O problema do mal, particularmente por que as pessoas machucam outras sem razão, é uma das questões mais profundas e desafiadoras na teologia e na filosofia. Como pastor cristão não denominacional, abordo essa questão com um profundo senso de humildade, reconhecendo que, embora possamos fornecer insights baseados nas Escrituras e no pensamento cristão, a compreensão completa do mal e do sofrimento humano é, em última análise, um mistério conhecido plenamente apenas por Deus.
De uma perspectiva bíblica, a raiz de por que as pessoas machucam outras sem razão pode ser rastreada até a natureza do pecado e a queda da humanidade. No início, Deus criou um mundo que era "muito bom" (Gênesis 1:31). No entanto, com a desobediência de Adão e Eva no Jardim do Éden, o pecado entrou no mundo (Gênesis 3). Esse pecado original trouxe uma ruptura fundamental na natureza humana e no mundo em geral. Como Paulo escreve em Romanos 5:12, "Portanto, assim como o pecado entrou no mundo por um homem, e a morte pelo pecado, e dessa forma a morte veio a todos os homens, porque todos pecaram".
O pecado não é apenas uma ação, mas uma condição que afeta todos os aspectos da vida humana. Ele distorce nossos desejos, nossos relacionamentos e nossa compreensão do que é bom. Jeremias 17:9 descreve de forma pungente o coração humano: "O coração é mais enganoso que qualquer outra coisa e incurável. Quem pode entendê-lo?" Essa enganosidade do coração pode levar as pessoas a agir de maneiras prejudiciais aos outros, mesmo sem razão aparente.
Além disso, a Bíblia fala da realidade da guerra espiritual. Efésios 6:12 nos lembra: "Pois a nossa luta não é contra carne e sangue, mas contra os governantes, contra as autoridades, contra os poderes deste mundo tenebroso e contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais." Existem forças do mal que buscam influenciar o comportamento humano e afastar as pessoas da vontade de Deus. Essas forças espirituais podem exacerbar a ruptura na natureza humana, levando a atos de dano e violência sem sentido.
No entanto, ao reconhecer a influência pervasiva do pecado e do mal, também é importante afirmar a dignidade e o valor inerentes de cada ser humano. Cada pessoa é feita à imagem de Deus (Gênesis 1:27), e essa imagem, embora manchada pelo pecado, permanece um aspecto fundamental de nossa identidade. A capacidade para o grande bem, amor e compaixão também reside dentro de cada pessoa. A tensão entre nossa bondade criada e nossa natureza caída é um tema central na antropologia cristã.
Ao tentar entender por que as pessoas machucam outras sem razão, também devemos considerar o papel do livre-arbítrio. Deus deu aos humanos a liberdade de escolher suas ações. Essa liberdade é essencial para o amor genuíno e a responsabilidade moral, mas também permite a possibilidade de escolher o mal. C.S. Lewis, em seu livro "O Problema do Sofrimento", explica: "Tente excluir a possibilidade de sofrimento que a ordem da natureza e a existência de vontades livres envolvem, e você descobrirá que excluiu a própria vida." O mau uso do livre-arbítrio pode levar a ações que causam dano aos outros.
No entanto, a existência do livre-arbítrio e a presença do pecado não significam que Deus seja indiferente ao sofrimento humano. A Bíblia revela um Deus profundamente compassivo e que entra em nosso sofrimento. Na pessoa de Jesus Cristo, Deus assumiu a carne humana e experimentou toda a gama de sofrimento e mal humano. Isaías 53:3 descreve o Messias como "um homem de dores, e familiarizado com o sofrimento." A crucificação de Jesus é a demonstração máxima da solidariedade de Deus com aqueles que sofrem injustamente. Na cruz, Jesus carregou o peso de todo o pecado e mal humano, oferecendo redenção e esperança.
Além disso, a ressurreição de Jesus é um poderoso testemunho da vitória de Deus sobre o mal. Embora o mal e o sofrimento sejam reais e presentes no mundo, eles não têm a palavra final. Apocalipse 21:4 oferece uma visão da esperança final: "Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem luto, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou." Essa promessa escatológica nos assegura que Deus está trabalhando para um futuro onde o mal e o sofrimento não existirão mais.
Enquanto isso, os cristãos são chamados a ser agentes do amor e da justiça de Deus no mundo. Somos chamados a amar nossos vizinhos como a nós mesmos (Mateus 22:39) e a buscar a justiça, amar a misericórdia e andar humildemente com nosso Deus (Miquéias 6:8). Quando encontramos atos de dano sem sentido, devemos responder com compaixão, buscando aliviar o sofrimento e promover a cura e a reconciliação.
A questão de por que as pessoas machucam outras sem razão também nos convida a refletir sobre nossos próprios corações e ações. Jesus ensina em Mateus 7:3-5: "Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho? Como você pode dizer ao seu irmão: 'Deixe-me tirar o cisco do seu olho', quando há uma viga no seu próprio olho? Hipócrita! Tire primeiro a viga do seu próprio olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão." Esse ensinamento nos desafia a examinar nossas próprias vidas, arrepender-nos de nossos próprios pecados e buscar viver de uma maneira que reflita o amor e a justiça de Deus.
Além disso, a comunidade de fé desempenha um papel crucial na abordagem do problema do mal. A igreja é chamada a ser um lugar de refúgio e cura, onde as pessoas podem encontrar apoio e encorajamento. Hebreus 10:24-25 exorta os crentes: "E consideremos uns aos outros para nos incentivarmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas encorajemo-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês veem que se aproxima o Dia." No contexto de uma comunidade amorosa e solidária, os indivíduos podem encontrar a força para superar as influências do pecado e do mal.
Em resumo, a questão de por que as pessoas machucam outras sem razão é profundamente complexa e multifacetada. Envolve as realidades do pecado, do livre-arbítrio, da guerra espiritual e da ruptura da condição humana. No entanto, também nos convida a lembrar a dignidade inerente de cada pessoa, o trabalho redentor de Cristo e a esperança de um futuro onde o mal não existirá mais. Como cristãos, somos chamados a responder a esse problema com compaixão, justiça, autorreflexão e um compromisso de viver o amor de Deus em nossos relacionamentos e comunidades.