O relato dos santos sendo ressuscitados no momento da morte de Jesus é uma das passagens mais intrigantes e misteriosas do Novo Testamento. Este evento é registrado exclusivamente no Evangelho de Mateus:
"E eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo. E a terra tremeu, e as rochas se partiram. Os túmulos também foram abertos. E muitos corpos dos santos que haviam adormecido foram ressuscitados, e saindo dos túmulos após a sua ressurreição, entraram na cidade santa e apareceram a muitos." (Mateus 27:51-53, ESV)
Esta passagem levanta várias questões: Quem eram esses santos? O que exatamente aconteceu com eles? E por que este evento é significativo?
O termo "santos" neste contexto refere-se a pessoas santas que haviam morrido antes da crucificação de Jesus. A palavra grega usada aqui é "hagios", que é comumente traduzida como "santos" ou "santos". Esses indivíduos provavelmente eram seguidores fiéis de Deus, possivelmente judeus devotos que viveram vidas justas de acordo com a Lei do Antigo Testamento. Embora o texto não forneça nomes específicos, é razoável especular que esses poderiam ter incluído figuras reverenciadas da história de Israel, como profetas, patriarcas ou outros indivíduos justos notáveis.
A ideia de santos sendo ressuscitados alinha-se com as crenças judaicas sobre a ressurreição dos mortos, um conceito bem estabelecido na escatologia judaica. Por exemplo, o profeta Daniel escreve sobre uma futura ressurreição:
"E muitos dos que dormem no pó da terra acordarão, uns para a vida eterna, e outros para a vergonha e desprezo eterno." (Daniel 12:2, ESV)
O Evangelho de Mateus nos diz que esses santos foram ressuscitados dos mortos no momento da morte de Jesus, mas não saíram de seus túmulos até depois de Sua ressurreição. Este detalhe é crucial porque destaca a primazia da ressurreição de Jesus. Jesus é descrito como as "primícias dos que dormiram" (1 Coríntios 15:20, ESV), indicando que Sua ressurreição é o precursor e a garantia da futura ressurreição de todos os crentes.
Uma vez que esses santos foram ressuscitados, eles foram para Jerusalém e "apareceram a muitos". Isso implica que sua ressurreição não foi meramente um evento espiritual, mas envolveu corpos físicos, muito parecido com o corpo ressuscitado de Jesus, que podia ser tocado e visto (Lucas 24:39). A aparição dos santos em Jerusalém teria servido como um poderoso testemunho da realidade da vitória de Jesus sobre a morte e da inauguração da nova aliança.
No entanto, o texto não fornece mais detalhes sobre o que aconteceu com esses santos ressuscitados depois. Alguns teólogos especulam que eles podem ter ascendido ao céu de maneira semelhante à ascensão de Jesus, mas isso permanece conjectura. O foco principal da narrativa do Evangelho é destacar a natureza milagrosa da ressurreição de Jesus e seu impacto imediato, em vez de fornecer um relato detalhado do destino subsequente dos santos.
A ressurreição dos santos na morte de Jesus carrega profundas implicações teológicas. Em primeiro lugar, serve como um sinal dramático de que a crucificação e ressurreição de Jesus têm significado cósmico. O rasgar do véu do templo, o terremoto e a ressurreição dos santos coletivamente significam a quebra das barreiras entre Deus e a humanidade. O véu do templo, que separava o Santo dos Santos do resto do templo, representava a separação entre um Deus santo e a humanidade pecadora. Seu rasgar simboliza que através do sacrifício de Jesus, o acesso a Deus agora está disponível para todos.
Em segundo lugar, a ressurreição dos santos é um prenúncio da ressurreição geral que é prometida a todos os crentes. O Apóstolo Paulo elabora sobre isso em suas cartas, particularmente em 1 Coríntios 15, onde discute a ressurreição dos mortos como um alicerce da esperança cristã. O evento no Evangelho de Mateus serve como uma demonstração tangível dessa esperança, mostrando que o poder da morte foi quebrado.
Em terceiro lugar, este evento destaca a interconexão da ressurreição de Jesus com a narrativa mais ampla do plano redentor de Deus. A ressurreição dos santos liga a obra de Jesus na cruz às promessas feitas ao longo do Antigo Testamento. Mostra que a morte e ressurreição de Jesus não são eventos isolados, mas estão profundamente enraizados na história e no futuro do povo de Deus.
Do ponto de vista histórico, o relato dos santos ressuscitados levanta questões sobre sua verificabilidade. Críticos podem argumentar que este evento carece de corroboração de outras fontes históricas, incluindo os outros Evangelhos. No entanto, a singularidade do relato de Mateus não necessariamente mina sua credibilidade. Cada escritor do Evangelho tinha um ênfase teológica específica e público, o que influenciou os detalhes que escolheram incluir.
Além disso, a disposição da comunidade cristã primitiva em incluir uma afirmação tão surpreendente em seus textos sagrados sugere uma forte convicção em sua veracidade. A ressurreição dos santos teria sido um evento verificável para aqueles que o testemunharam, dando credibilidade à narrativa geral da ressurreição. Também vale a pena notar que os primeiros cristãos estavam dispostos a enfrentar perseguição e até a morte por suas crenças, indicando uma confiança profunda na veracidade dos relatos da ressurreição.
A ressurreição dos santos no momento da morte de Jesus é um evento profundamente significativo que destaca o poder transformador da crucificação e ressurreição de Jesus. Embora as identidades e o destino final desses santos permaneçam envoltos em mistério, sua aparição em Jerusalém serve como um poderoso testemunho da realidade da vitória de Jesus sobre a morte e da inauguração da nova aliança. Este evento não só cumpre as esperanças escatológicas judaicas, mas também fornece um prenúncio da futura ressurreição prometida a todos os crentes. Como tal, é uma afirmação convincente da verdade histórica e teológica da narrativa da ressurreição.