A questão de apoiar Israel ou Palestina é um problema complexo e multifacetado que toca em teologia, ética, história e geopolítica contemporânea. A Bíblia, como o texto sagrado do Cristianismo, oferece várias perspectivas que podem informar a compreensão de um cristão sobre este assunto. No entanto, é importante abordar este tópico com humildade, reconhecendo a diversidade de opiniões dentro da comunidade cristã e a sensibilidade do assunto.
De uma perspectiva bíblica, a terra de Israel tem uma importância teológica significativa. O Antigo Testamento, particularmente a Torá, relata a aliança de Deus com Abraão, prometendo a ele e a seus descendentes a terra de Canaã (Gênesis 12:1-3, 15:18-21). Esta aliança é reiterada a Isaac e Jacó, estabelecendo uma conexão divina entre o povo judeu e a terra de Israel. A narrativa do êxodo do Egito e a conquista de Canaã sob Josué solidificam ainda mais essa conexão (Êxodo 3:8, Josué 1:2-6).
Os profetas também falam da restauração de Israel. Por exemplo, o livro de Ezequiel contém visões do retorno do povo judeu à sua terra e da reconstrução do templo (Ezequiel 37:21-28). Essas profecias foram interpretadas por alguns cristãos como tendo relevância contemporânea, especialmente à luz do estabelecimento do moderno estado de Israel em 1948.
No Novo Testamento, o ministério de Jesus ocorre dentro da terra histórica de Israel, e ele se identifica como o cumprimento das profecias do Antigo Testamento (Mateus 5:17-18). No entanto, Jesus também redefine o conceito de reino de Deus, enfatizando um reino espiritual em vez de territorial (Lucas 17:20-21, João 18:36). O apóstolo Paulo expande ainda mais essa ideia, ensinando que em Cristo não há judeu nem gentio, mas todos são um (Gálatas 3:28). Essa mudança teológica sugere que o foco da fé cristã não está em um pedaço específico de terra, mas na comunidade espiritual de crentes.
Dadas essas bases bíblicas, como um cristão deve abordar o conflito político moderno entre Israel e Palestina? É essencial reconhecer que a Bíblia não fornece instruções explícitas para situações políticas contemporâneas. Em vez disso, oferece princípios que podem guiar nosso pensamento e ações.
Primeiro, a Bíblia clama por justiça e paz. O profeta Miquéias declara famosamente: "Ele te mostrou, ó mortal, o que é bom. E o que o Senhor exige de ti? Que pratiques a justiça, ames a misericórdia e andes humildemente com o teu Deus" (Miquéias 6:8). Da mesma forma, os ensinamentos de Jesus no Sermão da Montanha enfatizam a pacificação e a reconciliação (Mateus 5:9, 5:23-24). Esses princípios sugerem que os cristãos devem buscar soluções que promovam justiça e paz para todas as pessoas envolvidas no conflito.
Segundo, a Bíblia enfatiza o amor ao próximo. Quando perguntado sobre o maior mandamento, Jesus responde: "Ame o Senhor, seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de toda a sua mente. Este é o primeiro e maior mandamento. E o segundo é semelhante a ele: Ame o seu próximo como a si mesmo" (Mateus 22:37-39). Na parábola do Bom Samaritano, Jesus ilustra que nosso próximo inclui aqueles que são diferentes de nós, até mesmo aqueles que podemos considerar inimigos (Lucas 10:25-37). Este ensinamento desafia os cristãos a mostrar compaixão e empatia tanto pelos israelenses quanto pelos palestinos, reconhecendo sua humanidade compartilhada e o sofrimento experimentado por ambos os lados.
Terceiro, a Bíblia clama por oração e intercessão. O apóstolo Paulo exorta os crentes a orar por todas as pessoas, incluindo aquelas em posições de autoridade, para que possamos viver vidas pacíficas e tranquilas (1 Timóteo 2:1-2). Orar pela paz no Oriente Médio, pela sabedoria dos líderes e pelo bem-estar de todos os indivíduos afetados pelo conflito é uma maneira de os cristãos participarem ativamente na busca de uma resolução.
Além desses princípios bíblicos, é valioso considerar insights da literatura e do pensamento cristão. Por exemplo, Dietrich Bonhoeffer, um teólogo e pastor alemão, escreveu extensivamente sobre a ética da paz e da justiça. Em seu livro "O Custo do Discipulado", Bonhoeffer enfatiza a importância de viver os ensinamentos de Jesus, mesmo em situações difíceis e complexas. Sua vida e escritos nos lembram que seguir a Cristo muitas vezes requer coragem e um compromisso com a justiça, mesmo quando é custoso.
Além disso, o conceito de teoria da "Guerra Justa", desenvolvido por pensadores cristãos primitivos como Agostinho e mais tarde por Tomás de Aquino, fornece uma estrutura para avaliar a moralidade do conflito. Embora essa teoria aborde principalmente a ética da guerra, seus princípios—como a necessidade de uma causa justa, proporcionalidade e proteção de não combatentes—também podem informar nossa abordagem para apoiar ou se opor a ações e políticas políticas.
Em última análise, a questão de apoiar Israel ou Palestina não é uma que possa ser respondida de forma definitiva por uma única passagem bíblica ou princípio teológico. Requer consideração cuidadosa do contexto histórico, das realidades atuais no terreno e das implicações éticas de várias ações. Os cristãos são chamados a se envolver com essa questão de forma pensativa, orante e com um compromisso com a justiça e a paz.
Em termos práticos, isso pode significar advogar por políticas que promovam uma solução de dois estados, apoiar esforços humanitários que ajudem tanto israelenses quanto palestinos e se engajar em diálogo com indivíduos e comunidades de ambos os lados do conflito. Também significa estar disposto a ouvir e aprender com aqueles que são diretamente afetados pela situação, reconhecendo que nossa compreensão é sempre limitada e que a verdadeira paz requer a participação e cooperação de todas as partes envolvidas.
Em conclusão, enquanto a Bíblia fornece uma base para entender a importância teológica da terra de Israel e oferece princípios para buscar justiça e paz, ela não prescreve uma posição política específica sobre o conflito moderno entre Israel e Palestina. Os cristãos são chamados a navegar por essa questão complexa com um compromisso com o amor, a justiça e a pacificação, buscando soluções que honrem a dignidade e os direitos de todas as pessoas envolvidas.