1-12) e a fé da mulher cananeia (Mateus 15:21-28) ilustram a quebra de barreiras étnicas e culturais no Reino dos Céus.
A conclusão do Evangelho com a Grande Comissão reforça ainda mais o chamado para fazer discípulos de todas as nações, afirmando a inclusividade e universalidade da missão de Jesus. Essa mensagem de inclusividade desafia os leitores a abraçar a diversidade do Reino e a estender o amor e a graça de Cristo a todas as pessoas, independentemente de sua origem ou status.
A mensagem principal do Livro de Mateus é uma proclamação multifacetada de Jesus como o Messias, o cumprimento das profecias do Antigo Testamento e o inaugurador do Reino dos Céus. Através de sua rica tapeçaria de temas, Mateus apresenta um retrato convincente de Jesus como o mestre autoritário, curador compassivo e Rei soberano que chama Seus seguidores ao discipulado radical e à participação em Sua missão redentora. O Evangelho convida os leitores a reconhecer a identidade de Jesus, abraçar os valores do Reino e viver sua fé em um mundo que desesperadamente precisa do poder transformador do Evangelho.